Crise mística ou vocação autoritária?

Cavaco Silva não gosta de deixar cair os amigos. O caso Dias Loureiro é eloquente. Só lhe fica bem, ainda que, apesar da impoluta seriedade, possa ver-se confrontado com injustos ataques em caso de recandidatura.

Ultimamente há quem alvitre que não costuma ser muito feliz nas escolhas. Os factos parecem demonstrá-lo. Os prejuízos pecuniários, pessoais e da família, volatilizados na Sociedade Lusa de Negócios (SLN), de que se lhe ouviram queixumes sem uma única acusação pessoal, revela como protege os amigos, mesmo os infiéis.

O que Cavaco não pode continuar a fazer, é entrar na guerrilha partidária e arruinar o respeito que o cargo exige. Reincidir nas críticas ao Governo e à AR é chamar sobre si a animosidade dos que defendem democraticamente a separação dos poderes.

A reacção de «estupefacção» pela saída de João Lobo Antunes do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida» (CNECV), que acabou o mandato, é uma intolerável crítica à legítima decisão do Conselho de Ministros de não o reconduzir.

Sabe-se que Cavaco é amigo do peito e da hóstia de João Lobo Antunes, seu mandatário presidencial, como, aliás, o tinha sido de Jorge Sampaio. João Lobo Antunes e Daniel Serrão são considerados os expoentes máximos do conservadorismo católico que há muitos anos confiscou o CNECV. O PR não pode ser um fiel zelador da religião que professa ainda que a salvação da alma o apoquente.

Pode compreender-se a reacção do presidente da comissão de honra para a canonização de Nuno Álvares Pereira, após a brilhante cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, com óleo de fritar peixe, mas não se aceita que o Presidente da República critique uma legítima decisão do Conselho de Ministros e, muito menos, que à isenção do cargo que exerce sobreponha a beata militância do prosélito.

Basta o mal que tem feito ao país condicionando as decisões macroeconómicas com que o Governo precisa de relançar a economia.

Comentários

Anónimo disse…
Muito bem! abraço
À medida que se vão aproximando as eleições, Cavaco mostra-se cada vez menos PR e cada vez mais chefe supremo do PSD!
As suas declarações é que causam estupefacção. O que diria ele se Sócrates, perante um veto presidencial de uma lei, se declarasse "estupefacto" por tal veto?
AHP:

Tenho pena que o actual PR não esteja à altura dos seus antecessores.

É a vida.
contradicoes disse…
Ele com as atitudes que vai assumindo numa demonstração de proteccionismo do partido onde milita, vai afastando cada vez mais alguns dos eleitores que nele votaram. Quase me arriscava a afirmar que este será o único PR que não vai conseguir um 2º. mandato, mas isso por culpa própria.

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