Legislativas 2009. Parabéns Sócrates
O grande derrotado desta noite é Cavaco Silva. A interferência no processo eleitoral que agora terminou, de forma desafortunada ou deliberadamente, foi conduzido por si e pelo seu assessor Fernando Lima, mas a maior vítima é Portugal que perdeu a confiança em quem devia ser o referencial de estabilidade e árbitro credível nos tempos difíceis que se avizinham.
A derrocada eleitoral do PSD é obra de Cavaco e da líder do PSD. Das explicações que os portugueses exigem ao PR ver-se-á se tem condições para terminar o mandato ou se deve, por respeito ao cargo, renunciar já.
M. Ferreira Leite pode queixar-se de que lhe estragaram o guião da asfixia democrática com o desmascaramento da intriga das escutas, apesar da desgraça de ter proposto como modelo democrático a Madeira, e de ter fugido à explicação de como pode um assessor do PR entregar a um jornal um dossier sobre um adjunto do primeiro-ministro, sem que o país saiba se foi caso inédito ou uma infâmia repetida.
Para já, ganhou Paulo Portas, perigo maior para o PSD do que para o país, e o Bloco de Esquerda que vive da sólida preparação de Francisco Louçã e do sebastianismo de quem não quer reflectir sobre um programa difuso que remete para Trotsky e Estaline.
Sócrates perdeu a possibilidade de governar com maioria estável, sem se ficar a saber se a conspiração lho impediu. Cada partido vai ser responsabilizado pela forma como se comportar em relação ao Orçamento e às outras medidas políticas e económicas.
A dialéctica competitiva da democracia, agravada pela crispação entre os líderes, não permite esperar coligações e dois anos de instabilidade farão pior à débil economia do que a maior crise internacional de que há memória cuja repetição não está excluída.
Perdeu também a comunicação social, especialmente o Público, reflectindo humores do patrão que é especialista em supermercados mas não resistiu à vingança por um negócio perdido na área das telecomunicações. Perdem os jornalistas que podem ser confundidos com os que aceitam ser estafetas a partir da pastelaria de uma qualquer avenida.
Portugal ficou mais pobre e com futuro mais incerto. A direita precisa de se reorganizar e alijar a tralha cavaquista. A esquerda tem de abandonar os tiques estalinistas e aceitar, se quiser ser Governo, que o grande partido da esquerda é o social-democrata PS.
Por ora, resta felicitar José Sócrates pelo estoicismo com que resistiu à campanha de ódio e ao ressentimento dos interesses que feriu. Houve razões para muitos se absterem de votar nele, até para votarem contra, mas não havia qualquer motivo para votar na sua principal concorrente, Manuela Ferreira Leite.
O país precisa de um PSD moderno, sem tiques beatos, urbano e com um projecto que não ponha em causa a solidariedade social num país cujas debilidades económicas são muito nítidas, um partido que aprenda a lição de que não é com assassínios de carácter dos adversários que se ganham eleições. Nem com truques que são casos de polícia.
A derrocada eleitoral do PSD é obra de Cavaco e da líder do PSD. Das explicações que os portugueses exigem ao PR ver-se-á se tem condições para terminar o mandato ou se deve, por respeito ao cargo, renunciar já.
M. Ferreira Leite pode queixar-se de que lhe estragaram o guião da asfixia democrática com o desmascaramento da intriga das escutas, apesar da desgraça de ter proposto como modelo democrático a Madeira, e de ter fugido à explicação de como pode um assessor do PR entregar a um jornal um dossier sobre um adjunto do primeiro-ministro, sem que o país saiba se foi caso inédito ou uma infâmia repetida.
Para já, ganhou Paulo Portas, perigo maior para o PSD do que para o país, e o Bloco de Esquerda que vive da sólida preparação de Francisco Louçã e do sebastianismo de quem não quer reflectir sobre um programa difuso que remete para Trotsky e Estaline.
Sócrates perdeu a possibilidade de governar com maioria estável, sem se ficar a saber se a conspiração lho impediu. Cada partido vai ser responsabilizado pela forma como se comportar em relação ao Orçamento e às outras medidas políticas e económicas.
A dialéctica competitiva da democracia, agravada pela crispação entre os líderes, não permite esperar coligações e dois anos de instabilidade farão pior à débil economia do que a maior crise internacional de que há memória cuja repetição não está excluída.
Perdeu também a comunicação social, especialmente o Público, reflectindo humores do patrão que é especialista em supermercados mas não resistiu à vingança por um negócio perdido na área das telecomunicações. Perdem os jornalistas que podem ser confundidos com os que aceitam ser estafetas a partir da pastelaria de uma qualquer avenida.
Portugal ficou mais pobre e com futuro mais incerto. A direita precisa de se reorganizar e alijar a tralha cavaquista. A esquerda tem de abandonar os tiques estalinistas e aceitar, se quiser ser Governo, que o grande partido da esquerda é o social-democrata PS.
Por ora, resta felicitar José Sócrates pelo estoicismo com que resistiu à campanha de ódio e ao ressentimento dos interesses que feriu. Houve razões para muitos se absterem de votar nele, até para votarem contra, mas não havia qualquer motivo para votar na sua principal concorrente, Manuela Ferreira Leite.
O país precisa de um PSD moderno, sem tiques beatos, urbano e com um projecto que não ponha em causa a solidariedade social num país cujas debilidades económicas são muito nítidas, um partido que aprenda a lição de que não é com assassínios de carácter dos adversários que se ganham eleições. Nem com truques que são casos de polícia.
Comentários
mas agora temos que ver se Anibal fica, já que Manela já era...
e se ficando
explica escutas e ja agora o BPN...
era democratico, não era?
abraço
- Num só tempo, os portugueses redimiram-se do sono das últimas europeias. E puseram a Sócrates o dedo no nariz. Fizeram o que tinham a fazer, o que não é frequente.
- Um 'PSD moderno' é coisa que só existirá na ficção. Todo o pendor reformador do PSD se resumiu a Sá Carneiro, e não passou das promessas. Foi um dom Sebastião, que não ficou na memória por aquilo que fez, mas por aquilo que havia de fazer, se não tivesse morrido antes do tempo. O esforço reformador de Cavaco esteve, e está, à vista, para quem o quiser ver. Numa década VITAL e DETERMINANTE para Portugal,(86 a 95) analisem-se as suas opções: no campo, nas pescas, na fraca indústria, na educação, na justiça, na saúde, na cultura, na vida. Mandou, é verdade, fazer estradas, e pagou aos empreiteiros. E deixou órfão o PSD, até hoje.
- A ideologia que sustenta o PSD resume-se ao exercício do poder e às suas benesses. E foi um fartar vilanagem. Hoje resta-lhe o substancial feudo do poder autárquico, que o caciquismo duns e o atavismo doutros vem eternizando. Mas isso é parte do problema e não da solução.
Obrigado pelas 3 notas, muito lúcidas.
O post foi escrito às 18H00 e agendado para as 20H00 com o risco de ter falhado as previsões.