O arlequim Rangel e processos kafkianos…
Paulo Rangel, perora, com desdém e escárnio, sobre Hugo Chavez, porque, inconsolado e insatisfeito, mas exigente, vive na "asfixia democrática", portuguesa, onde ele e os "outros", desfrutam das liberdades fundamentais.
Se vivesse em Caracas, falaria mais comedidamente, com menos...estardalhaço. É que as democracias têm princípios fundamentais – o respeito pelos direitos fundamentais e o poder do povo – mas a sua aplicação tem diferentes matrizes e algumas matizes.
Mais uma vez aquele ditame histórico: “Em Roma sê romano…”.
Rangel é dominado pela estupefacção com o ataque de Sócrates desfere ao Director do Jornal Público, mas não se refere à torpe insinuação de José Manuel Fernandes de que o jornal que dirige, segundo deduções silogísticas (e apriorísticas) do próprio, estaria a ser vigiado…
Mas Rangel, durante o dia, viveu a transmutação de uma ignóbil acusação de vigilância dos serviços secretos a um jornal para um inquérito a uma fuga de informação interna (no referido Jornal).
O assunto ficou, para já, sanado com a abertura de um processo disciplinar para determinar a origem da fuga, mas em meu entender, deveria - com a salvaguarda da protecção das fontes - transitar para o Conselho de Ética. É que trespassa a sensação que o quase aposentado Director, ataca só com o objectivo de se defender.
Vai demorar, mas a ver vamos...
Bem. Ao fim do dia, quando se apresentou como arlequim de serviço para o quotidiano teatro comediante contra o PS, só se lembrava de como tudo tinha começado…
Bem, se calhar, inconscientemente, os seus neurónios ficaram imbutidos e baralhados pela farisaica decisão do grande Manitu (entendido como uma venerada divindade índia) que terá em profunda elucubração decidido:
“O esclarecimento e as investigações esses indispensáveis instrumentos de pesquisa da verdade, não são urgentes. Primeiro, interessa averiguar os Serviços de Informações da República… Tudo o resto para depois das eleições.
Bem, entretanto, já castiguei o meu assessor de Imprensa: vai apodrecer em Belém!”
As suspeitas recheadas pela fatuidade e pelo capricho, os processos de intenção precipitados, apressados, muitas vezes arrebatados em que o visado não sabe por quê, ou de quê, de súbito é arrancado ao seu tálamo e começa a ser acusado, processado, sem conhecer o crime cometido, decorrem no melhor estilo kafkiano, que parece ser o modelo de Paulo Rangel.
Finalmente, Kafka é, também, um escritor que se debruça sobre um tema caro a esta peculiar e particular campanha do PSD, que metamorfoseia o principal traço programático : A Verdade!
Franz Kafka, escrevia:
" ...verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário arruína-se..." in 'Conversas com Kafka'.
Como podemos depreender da profundidade texto de Franz Kafka, o PSD, ao pretender vender a “sua verdade”, ao retalho, por grosso e ao desbarato, retira-lhe o carácter genuíno. Impinge a verdade ao programa eleitoral mas não convence os eleitores.
Mas, como Kafka sublinha, se o homem não descobrir a verdade no seu íntimo, arruína-se. É o que está a suceder nas desastradas e atabalhoadas arruaças com MFL.
Daí a vinda de Rangel - qual arlequim do divertimento e da atoarda boçal - em socorro da vetusta líder.
Na verdade - e não como parece pensar o PSD - a verdade (merece a redundância) não é uma commodity (mercadoria).
Mas, a verdade, também, pode alimentar o mais o ilusório fetichismo da mercadoria que, sendo uma das centralidade ocultas do capitalismo neoliberal, é o palco onde convivem e se apresentam todos os mercados (incluindo o das mercadorias,passe a redundância).
Portanto, é esta verdade que sendo uma ilusória mercadoria, o PSD impregnou de fetiches ("asfixia democrática", “medos”, "fobias" “sufocos”, etc.) e decidiu vender a saldo nas Legislativas 2009.
Só que o mercado interno, devido à crise, está parado.
Mas há uma pergunta, que me persegue e que me vêm incomodando:
Este directório político do PSD eleito no dealbar da mais recente crise, alguma vez, se apercebeu que o XVII Governo termina a legislatura praticamente no pico da recessão económica e na necessidade de prover a sustentabilidade do Estado Social?
É que o Directório pode ser daquela gente que – para os quais – tanto faz que exista crise, ou não. Passa-lhe sempre ao lado... E quando contribuiram para a mesma, ficam subitamente amnésicos do que fizeram por cá, mas lembram-se exactamente do off-shore das ilhas Caimão (ou outras) onde há um pecúlio (de M€s) para as emergências.
O PSD, para contentar o Dr. Paulo Rangel, pode citar-lhe o que está escrito no livro 'Conversas com Kafka':
“HÁ ESPERANÇAS, SÓ NÃO PARA NÓS”
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