O Decálogo das Eleições Legislativas de 2009
A campanha para as Legislativas estava, à partida, condicionada por diversos factores.
É difícil sintetizar as imensas variáveis em jogo, mas vale a pena tentar.
Assim, as eleições Legislativas de 2009, podem condensar-se num códice de eventos que achei por bem dar-lhe a fórmula de decálogo (sem que algum item seja um mandamento...).
1. A crise económico-financeira mundial lançou o País numa intensa “crispação social” e destruiu, num ápice, o controlo orçamental – jóia da coroa do Governo - conseguido à custa de sacrifícios e perda regalias sociais e, na prática, arredou o PS de um sonho longamente acalentado: maioria absoluta.
2. A crise, ao contrário do que MFL tem afirmado na campanha, favoreceu o PSD que a facturou nos “custos da governação”.
3. A “usura do poder”, para além de beneficiar todos os partidos, tem custos diferentes.
4. As forças à Esquerda do PS tinham em perspectiva uma oportunidade soberana de capitalizar grande parte do descontentamento larvar que se verifica na sociedade portuguesa.
5. Só que a possibilidade de captação dessa Esquerda é finita. Ela não depende exclusivamente da angariação dos descontentes mas, também, de questões ideológicas.
6. A Direita portuguesa, 1 ano antes das eleições, continuava em acelerado processo de decomposição. Só a recessão económica e social – nomeadamente o desemprego galopante – veio dar-lhe algum ânimo para lutar.
7. O CSD/PP tornou-se um partido dependente da inspiração de um só homem (ou de um homem só) e da sua melhor ou pior aptidão para vender demagogia.
8. A pré-campnha é dominada por uma agressiva ofensiva do PSD centrada na “asfixia democrática”, na inviabilidade de intensificar o investimento público, na substituição de um programa por um memorando de uma pobreza franciscana, cujo denominador ideológico é “a verdade” e - com o concurso de todos os partidos – da exploração de casos pontuais que foram trazidos para a campanha como exercícios retóricos de diversão.
9. O PS, seu oponente natural, sob a liderança de José Sócrates, mostrou uma invejável força anímica, uma capacidade de adaptação às novas condições e conduziu a campanha socialista com mobilização, convicção, autoridade e perseverança, conseguindo manter o partido à tona. Isto é, capaz de conseguir assegurar uma maioria simples, como as recentes sondagens indiciam.
10. O nefasto episódio das suspeitas de vigilância a Belém, o silêncio do PR e a demissão de Fernando Lima encerraram, antecipadamente, a campanha. Neste momento, os portugueses aguardam, penosamente, o dia 27, para confirmarem a maioria de Sócrates e a derrota de MFL, da qual não sobreviverá politicamente.
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