PR, Portugal e o futuro

Quando o principal assessor do Presidente da República entrega a um jornal um dossier sobre um importante colaborador do primeiro-ministro, fica demonstrado que há quem ganhe a vida a registar o que não deve e a entregá-lo a quem não pode. E fica a suspeita de não ter sido caso virgem mas uma devassa habitual e intriga repetida. Era o trabalho dos informadores da PIDE.

Quando esse assessor encomenda a um jornal o escândalo das escutas, de que não tem uma única prova, e o PR acaba por confirmar as suspeitas, meses depois de ter tido a obrigação de as esclarecer e denunciar, a democracia portuguesa apodrece e o regular funcionamento das instituições fica comprometido por quem devia zelar por ele.

A derrocada do cavaquismo, cuja ética soçobrou nos escândalos financeiros e no rápido enriquecimento dos seus mais emblemáticos expoentes, pode justificar os erros do PR cuja honestidade se presume mas as provas circunstanciais desmentem.

Que um jornal de referência, que Vicente Jorge Silva tornou respeitável, possa prestar-se ao tráfico da intriga e ao exercício da calúnia é uma desgraça que, a confirmar-se, põe em xeque a independência noticiosa, a isenção do dono e a idoneidade do director.

A infeliz coincidência de um PR que mostrou mais devoção à Igreja católica do que à Constituição, mais fé nos milagres de D. Nuno do que na competência da Assembleia da República e maior sintonia com a direita mais reaccionária do que com o sentir do povo português, delapidou a consideração de que gozava e comprometeu o respeito que lhe é devido.

Nunca um PR, no Portugal democrático, foi tão violentamente contestado, mas nenhum outro fez tanto por merecê-lo. A sequência de tomadas de posição contra os deputados, o Governo e várias decisões legítimas comprometeram o mandato que devia esforçar-se por terminar com dignidade.

Quem dividiu os políticos, quando lhe conveio, em má e boa moeda, arrisca-se a passar à história como sendo da primeira. Esperemos que faça um último sacrifício pelo país, arredar quanto antes a expectativa do segundo mandato. O país ficar-lhe-á grato e, como soe acontecer aos mortos, não lhe regateará elogios.

Neste momento, já é tarde para justificar a perfídia do seu principal assessor, Fernando Lima, e definitivamente irrelevante que o despeça e o entregue à PJ, para averiguações. Resta-lhe a esperança de que a manobra ainda possa levar a S. Bento uma das últimas cavaquistas, politicamente medíocre mas de impoluta probidade pessoal, MFL.

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