A fé, a esmola e o poder do clero

O Islão, o mais implacável dos monoteísmos, insiste no 3.º pilar, “Zakat”, a obrigação de dar esmolas aos pobres, devendo cada muçulmano dar 2,5% dos seus rendimentos, se os tiver. Não é novidade do Islão, é herança judaico-cristã acolhida na cópia medíocre do cristianismo feita pelo arcanjo Gabriel, que voou junto a Maomé, entre Medina e Meca, em numerosas  viagens, durante 20 anos, até o obrigar a decorar o que viria a ser o Corão, enquanto conduzia camelos. Que seria das religiões sem pobrezinhos?

Não tenho aversão à esmola, tanto mais que tenho estado do lado de quem a pode dar e não do de quem é obrigado a solicitá-la, mas não tenho ilusões sobre o facto de se tornar a indústria de quem a administra, para evitar a luta de quem a recebe, e um instrumento para a conquista do poder.

Os Irmãos Muçulmanos estão na origem da sobrevivência de multidões onde a religião não deixa florescer um Estado laico, justo e solidário. Depositários da verdade única, tal como as duas religiões que copiaram de forma primária, resolvem as carências básicas na educação, saúde e alimentação. A liberdade, o álcool e o toucinho é-lhes vedado, mas o martírio, o Paraíso e o tapete para as cinco orações diárias ficam garantidos, enquanto as esmolas e o Corão impedem a modernidade.

Em Portugal, enquanto o Governo, com fortes motivações ideológicas, vai reduzindo o povo à miséria, não falta com o cheque às escolas privadas, pondo em xeque as públicas e a igualdade de acesso à educação. No que diz respeito à saúde e à assistência está em curso a transferência para privados, sobretudo IPSSs, com dinheiros públicos e gestão das Misericórdias. Os Irmãos Católicos, sem necessidade de recorrerem aos suicídios, até porque lhes falta o estímulo das 72 virgens e dos rios de mel doce, vão ocupando o espaço público, com fortes ajudas estatais, generosas doações pias e benefícios fiscais.

Em breve. não será possível encontrar um lar de idosos, um centro de reabilitação com internamento ou um hospital, que não tenha uma pia de água benta, à entrada de um doente, e um turíbulo a queimar incenso à saída do defunto.

Aposto duplo contra singelo que o Hospital de Santo António, no Porto, não tarda a cair nas mãos da Misericórdia, a grande proprietária imobiliária do país. Depois será fácil ao prestigiado Instituto Abel Salazar, mudar o nome honrado para o de um santo qualquer, e transformar-se na ambicionada Faculdade de Medicina da Igreja.

Por todo o País, enquanto se destrói o SNS, à sorrelfa, espreitam as Misericórdias, os Melos e o Espírito Santo, o do banco.  Os velhos, doentes e pobres serão a mercadoria que dará dinheiro ou garantirá indulgências.

Espero que os nossos netos respeitem e amem o Afonso Costa que um novo ciclo há de gerar.    

Apostila: Os Irmãos Católicos chamam-se Irmãos Mesários.

Comentários

e-pá! disse…
O incensado 'sector social' está, sob a capa do assistencialismo, a tornar-se num insano e obeso parceiro sob os auspicios deste Governo.
Mais uma vez, as tão invocadas distorções na economia proliferam nesta área. É suposto que este terreno seja heterogéneo. Por esse Mundo fora inclui (integra) organizações não lucrativas, voluntárias, intermediárias, não governamentais, da economia social, da sociedade civil, não governamentais, etc.. Por cá é 'colonizado' pela ICAR cujas organizações 'vivem' sob os benefícios da Concordata (entre eles o regime fiscal).
O 'polvo' passa por alguns casos enunciados no post referentes à área da saúde mas, todos o 'sentimos', que é muito mais extenso - verdadeiramente tentacular - e, por exemplo, poderá estar a posicionar-se para 'agarrar' o sector da Educação (neste momento sob o fogo de tentações conservadoras e neoliberais)
O 'sector social da Igreja' (será mais correto chamar-lhe assim)manifesta deste a viragem deste século apetites cada vez mais hegemónicos como está visível no facto (real) de possuir 2/3 das unidades que integram a rede nacional de Cuidados Integrados.
Finalmente, este sector que legalmente tem (e bem) algumas especificidades já que representa uma abertura do Estado à sociedade civil, foi rapidamente prevertido, em Portugal, funcionando como uma preversão (económica e social) onde as funções de controlo foram deslocalizadas para o Vaticano (os mecanismos são 'invios') e uma saudável concorrência substituída por uma 'piedosa comisuração' cujas acessibilidades revelam enviesamentos (discriminação religiosa) e efeitos redistributivos polémicos considerado um quadro de 'bem-estar público e social'.
Concluindo, o 'terceiro sector' é um paradigmático exemplo do recuo civilizacional que foi enxertado nesta crise e nos está a fazer regressar a remotas situações que caracterizaram (negativamente!) os 'Estados pré-Previdência'.

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