Os ‘papagaios’ da maioria…
Falando sobre as reformas da segurança social Fernando Ulrich, banqueiro do BPI, debitou esta ‘pérola’:
“O que é bom é que as pessoas têm que ter consciência de que não existe nenhum mecanismo económico ou financeiro que permita assegurar que por causa de ter feito um determinado desconto, a pessoa vai receber uma determinada contribuição no futuro. Isso não existe», referiu Ulrich, durante um jantar de antigos alunos de economia e gestão da Universidade Católica do Porto link.
Neste arrazoado existem dois pequenos pormenores tremendamente esclarecedores.
Primeiro, “o que é bom” para quem? Para as empresas financeiras e seguradoras? O ‘bom’ será os mecanismos de ‘plafonamento’ sugeridos no ‘guião para a reforma do Estado’ que permitiriam a entrada da segurança social nos negócios puros e duros da banca?
Depois, os mecanismos económicos e financeiros que afirma não existirem e ‘preocupam’ o Sr. Ulrich. Esta permanente miscelânea do económico com o financeiro é, só por si, muito significativa. Traduz a completa ‘financeirização’ da vida dos cidadãos e da sociedade. Mas toda a lógica racional que está subjacente a esta ‘boutade’ mostra como as instituições financeiras (e os seus lídimos dirigentes) concebem os contratos (sociais ou outros). Os descontos são obrigatórios mas os posteriores recebimentos (os ressarcimentos) aleatórios. Passarão – como é usual nas efabulações deste Governo - a depender de patamares de crescimento económico futuros.
Só que o Sr. Ulrich pretende, desde já, posicionar-se como captador e gestor colocando-se no trajecto de actuais (ou futuros) modelos redistribuição da riqueza (gerada por esse crescimento).
Mais uma vez a exibição de um alarve apetite para proceder a uma ‘colonização’ financeira de tudo e todos e que antecipadamente espreita a oportunidade de transformar a solidariedade social num negócio. Num modelo ‘livre’, comandado arbitrariamente pelos ‘mercados’, em que as entradas passam a ter insondáveis retornos, ao sabor dos ‘momentos’, das circunstâncias e das necessidade de recapitalização da banca. .
Ninguém se admirará desta raivosa sobranceria do mundo financeiro que – sejamos objectivos - a presente e arrastada crise descredibilizou totalmente. Nem da sua ousadia em ‘torturar’ e fazer reverter em seu favor todo o tipo de contractos. Mas é impossível ignorar que o descaramento é enorme e a ignomínia infesta (infecta) irremediavelmente as relações entre as instituições bancárias e os cidadãos.
Na verdade, a partir da crise dos suprimes imobiliários (que continua a arrastar-se desde 2007), de uma subsequente enxertia do 'problema das dívidas públicas’ e da permanente ameaça de uma 'bolha financeira' (tal o volume de dinheiro-papel em circulação), nenhum País, nenhuma União, nenhuma instituição foi capaz de regular e ‘travar’ o desvario dos negócios das instituições financeiras.
Politicamente, à beira da apreciação da constitucionalidade dos ‘cortes’ nas pensões da CGD, o Sr. Ulrich volta à sua doentia pedagogia do ‘aguenta’. Vem em socorro da infame retórica de Passos Coelho que, há 1 ano (Dezembro de 2012), em Ourém, no XXII congresso da Juventude Social-Democrata, perorou sobre os aposentados: “Descontaram para ter reformas, mas não aquelas reformas” link.
Num País onde o servilismo político continua a ter de ‘aguentar’ todos os dislates e não se decide cortar radicalmente nos supostos ‘créditos’ destes serventuários e das instituições que administram, torna-se pungente, nauseabundo e insuportável ouvir estes ‘papagaios’, no seu repetitivo e sincopado ‘papaguear’.
Comentários
O que ele quer é que as pessoas deixem de descontar para um sistema público e tenham de fazer PPRs nos Bancos, de preferência no dele!
Eu levantei o meu pecúlio do seu banco.
Tento ser coerente!.
E do que eu sei poucos contestatários o fazem...a taxa é prioritária!
Alimentamos o monstro que nos insulta e humilha,sem sobressalto cívico!
Ele sabe de que MASSA somos feitos!