PASSOS COELHO: uma entrevista para iludir a necessidade de eleições…

O primeiro-ministro ‘concedeu’, ontem, uma extensa entrevista à TSF/TVI link que foi amplamente comentada pelos partidos políticos e comunicação social. link

O ‘timing’ da realização desta entrevista não é um assunto menor e muito menos inocente. O País está sob mais uma avaliação externa (da Troika) e, no plano interno, a instabilidade campeia quando, parte substancial do ‘plano’ governamental tecido à volta do equilíbrio orçamental está dependente de decisões do Tribunal Constitucional.

Deste modo, a entrevista foi dominada por um emaranhado de questões, contradições e indefinições de quem, desesperadamente, tenta manter o País em suspenso. Tudo começa pela tentativa de vender de mais uma ilusão (para quem quiser comprar). Condicionar os tempos futuros ao programado fim do programa de intervenção, definido nas condições que têm sido analisadas e criticadas no ‘memorando’ assinado em Maio de 2011, é mais uma manobra de diversão, para não lhe chamar um embuste.

De facto, em Maio do próximo ano, segundo tudo indica, o País não conhecerá qualquer ‘libertação’. A rábula do ‘fim do protectorado’ só serve para alimentar mais ilusões a incautos.

Alcançado o tempo calendarizado como o fim formal do programa de estabilização financeira pairam no ar duas inquietantes interrogações:
-A primeira, é se o País ao longo destes 3 anos de intervenção externa adquiriu, na realidade, a estabilização financeira ou se continua dependente dos apetites dos mercados, das instituições financeiras e dos grandes grupos económicos.
- A segunda, é mais simples e directa: do discurso governamental (e das palavras do seu primeiro-ministro) não se divisa qualquer indício de mudança política e estratégica no pós-troika, pelo que os portugueses só esperam (ou podem contar com) ‘mais do mesmo’.

Ontem, este rumo foi recorrentemente confirmado. Passos Coelho enunciou, aqui e acolá, um longo período de ‘resgate’ (10 ou 15 anos) em ‘contra-pé’ com os irresponsáveis festejos que promoveu à volta de um mirífico fim do ‘protectorado’ financeiro e um desmedido empolamento subsidiário de ténues e anémicos (pontuais?) sinais de recuperação económica.

Deu para perceber que o fim formal do programa só poderá trazer mudanças e resultados se existissem substanciais alterações das políticas (nacionais e europeias). E essas alterações – nos modelos democráticos – ‘acontecem’ com eleições. Finda a entrevista esta terá sido a ‘impressão’ residual e duradoura que esta última ‘jogada de marketing’, protagonizada pelo primeiro-ministro, acabou por suscitar. Isto é, o proclamado fim (desta fase) do programa de intervenção externa e a sua execução interna deverá têm de ser avaliadas nas urnas (e não em entrevistas ‘programadas’).

A entrevista tornou evidente o público e o notório. Não existe mais legitimidade democrática para caminhar em frente, depois de Junho de 2013, sem passar por um escrutínio. Depois de todos os dramáticos percalços que, ao longo destes 3 anos, fracturaram e desestruturaram profundamente a sociedade portuguesa surge, no presente, como incontornável o recurso ao veredicto popular.



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