A esquerda e as esquerdas - o seu e o nosso labirinto

A Europa está a resvalar para uma direita de matriz fascista, longe daquela que se bateu contra o nazi-fascismo, agora, de novo, nacionalista, xenófoba e racista. Já se apresenta a votos, tal como é, às escâncaras, enquanto a esquerda defende a ortodoxia ou  capitula, isto é, se divide numa luta tribal que facilita a vida à extrema-direita.

A reflexão sobre o período e as ocorrências que antecederam a Segunda Grande Guerra (1939/45) podia ser a benzodiazepina necessária para acalmar os ímpetos dementes do extremismo e a pílula que controlasse o renascimento dos demónios totalitários.

O frenesim eleitoralista dos que dizem renegar o eleitoralismo abre brechas entre forças capazes de transformar a Europa num sítio melhor. O horror ao federalismo, com todas as suas consequências, longe de libertar as nações arrisca-se a promover a balcanização.

A cegueira com que se elegem inimigos principais, sob o pretexto da pureza ideológica, é a força motriz que empurra para a direita os que a preferem aos desvarios rebeldes das utopias que esquecem o tempo, o lugar e as circunstâncias que habitam.

A forma metódica e violenta com que o PCP tem atacado as sucessivas direções do PS, por mais razões que lhe assistam, é a confissão de quem prefere mais 2 ou 3% de votos, parecendo escolher o apoio objetivo à direita a um governo progressista que não lidere.

É fácil prever o sentimento dos militantes do PS, sob imutável pressão e insultos vindos da sua esquerda, e facilmente se adivinha o caminho que escolherão. Entretanto, como tantas vezes sucedeu no passado, saem os melhores, desiludidos, a remoer a angústia de quem trouxe da luta comum, a esperança na unidade de esquerda e na democracia, onde fosse possível aprofundar os aspetos económicos, sociais e políticos.

Tal como o PSD, que não precisou de gente preparada ou íntegra para renunciar ao seu ideário e ostracizar os seus melhores quadros, também o PS passará pelo realinhamento  à direita com trágicas consequências para o futuro coletivo.

Não é a fomentar cisões que se constrói a unidade. O futuro político português não terá inocentes.  

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Leo disse…
É ridículo continuarmos a assistir ao triste espetáculo e ao mau exemplo dado pelos nossos políticos ao povo português. Temos um Governo em funções, com um sem número de compromissos externos, internos, obrigado a traçar políticas e reformas de médio e longo prazo e uma oposição que não se empenha minimamente em apoiar ou contribuir positivamente seja para o que for.
O Povo não elegeu os deputados da oposição para que estes se limitem a estar em desacordo com toda e qualquer medida do governo. Também não os elegeu para dizer amen a tudo. Escasseiam os verdadeiros políticos. Aqueles que apesar das suas diferenças se empenham obstinadamente para traçar um futuro sustentável para as geraç~~oes vindouras. Gerações que não vão tolerar a demagogia a que se assiste por exemplo nas sessões do parlamento ou nas rubricas de opinião de ex-dirigentes partidários que falharam o poder ou ex-governantes que quando lá estiveram só fizeram merda, sem desprestigio da matéria que apesar de malcheirosa não tem culpa nenhuma.
Tenho uma vaga esperança no surgimento de uma nova classe política, verdadeiramente empenhada em defender da melhor maneira possível os interesses dos portugueses que os elegeram e não os seus interesses particulares e partidários.
Léo
Leo

O governo, ou melhor, aquilo que como tal se intitula, não está "obrigado" a fazer "reformas" a médio nem muito menos a longo prazo; fá-las porque quer, porque pretende pôr em prática a sua ideologia neoliberal, segundo a qual tudo deve ser privado e entregue aos caprichos "dos mercados": a saúde, a educação, a proteção na velhice ou invalidez, etc. É a política do "cada um que se arranje (ou que se lixe)", em vez da política socialista, social-democrata (nada a ver com o PSD) ou mesmo democrata-cristã (nada a ver com o CDS/PP) de "um por todos e todos por um".

A oposição não tem obrigação nenhuma de ajudar o governo nessa política - aliás inconstitucional-
de destruição de todas as conquistas da revolução de Abril. Pelo contrário, a sua obrigação é de tudo fazer para contrariar essa política e derrubar este governo anti-constitucional, anti-popular, anti-patriótico e ilegítimo, que mais parece uma associação de malfeitores. Nunca, depois do 25 de Abril, nenhum governo "fez mais merda" do que este.
Leo disse…
Compreendo e concordo em certa medida. Agora, não vamos escamotear a realidade. Este sistema político é o que temos e é com ele que se continuam a pagar oredenados e reformas. Dizer que é mau reduzir reformas que estão acima de determinado valor sem ter em conta que os reformados são mais (aos milhares)do que no passado e que a força do trabalho é menor (aos milhares)não me parece uma crítica isenta, não sem apresentar uma solução que realmente SIRVA os interesses nacionais a curto e longo prazo.
Ora, é este exercício que os políticos da oposição não fazem ou fazem mas não dizem à espera que estão da desgraça de quem está no poder esquecendo que o fracasso de um governo fustiga todo um país.

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