O novel patriarca de Lisboa e a coadoção por casais do mesmo sexo
O Dr. Manuel Clemente, ex-bispo do Porto e atual patriarca
de Lisboa, à espera do fim do prazo de validade cardinalícia do ex-patriarca
Policarpo, para obter o devido barrete, entende que «os
direitos das minorias devem ser referendados».
Não se trata de certezas metafísicas mas de opiniões pias.
Certamente que foi o informal referendo à opinião pública que levou, perante aplausos
devotos, os judeus e as bruxas à fogueira inquisitorial. Os direitos das
minorias, sujeitos ao poder arbitrário das maiorias, podem erradicar
vegetarianos, diabéticos, carteiristas, amola-tesouras, clérigos, leprosos ou corcundas.
Sendo a liberdade religiosa um direito que permite o culto
às minorias eu imagino o que resultaria de um referendo sobre o direito das
Testemunhas de Jeová, de Adventistas do 7.º Dia, mórmons ou dos mais
minoritários, budistas Zen, a residirem em Portugal.
Estando em causa a adoção comum por casais do mesmo sexo
onde, legalmente, o filho de um já coabita com os dois cônjuges, não se percebe
se é o direito à família que Sua Excelência Reverendíssima quer pôr em causa ou
se deseja a anulação da paternidade, biológica ou por adoção, ao cônjuge que a
exerce.
Se os direitos individuais passarem a ser objeto de
referendo, como pretendeu o líder da madraça juvenil do PSD, a mando do PDG
virtual do partido, iríamos ser convocados a pronunciar-nos sobre o direito à
adoção por chineses, berberes, esquimós ou mongóis, com o beneplácito do
patriarca de Lisboa.
De repente lembrei-me de Camilo, que chamou a Frei Gaspar da
Encarnação “uma santa besta”, epíteto que nunca teria a ousadia de atribuir a
um prémio Pessoa: em primeiro lugar, porque não o conheço, em segundo, porque
poderia ser injusto e, finalmente, o Sr. Patriarca pode não ser santo.
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