Ainda a Ucrânia e os anticomunistas primários

Confesso que não sabia que a Ucrânia tinha um partido comunista e, muito menos, que fosse da simpatia de Putin. Sei da História que houve movimentos nacionalistas que se opuseram ao comunismo e, simultaneamente, ao nazismo, mas não esqueço como foram recebidas em festa as tropas de Hitler pela parte ocidental, à semelhança do que fizeram a Áustria, a Hungria e a Polónia, onde, ainda hoje, sobretudo hoje, ressurge o fascismo com todos os ingredientes xenófobos, homofóbicos e antissemitas.

Não me preocupam as estátuas de Lenine a ser derrubadas, assusta-me a destruição de um monumento aos mortos contra o nazismo. Não me incomoda, antes pelo contrário, a utopia apaixonada da União Europeia, assusta-me o ódio que proíbe partidos, faz justiça popular e incita ao antissemitismo numa orgia demente que lembra fraturas da guerra e esquece os mortos provocados pelos nazis, entre 5 a 8 milhões de civis.

Não há o direito de acirrar ódios, aprofundar clivagens e desintegrar nações em nome de ideologias passadas, de memórias mal enterradas, de paixões momentâneas.

Podiam os terroristas de sofá, os atiradores de palavras pelo cano do faceboock, sentir o coice da culatra da arma que usam e lembrarem-se do que fizeram à Jugoslávia quando o Vaticano e a Alemanha reconheceram a Croácia independente e iniciaram o processo de desmembramento de um país, que provocou centenas de milhares de mortos numa orgia de sangue, ódio e ressentimento.

Comentários

e-pá! disse…
Continua a ser difícil e um pouco ingénuo tentar separar os acontecimentos dos últimos tempos, nomeadamente na Ucrânia e Venezuela, dos tradicionais conflitos internacionais pelo controlo das fontes de energia (petróleo e gaz), bem como do necessário 'ajustamento' do sistema financeiro mundial à volta dos emergentes 'BRICS'.
A UE não consegue esconder a importância estratégica da Ucrânia, que sendo uma rota natural (geográfica) de gasodutos, lhe asseguram (à UE) o trânsito de gaz entre o Oriente e a Europa Ocidental, tendo a Rússia pelo 'meio' ou no 'fim' (entre a Europa e Médio-Oriente). Até parece uma charada de pontos cardeais e de azimutes...

Por outro lado (ou em complementaridade) os EUA não querem desperdiçar a oportunidade de, num contexto de tensão internacional (muito elaborado), tentar subtrair ao controlo de Moscovo um vasto arsenal de armas nucleares e bases de lançamento aero-espaciais e balísticas que estarão, como tudo indica, sediadas na Ucrânia.
Isto é, este é um passo que vai para além do contexto político que continua muito pouco claro (como é habitual nas 'intervenções externas' norte-americanas e agora nas europeias) e que a imprensa e organismos internacionais tem alertado para elevados riscos do 'novo regime' de Kiev vir a cair no braços da extrema-direita, uma 'incomodidade' para o Ocidente...(mas perfeitamente tolerável e ultrapassável perante os 'enormes e estratégicos interesses' em confronto).
Foi assim num passado relativamente recente e a 'crise' poderá ser uma espúria justificação para regressar (a esse passado).

Mas o que ressalta no meio desta (... deliberada) confusão é o déjà vu de uma recorrente, dominadora e impositiva estratégia energética, financeira e militar , de âmbito mundial, em pleno movimento e desempenhada por vários protagonistas (entre eles a NATO).
E será a plena integração nestas 'manobras transnacionais' (no passado designadas por 'imperialismos') que a presente 'crise ucraniana' parece não destoar com as 'primaveras árabes' e, particularmente, com a dramática guerra civil síria...
soudocontra disse…
Muito bem e-pá! Até estou admirado. Mas para complementar o que muito bem demonstrou sobre o real e actual imperialismo norte-americano com os apaniguados europeus que o apoiam, aconselhava a ver os seguintes sites: http://resistir.info/ucrania/engdahl_21fev14.html
http://www.wsws.org/fr/articles/2014/fev2014/bwuk-f21.shtml
Obrigado.

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