António Barreto e a leveza ética
O 25 de novembro foi um epifenómeno do dia maior da história da democracia e, como disse Ramalho Eanes, operacional da RML, comandada por Vasco Lourenço, uma data fraturante que não deve ser comemorada e, muito menos, um dia de vingança contra os democratas do ‘grupo dos 9’ e os que, nesse dia, estiveram do outro lado da barricada.
Não se estranha em António Barreto (AB) a militância reacionária. Veio de um governo do PS, onde não se distinguiu pela competência técnica mas pelo ressentimento contra a reforma agrária, e quis ver comemorada pela primeira vez na AR a data que nunca o foi. Era, à semelhança das praxes académicas das novas universidades, uma tradição que no ano seguinte passaria a ser.
AB é o agente dissimulado da direita. Já foi tudo, comunista, esquerdista (porque o PCP era de direita), socialista, eanista, reformador (ornamento do PSD/CDS) com Sá Carneiro, empregado de um merceeiro holandês do Porto, colunista de jornais, avençado televisivo e indefetível homem da direita que finge ser de esquerda.
Podia ser tudo isso mas manter um módico de amor-próprio e resignar-se por nunca lhe terem dado a oportunidade para se candidatar à Câmara do Porto nem ao sonho maior, a presidência da República.
Com razoável prestígio académico e interessante currículo como sociólogo, levou-o a ambição desmedida e o provincianismo pacóvio a tornar-se a Zita Seabra de calças e com sobrancelhas hirsutas.
«Tal como o Estado Novo quis esbater o 5 de Outubro, também a democracia quer apagar o 25 de Novembro» – escreveu o avençado desta direita –, omitindo que quem aboliu o 5 de Outubro foi a sua direita e que quem quis comemorar o 25 de novembro não foram os que o venceram mas os que queriam vingar-se, já então, do 25 de Abril.
É um Medina Carreira de ar sério, vai acabar como adjunto de Marco António. Quando se desce, o abismo é a última etapa.
Comentários
Na realidade, para clarificar a política e higienizar o ambiente partidário, falta criar em Portugal um novo partido: o 'partido dos interesses'.
Onde caberiam (e se acoitariam) todos os trânsfugas interessados e interesseiros.