Dezembro de 2015 e dealbar de 2016…
Nesta noite festiva, segundo o calendário gregoriano, é difícil para um europeu não estar assoberbado por uma profunda intranquilidade.
Primeiro, pela crise económica e financeira que teima em não desaparecer. Os tempos de ‘bem-estar’ do progresso e do desenvolvimento estão cada vez mais distantes e longínquos.
Depois, pelo drama dos refugiados vítimas de guerras das quia a Europa não pode afirmar que tem a mãos limpas.
Não vamos tecer considerações sobre a crise económica e financeira, já muito longa e sem fim à vista, onde as queixas e recriminações são mais do que muitas, porque dedicar a atenção para este problema (grave) soa, neste momento, a um certo egoísmo.
Por outro lado, o drama dos refugiados não pode ser ignorado ou desvalorizado. Esta tragédia que bateu à nossa porta e invadiu o nosso sossego sem que – mais uma vez – a prevíssemos. Trata-se do mais intenso fluxo migratório depois de 1945 que levantou uma maré de incertezas, miséria e desespero que julgávamos impossível. Uma 'maré' (tsunami ?) que mobilizou 1 milhão de refugiados num ano é qualquer coisa de extraordinário e perturbador.
Tanto mais perturbador quanto é verdade que a União Europeia tem revelado uma penosa incapacidade de resposta a este dramático problema. Na verdade, salvaguardando a disponibilidade que tem demonstrado a Alemanha (que quer transformar este surto numa oportunidade) os 28 países europeus mostram uma total incapacidade em actuar coordenada e eficazmente para a sua solução ou até para promover o necessário alívio de um descomunal sofrimento humano que nos entra diariamente nas nossas casas.
Cada um dos 28 Países actua per si. Resultado: acordaram (com reticências) repartir, nos próximos 2 anos, 160.000 refugiados. Ao soar da meia-noite de hoje estarão acomodados (recebidos com um mínimo de dignidade) cerca de 200.
Isto é, a Europa que se propõe (tentar) resolver pouco mais do 15% do problema, hoje, ao mudar a folha do calendário terá 'resolvido' 0.002% (!).
Pior, a Europa fechou os olhos a uma mutação infame no seu bordo Sul e Leste. Viu, impassível e descuidadamente, o mar Mediterrâneo transformar-se num gigantesco cemitério.
Todos conhecemos que no período difícil que a UE atravessa (uns mais do que outros) é extremamente difícil absorver e integrar tanta gente. Mas intolerável é o facto deste drama ter despertado medos e receios, nomeadamente, de eventuais infiltrações de terroristas. E mais lastimoso é ainda que os medos levantados pelo brutal ciclo migratório tenham favorecido o crescimento de ideologias de extrema-direita recheadas de um nacionalismo pacóvio e obsoleto, de matriz fascizante.
Em 2016 os burocratas de Bruxelas e de Frankfurt, com o indispensável agrément de Berlim, continuarão a tentar ‘apurar’ a união bancária e financeira e a decidir novas regras orçamentais, mas ninguém, nenhum País, se erguerá para que exista, por exemplo, uma legislação comum aos 28 sobre o direito de asilo.
Às 24 horas de 31 de Dezembro, quando soarem as festivas badaladas da meia-noite, provavelmente os europeus deveriam descortinar outras tonalidades em tudo semelhantes a um 'toque a finados'…
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