BREXIT – 3 (…e último)
A última reunião do Conselho Europeu em que se decidiu conceder um ‘estatuto especial’ à Grã-Bretanha não pode deixar de levantar interrogações, derrubar certezas e questionar o futuro (da UE) link.
Não é possível fazer coexistir a Europa (Mercado Comum) criada pelos ideários partilhados por R. Schuman, P.-H. Spaak, K. Adenauer, A. Gasperi, j. Monnet, entre outros, e as actuais exigências de David Cameron que mais facilmente se reportam à atitude manifestamente euro-céptica do período tatcheriano, como sabemos, mais virada para a EFTA do que para a uma CEE mais abrangente e com exigências democráticas.
O Reino Unido, desde há muito que desfruta de muitas prerrogativas no seio da comunidade de países europeus.
A começar pela imposição da língua a despeito da decadência económica da 'Ilha saxónica', ditada pelo fim do Império e o progressivo enfraquecimento da 'Commonwealth'.
Disfruta, igualmente, de um quadro de desregulação financeira muito 'conveniente' et pour cause de interesses inerentes à sua City.
Disfruta, igualmente, de um quadro de desregulação financeira muito 'conveniente' et pour cause de interesses inerentes à sua City.
Os direitos laborais perdem projecção ou atenção, desde o ‘blairismo’ - com muito de liberal e pouco de social - sendo diluídos pela discussão de questões marginais e fracturantes mais do agrado dos 'mercados de trabalho'.
Nos anos recentes, na sequência de queda do muro de Berlim, promoveu-se – e isso foi apoiado por Londres – o alargamento da União a Leste desde que o modelo integrador fosse anglo-americano. E assim tem sido.
Na verdade, os países de Leste constituem a 5º. Coluna europeia, por exemplo, no gravíssimo problema dos refugiados. A mediação europeia dos interesses americanos é também bem visível no dormente conflito ucraniano onde a UE assumiu dar o corpo ao manifesto no sub-reptício diferendo EUA-Rússia.
Em relação à Comissão Europeia, Londres, desde o ‘susto’ que apanhou com Jacques Delors que recusou-se a desempenhar o apagado papel de ser um (alto) funcionário, a partir daí tem interferido directamente na escolha do seu presidente. Basta recordar as ameaças que proferiram em relação J C Juncker por o considerarem ‘demasiado federalista’. Tanto erodiu o papel da Comissão que hoje o seu presidente – mesmo não o apoiando – tornou-se naquilo que sempre desejaram: uma figura burocrática, fraca e desprestigiada.
E, deixando de parte qualquer tipo de parcimónia, uma qualidade tipicamente britânica, aproveitaram o ensejo para exigirem mudanças com capacidades intrínsecas altamente desagregadoras como sendo uma ‘reforma’ que nenhum dos presentes no último Conselho Europeu tem legitimidade democrática para o fazer.
Portanto, nada haverá a comemorar porque, mais uma vez, em Bruxelas se procedeu a um ‘arranjo’ (à margem das competências dos dirigentes nacionais presentes) de qualidade medíocre e alcance mais do que duvidoso (para não dizer pernicioso).
De facto, no Conselho Europeu de 19 de Fevereiro último, ‘assassinou-se’ a UE para impor o regresso do velho Continente aos tempos da EFTA.
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