Síria: o ‘improvável’ cessar-fogo…
O cessar-fogo anunciado para o dramático conflito que se desenvolve na Síria é uma medida muito limitada embora seja de saudar.
Mais do que ser um caminho para a resolução do conflito será uma pausa para respirarem link. Quer as exaustas máquinas bélicas e diplomáticas, quer para dar tempo a acções humanitárias inadiáveis.
A exclusão do âmbito deste tímido acordo do Daesh e da Frente al Nusra torna muito complicada a sua efectivação. Na verdade, o conflito sírio que terá começado por uma contestação interna ao regime de Bachar Al Assad rapidamente transformou-se numa encruzilhada internacional que envolve múltiplos parceiros (EUA, Arabia Saudita, Turquia, Rússia, Curdos, etc.).
A declaração de cessar-fogo é muito restrita e envolve quando muito a Rússia e EUA que necessitam de tempo para fazer balanços provisórios.
O problema é que embora existam inúmeras organizações de nominalmente se identificam com esta trégua a confusão reina no terreno já que distinguir o que é o Exercito Livre da Síria (grupo militarmente discreta apoiado pelos EUA) da Frente al Nusra (facção jahadista sunita cujas ligações com a Al Qaeda e a Arabia Saudita são notórias) e os curdos sírios (únicos combatentes no terreno do Daesh mas também o alvo preferencial e de estimação dos turcos) mostra que, no teatro de operações, tudo é confuso, indefinido e volátil.
Esta trégua mais parece um compasso de espera no momento em que as forças leais a al Assad com um forte apoio da Rússia, Irão e das milícias Hezbollah recuperam posições no território. Será uma pausa - provavelmente muito curta - que a diplomacia sob a batuta da ONU tem obrigação de aproveitar.
Mas sendo certo que o conflito sírio deixou de ter uma solução militar a verdade é que se transformou num puzzle muito complexo onde a componente política se deixou inquinar com questões religiosas, de disputa pela hegemonia regional e, como seria de esperar no Médio Oriente, com questões energéticas (petróleo) pelo meio.
Este emaranhado de conflitos, interesses e de manobras não cabe dentro do frágil guarda-chuva aberto pelo acordo de cessar-fogo anunciado pelos EUA/Rússia.
Este acordo abre um exigente caminho à diplomacia política onde John Kerry, mais do que a Putin (que de certo modo controla politicamente o regime de Damasco), tem para satisfazer os seus 'aliados' no terreno. Kerry tem de ‘agradar’ a Riad, a Telaviv, a Ankara, garantir os compromissos assumidos com os curdos o que pode ser uma tarefa impossível. Só muito lateralmente mexe como o principal problema da região: o Daesh.
Estamos, portanto, a viver entre o improvável, o impossível e o imponderável. A saída deste sangrento conflito remonta - é cada vez mais notório - a correção dos tremendos erros cometidos na chamada 'Primavera Árabe'.
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