Comandos: “Mama Sume”, não basta…
Os dramáticos acidentes que ocorreram no último curso de Comandos e envolveram múltiplos instruendos (2 deles mortais) está a sofrer o desenvolvimento judicial dentro das normas processuais e envolto em inúmeras promessas a mais importante delas será que o assunto será investigado até às últimas consequências.
Apesar do esforço que tem sido despendido pela Procuradoria-Geral da República, em colaboração com a Polícia Judiciária Militar, persistem densas perplexidades.
O caso avança com alguma lentidão e as detenções desta semana parecem extemporâneas link.
Desde o princípio havia a noção que um curso destas características (para tropas especiais) teria de ter um comando de forte e uma instrução planeada até ao ínfimo pormenor, bem como apoios logísticos, médicos e operacionais muito estruturados e sensíveis. É um pouco incompreensível como só agora se questiona a cadeia de comando. Ao fim e ao cabo a responsável última de tudo o que possa acontecer num tão exigente tipo de instrução.
A investigação de assuntos militares ou pior de ‘acidentes operacionais’ é sempre melindrosa porque envolvem características muito específicas. Por outro lado, os envolvidos não são cidadãos comuns. Carregam sobre os seus ombros a ‘condição militar’. Mas a progressiva democratização do País é cada vez menos tolerante com espaços penumbra e os estatutos especiais, ou específicos, cada vez menos aceites.
Um conceito que cada vez mais se encaixou no arsenal democrático – a transparência – acaba por mudar os paradigmas da análise social e dos comportamentos. Deixou de ser compreensível a existência lado a lado de uma justiça militar e outra para a sociedade civil, para usar um termo em voga mas que no caso vertente significa para todos, sem exceção.
Não é fácil lidar politicamente com estas situações. A existência de forças militares especiais – cuja necessidade em termos de defesa e Segurança parece consensual - sempre padeceu de um equívoco. Uma coisa são esses tipos de forças destinadas a missões especiais, difíceis e seletivas que exigem uma preparação técnica e humana minuciosa e os chamados ‘corpos de elite’. Aliás, o conceito de elite vem de muito longe, desde os ‘mosqueteiros’, das ‘guardas pretorianas’, ou mais recentemente, dos ‘totons macoutes’, etc. e é suficientemente arrogante, quando não discriminativo, para ser atualmente usado.
O problema recai primariamente nos processos de selecção destas forças especiais e secundariamente na motivação (objectivos operacionais) e só muito no fim terá em conta a 'realização pessoal'.
Para além de exigentes testes físicos PFT (Personal Fitness Test) existem outras vertentes complementares que devem ser ponderadas como por exemplo CFT (Combat Fitness Test), Long Drag, Fan Dance, etc.. Todavia, no cerne da questão estará a (qualidade) avaliação psicológica e psicotécnica quer dos instruendos, quer dos instrutores e a clarividência das chefias.
Um dos vectores mais utilizados para a 'seleção' são os testes de sobrevivência em condições adversas e a capacidade individual de resistência à claustrofobia. Não bastam!
Todos nós conhecemos o que se passou com as ‘acções psicológicas’ durante a guerra colonial. Se existia uma dose infindável de amadorismo foi neste campo psicológico e hoje é possível questionar os resultados obtidos, nomeadamente, os protagonizados pelo general Spínola na Guiné que foram amplamente propagandeados pela comunicação social.
Todos nós conhecemos o que se passou com as ‘acções psicológicas’ durante a guerra colonial. Se existia uma dose infindável de amadorismo foi neste campo psicológico e hoje é possível questionar os resultados obtidos, nomeadamente, os protagonizados pelo general Spínola na Guiné que foram amplamente propagandeados pela comunicação social.
Em resumo, os lamentáveis acidentes ocorridos durante o último curso de Comandos, para além do apurar de responsabilidades individuais e institucionais, devem imperiosamente de levar à reformulação (reforma) de todo o quadro institucional e operacional das chamadas ‘forças especiais’, nomeadamente, quanto a questões de formação (competência, aptidões e motivações dos instrutores), bem como os critérios de recrutamento e, finalmente, dos meios técnicos e humanos disponíveis.
Toda esta reforma parte do princípio que o Estado Português deve possuir forças desse tipo face às ameaças internas e externas, nomeadamente conflitos não-convencionais, defesa interna no estrangeiro, reconhecimentos especiais, ação direta, operações de resgate (internas e externas) e, a luta anti-terrorista.
A amplitude destas funções não se compadece com improvisações. O grito “Mama Sume” hoje não passa de uma disponibilidade 'mental' (genérica e estridente) a que terá de ser acrescentada qualificação técnico profissional, avaliações psicotécnicas rigorosas e permanentes e, finalmente, da disponibilidade de meios apropriados (nomeadamente os tecnológicos).
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