Pão-por-deus versus Halloween…
A tradicional celebração portuguesa do “pão-por-deus” cedeu terreno - eclipsou-se - face às comemorações do “halloween” uma exportação anglo-saxónica, rapidamente, incorporada por cá (como de resto na Europa). Seriam coisas (festividades) idênticas se o ‘estrangeirismo’ não fosse – desde sempre e com especial acuidade nos tempos que correm - um insensível, mas marcante, ferrete de colonização. De todos os tipos de colonizações – e são muitos - que para ‘vingar’ começam pelo destroçar da identidade cultural e a alienação do património (imaterial neste caso).
No presente, nem mesmo no meio rural, uma trincheira do conservadorismo, se celebra as andanças das crianças de casa em casa, de ‘máscaras’ artesanais no rosto, saco de serapilheira na mão, carregando noutra uma abóbora esventrada ou uma caixa de cartão esburacada com velas acesas lá dentro, recitando pregões, evocando os defuntos.
Hoje, para parafrasear a onda mediática de solidariedade, ’somos todos halloweens’… . Agora, é o “trick or treat”.
Sinais dos tempos. Todavia, convém recordar, por exemplo, uma das recitações que se podiam ouvir, até há pouco tempo, na região Centro, onde misturava o caritativo e ancestral ‘bodo aos pobres’ com o culto dos mortos, já influenciado pelo legado judaico-cristão.
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
à sombra da bela Cruz
Para sempre Amém Jesus.
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
Faz favor de se levantar
Parar dar um tostãozinho.
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
…
'Tostãozinho' e 'santinho' eternas rimas deste País que, apesar das dificuldades inerentes, temos de procurar exorcizar. Uma tarefa a realizar de 'porta-a-porta', com pão e de preferência sem 'santos'.
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