A difícil catarse da guerra colonial
Quarenta e três anos depois da derrota política, militar e moral, Portugal não conseguiu fazer ainda a catarse da tragédia para que a ditadura nos arrastou, nem compreender que, após o fim dos outros impérios coloniais, era insustentável manter a mística de um país ‘do Minho a Timor’.
Juntam-se na mórbida nostalgia do “nosso Ultramar, infelizmente perdido”, a desolação de quem perdeu os bens de uma vida e a vida de familiares, os dramas de um regresso traumático, os saudosistas da ditadura, e quase 500 mil ex-militares que não aceitam que a guerra em que participaram fosse um crime, de um exército de ocupação contra povos coloniais. A síndrome de Estocolmo tornou-se o lenitivo para a dor de uma causa inútil, injusta e criminosa.
Poucos compreendem que o ato heroico do 25 de Abril foi o fim de uma descolonização que começou em Dadrá e Nagar-Aveli e continuou no ato demencial de incendiar o Forte de S. João Batista de Ajudá, para prosseguir em Goa, Damão e Diu, e acabar, fatal e tardiamente, em Angola, Moçambique e Guiné. Alguns nunca pensaram que Portugal era o único país que negava o direito dos povos coloniais à autodeterminação e que cada dia de guerra prolongava o sofrimento inútil e a perda de vidas, de quem lutava por uma causa justa e de quem era obrigado a opor-se-lhe.
José Vilhena, o caricaturista desassombrado e brilhante humorista, definiu um ‘patriota’ como ‘o que ama a sua pátria’, para logo acrescentar: “não confundir com nacionalista, que ama também a Pátria dos outros”.
Foi o nacionalismo fascista o responsável pelo atraso do nosso país e pela guerra levada aos países de outros, quando a moral, o direito e a comunidade internacional já tinham condenado o colonialismo.
Defender hoje o que já então era uma insana obsessão do salazarismo, que a cobardia de Marcelo Caetano prolongou, é um ato pouco abonatório dos defensores. Respeito os que creem na bondade da guerra colonial, bem como os que ainda peregrinam de camuflado, a agradecerem anualmente à Sr.ª de Fátima um milagre negado a 9.553 jovens, mortos, amputados ou paraplégicos, e aos incontáveis traumatizados de guerra. Crenças!
É tempo, dos que não se reveem no branqueamento do colonialismo, de testemunharem a guerra que transportam, e o que viram e souberam no teatro de guerra onde tombaram militares portugueses e guerrilheiros e familiares dos combatentes da independência dos seus povos.
A falsificação da história não honra os militares portugueses da minha geração, dignos de melhor causa, e que não mereciam os horrores que sofreram e infligiram.
Juntam-se na mórbida nostalgia do “nosso Ultramar, infelizmente perdido”, a desolação de quem perdeu os bens de uma vida e a vida de familiares, os dramas de um regresso traumático, os saudosistas da ditadura, e quase 500 mil ex-militares que não aceitam que a guerra em que participaram fosse um crime, de um exército de ocupação contra povos coloniais. A síndrome de Estocolmo tornou-se o lenitivo para a dor de uma causa inútil, injusta e criminosa.
Poucos compreendem que o ato heroico do 25 de Abril foi o fim de uma descolonização que começou em Dadrá e Nagar-Aveli e continuou no ato demencial de incendiar o Forte de S. João Batista de Ajudá, para prosseguir em Goa, Damão e Diu, e acabar, fatal e tardiamente, em Angola, Moçambique e Guiné. Alguns nunca pensaram que Portugal era o único país que negava o direito dos povos coloniais à autodeterminação e que cada dia de guerra prolongava o sofrimento inútil e a perda de vidas, de quem lutava por uma causa justa e de quem era obrigado a opor-se-lhe.
José Vilhena, o caricaturista desassombrado e brilhante humorista, definiu um ‘patriota’ como ‘o que ama a sua pátria’, para logo acrescentar: “não confundir com nacionalista, que ama também a Pátria dos outros”.
Foi o nacionalismo fascista o responsável pelo atraso do nosso país e pela guerra levada aos países de outros, quando a moral, o direito e a comunidade internacional já tinham condenado o colonialismo.
Defender hoje o que já então era uma insana obsessão do salazarismo, que a cobardia de Marcelo Caetano prolongou, é um ato pouco abonatório dos defensores. Respeito os que creem na bondade da guerra colonial, bem como os que ainda peregrinam de camuflado, a agradecerem anualmente à Sr.ª de Fátima um milagre negado a 9.553 jovens, mortos, amputados ou paraplégicos, e aos incontáveis traumatizados de guerra. Crenças!
É tempo, dos que não se reveem no branqueamento do colonialismo, de testemunharem a guerra que transportam, e o que viram e souberam no teatro de guerra onde tombaram militares portugueses e guerrilheiros e familiares dos combatentes da independência dos seus povos.
A falsificação da história não honra os militares portugueses da minha geração, dignos de melhor causa, e que não mereciam os horrores que sofreram e infligiram.
Ponte Europa / Sorumbático
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