As greves e o Governo


Só quem for cego e surdo não vê e ouve o clamor das ruas, não se dá conta da crispação que cresce em numerosos sectores da opinião pública e, em especial, entre funcionários do Estado.

Têm razão os grevistas? – Claro que sim. Ninguém aceita perder os direitos que tem por adquiridos e ver frustradas as expectativas que legitimamente acalentou. Além disso, limitam-se a exercer um direito inalienável, direito que a ditadura negava e que custou a liberdade e a vida de alguns dos melhores portugueses. E os direitos, quando não se exercem, perdem-se.

Não é, pois, criticável o comportamento dos trabalhadores mesmo onde as vicissitudes do percurso político criaram injustiças relativas e benefícios obscenos.

Há chefias intermédias que beneficiam de viatura e combustível do Estado, sem qualquer justificação. Apesar dos esforços para pôr cobro ao regabofe, mantêm-se subsídios de representação que não passam de injustas remunerações acessórias.

Então e o Estado? Que teimosia o leva a não ceder às reivindicações, muitas delas justas, dos trabalhadores que tem ao seu serviço?

Na minha opinião é porque não pode, porque o erário público as não suporta, porque a cedência levaria o Estado à bancarrota e tornaria os resultados mais desastrosos.

Posso estar enganado, mas na discussão do OE, que acompanhei com atenção, não assisti à apresentação de uma alternativa global e convincente. Apenas vi a direita a acusar o Governo de não ser suficientemente ambicioso, o que, em linguagem descodificada, quer dizer: despedir funcionários.

Comentários

Anónimo disse…
Sócrates - que neste momento deve estar a ser "entronizado" em estilo gótico, em Santarém - reage às manifestações públicas de descontentamento dos portugueses com "bom humor"...
Está tudo dito!
Anónimo disse…
..e pelos vistos bem dito.

e ainda bem para este Pais que aparceu alguem que não pensa só em votos.
Anónimo disse…
Ao eleger os funcionários públicos como inimigo a abater, Sócrates cometeu uma injustiça...se é certo, que há muitos que não valem um chavelho, também há muitos competentes e dedicados...

Sócrates, quer é reduzir a despesa pública com os funcionários, vai daí, é preciso abate-los, denegrindo, vexando, até mais não...

Claro, é fundamental, distinguir os bons, remunerando melhor mas, na óptica de Sócrates, os bons não podem ser muitos...o dinheiro é pouco, só chega para a classe política que contínua a mamar até mais não...

Se Portugal está mal, tal deve-se aos políticos que temos, nunca aos funcionários públicos e muito menos aos do privado...

Se Sócrates tem sido verdadeiro, antes das eleições, jamais as ganharia e se fosse hungaro, já tinha sido corrido...

Agora, em Santarém é a unanimidade...o ditador está-se afirmando...estamos lixados.
Anónimo disse…
Quase totalmente de acordo.
Com o CE e com o nosso Governo (isto de «nosso» não garante que tenha tido o meu voto), mas é o nosso governo.
Lamentàvelmente, cruzá-mo-nos, eu e uns amigos de direita, hoje pelas 20h00 no intervalo de um concerto na Gulbenkian,
com um dos expoentes dos 'direitos adquiridos', Sexa o Governador do BdP, habitual frequentador dolocal.
Ali e ao mais alto nivel, ainda não hove tempo para intervir. E quando fôr, seguramente sem prejuizo dos direitos adquiridos.
BM
Anónimo disse…
Ao longo de anos legislou-se sem fazer contas aos encargos. Reestruturaram-se carreiras dos quadros dirigentes e superiores e dos corpos especiais, o que se traduziu em chorudos aumentos. Concederam-se reformas de luxo a quem não descontou para elas. Diz-se que a função pública foi aumentada, em média, nos últimos anos em cerca de 10 %. Mentira! Só uma parte é que o foi ...e em muito mais. Mas agora pagam os que o não foram, porque para os outros... são direitos adquiridos. É esta a hipocrisia do Governo. Garante a uns tantos remunerações e reformas douradas (direitos adquiridos!); os restantes que paguem a crise!
É preciso denunciar que muitos dos tais ditos direitos adquiridos não o são verdadeiramente, mas sim, mais autênticamente, autênticos fraudes. Claro que o Governo a estes não toca. Onde está a apregoada coragem de que tanto fala?
O que falta ao Governo é verdadeiro sentido social de justiça...talvez porque realmente só é socialista da boca para fora.
Como se compreendem os cortes orçamentais na saúde (- o,4 %), na educação (- 4,2 %), na cultura (- 7 %) e, em contrapartida, os aumentos nas finanças e administração pública (+ 3,2 %), nos encargos gerais do estado (+ 4,1 %), na defesa nacional(+ 2,5 %, na administração interna( + 4,6 %), nos negócios estrangeiros ( + 6,3 %)? Estes números mostram a verdadeira natureza do Governo: um Governo liberal, que corta no social para aumentar no Estado, em especial na defesa e segurança. É claro que com estas políticas o Governo tem que se prevenir, pois os trabalhadores podem acabar mesmo por se zangar a valer, e daí talvez a sua preocupação com a segurança e a defesa!
Afinal qual é foi escola da maioria dos actuais goverantes? Chicago...sabiam? De facto tudo bate certo afinal!
Em suma, o dinheiro falta à maioria porque há uma minoria com as carteiras cada vez mais recheadas. Quem promove e alimenta afinal o regabofe? E até quando o Povo o permitirá?
Anónimo disse…
quem perde são sempre os mesmos... os que nada têm a ver com isto.
O Governo até poupou uns trocos com os grevistas... menos 2 dias de ordenado.
Anónimo disse…
Zé Povinho

Plenamente d'acordo, na realidade há reformados com muito dinheiro...esses teem direitos adquiridos, o governo não mexe, não tem coragem...os trabalhadores no activo, estão lixados...os que estão perto da reforma, estão em pânico...
Anónimo disse…
eu gosto é de os ver falar na televisão cambada de hipocritas primeiro andaram anos a fio a atestar o bolso e agora armam-se em arautos das finanças e da contenção não falam é nas chorudas reformas que auferem e do pouco tempo que trabalharam para não falar noutras mordomias.
é que todos estes economista estivem no B.P.
Anónimo disse…
Tem toda a razão, anónimo anterior, acumulam reformas, vencimentos, mordomias...e dizem que defendem os interesses do povo...cambada de vigaristas.
Anónimo disse…
eles comem tudo, eles comem tudo.

direitos adquiridos, para deixar em herança.

isto está bom é p'ros filhos da puta!
Anónimo disse…
«direitos adquiridos, para deixar em herança».

RE: E houve um Governo (do PSD, naturalmente) que acabou com o Imposto Sucessório!!!

Eis a justiça social pela protecção aos mais ricos.
Anónimo disse…
A suspeita já é antiga, mas os números do Ministério das Finanças, a que o DN teve acesso, vêm agora confirmá-la. Uma grande parte dos funcionários públicos que se associam às greves convocadas pelos sindicatos optam por justificar a falta, designadamente através de atestados médicos. Dados coligidos pelo Ministério das Finanças relativamente a duas greves da função pública realizadas em 2005 revelam que, em média, só cerca de metade dos funcionários contabilizados pelos serviços como estando ausentes sofrem um efectivo desconto no respectivo vencimento. Daqui se conclui que os restantes justificaram a sua falta. Na greve de 15 de Julho de 2005 - convocada pela federação de sindicatos, pelo Sindicato dos Quadros Técnicos e pelo sindicato dos trabalhadores dos impostos -, as Finanças apuraram a ausência de 24 269 funcionários. Destes, apenas 11 711, ou seja 48%, perderam a parcela do salário relativa a esse dia. Três meses depois, na greve de 20 de Outubro, convocada exclusivamente pela federação sindical afecta à CGTP, a história repetiu-se. Dos 7980 trabalhadores considerados ausentes pelos serviços, só 55% tiveram o correspondente desconto no vencimento.

in: DN
Anónimo disse…
Carlos Alberto:

Obrigado pela informação. Com este civismo não vamos longe.

Um atestado médico para justificar a falta do dia de greve é uma indignidade que coloca mal os trabalhadores que o fazem.
Anónimo disse…
só faz greve quem comunica ao serviço. os outros "fazem baixa"...

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides