A grotesca aventura da Geórgia

O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, agachado, mãos no chão, com um colete anti-balas e aninhado sob vários guarda-costas é a imagem de quem atirou a pedra e se escondeu, receoso das consequências da imponderada e violenta invasão da Ossétia do Sul e da reacção russa.

A foto veio ontem na primeira página do El País e contrasta com as imagens de firmeza e dignidade de outro facínora que o TPI mandou deter – Slobodan Milošević.

Não se percebe se o desmiolado presidente da Geórgia foi suficientemente louco para se lançar na aventura bélica sem o aval de George W. Bush, que dá o nome a uma rua da capital, ou demasiado estúpido para confiar na protecção do ainda presidente americano de quem os próprios compatriotas desconfiam.

A invasão da Ossétia do Sul deu à Rússia o pretexto que lhe faltava para entrar neste território, com o apoio autóctone, como a NATO entrou no Kosovo, e atacar a capital da Geórgia como os europeus e americanos fizeram à capital da Sérvia.

O genocida sérvio foi preso às ordens do TPI e o Kosovo, ao arrepio do direito internacional, declarou a independência unilateral, logo reconhecida pelos que acham bem reconhecer os amigos e não aceitam que os inimigos reconheçam os amigos deles.

O Kosovo é, tal como a Ossétia do Sul e a Abcásia, um estado fantoche e o precedente infeliz que «legitima», por analogia, o reconhecimento pela Rússia dos dois territórios secessionistas da Geórgia.

A Rússia, com o seu execrável nacionalismo, igual a outros que a diplomacia ocidental estimulou e armou numa incontida alegria de ver desmantelar o velho império soviético, é vítima do flagelo dos separatismos que os nacionalismos alimentam, do terrorismo islâmico e de atitudes discriminatórias e perseguições aos russos em países que a União Europeia acolheu e noutros cuja independência foi teleguiada e armada sob os auspícios de Bruxelas e Washington.

A perigosa destabilização do Cáucaso começou com um aliado dos EUA, um presidente ansioso por se tornar satélite americano, e acabou, PARA JÁ, por fazer da Rússia a potência hegemónica da região, por desprestigiar a NATO perante os países que se procuravam abrigar no seu guarda-chuva e por alterar a correlação de forças na região, com o futuro da Geórgia comprometido e a estabilidade da Ucrânia fragilizada.

Para já, assistimos a uma derrota política da NATO, a mais um catástrofe da política externa de Bush e ao aumento da incerteza quanto às consequências desta guerra que custou milhares de vítimas e exige o julgamento rápido do ainda presidente georgiano.

Nada de bom para a União Europeia e os EUA. Infelizmente.

Comentários

Camarelli disse…
Caro Carlos Esperança,

Eu concluiria de outra forma:

Nada de bom para a política de INsegurança da NATO/EUA/UE, e por conseguinte, ainda bem!

Fala-se até da criação de uma versão do TPI para julgar os que perdem as guerras lá para aqueles lados, já que o TPI/europeu anda vesgo e só vê bandidos onde quer.

Há que derrotar a hipócrita política externa Euro-EUA. As máfias ocidentais não são melhores que as russas ou chinesas, o nacionalismo cá não é melhor que o de lá, uma bomba em Tiblisi é igual a outra em Belgrado.
Mtarbustos:

Claro que concluiria de outra forma. E ainda bem.

São diferenças ideológicas que nos separam e levam a opções diferentes. O pluralismo é, na minha opinião, uma bênção a que muitos povos ainda não têm direito.
jrd disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
jrd disse…
Agora é o proxeneta do Saakashvili que quer à força que o George se monte na "sua" Geórgia.
~Esta vida do "alterne" dá sempre zaragata.
Este comentário foi removido pelo autor.
Uma vez mais a comunicação social parece deleitada com as imagens de carnificina e destruição que vão chegando da guerra esquecendo-se de procurar questionar os ossetios sobre se é verdade que o exercito georgiano massacrou a população ou se é verdade que a maioria dos ossetios querem desligar-se da georgia.

Perante tanta falta de informação fidedigna, a entrada do exército vermelho na Georgia pareceu-me até aqui um claro aproveitamento russo de alguns conflitos internos naquela região, que não tiveram todavia as proporções que os russos querem fazer crer para justificar a acção militar.

Desvio-me para uma opinião mais repartida quanto às responsabilidades do conflito.

Nota para a intervenção de Sarkozy que acho que deve o aparente sucesso obtido exclusivamente ao respeito internacional pelos cargos que ocupa na França e actualmente na União Europeia, já que pessoalmente tem uma imagem enferma de credibilidade.
andrepereira disse…
O que salta à vista desta guerra é o "anti-russismo" primário que existe em tantas partes do mundo...

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