ICAR - Regresso ao passado
Não foi só a missa que regressou ao latim e os bispos fascistas ao seio da Igreja católica. É a agenda conservadora e obscurantista que está de volta pela mão de Bento 16 e sob o patrocínio do Opus Dei.
Os anúncios, em quadros de avisos e sites de igrejas, foram recebidos com entusiasmo por alguns e cautela por outros. Mas certo, certo, é que voltam em força, ao mercado, as velhas indulgências que escandalizaram Lutero. Também regressa a arma medieval – a confissão – que permitia à Igreja policiar as almas e controlar a sociedade embora nunca tenha sido abandonada. Os crentes é que se afastaram.
Bento 16 não desiste de uma certa forma de proselitismo. O apelo à confissão, feito no último Domingo, é disso a prova: Os pecados que cometemos “distanciam-nos de Deus, e se não são confessados humildemente confiando na misericórdia divina, chegam até mesmo a produzir a morte da alma”. Cá está a ameaça do Inferno, o medo como veículo da fé, a confissão como detergente do pecado.
A insistência nos milagres é mais uma manifestação do obscurantismo a que os dois últimos pontificados regressaram. Nuno Álvares Pereira vai ser canonizado com o ridículo da cura do olho esquerdo da D. Guilhermina, olho queimado com óleo de fritar peixe. «Urbano II fez uma excepção para quem há mais de 200 anos era prestado culto e reconhecido, pelo povo, a santidade», excepção que D. José Policarpo, bispo e cardeal-patriarca de Lisboa, tinha já confirmado aplicar-se-lhe, quando o processo foi reaberto a 13 de Julho de 2004, afastando o ridículo e a galhofa. Mas este Papa não tolerou a canonização administrativa.
Faz mais o papa pela descrença do que todas as associações ateístas.
Comentários
Perguntou - inocente e intrigada - a minha cândida filha de onze anos: "Papá, onde fica o paraíso?"
Infelizmente nem todas as crianças gozam deste direito básico: o direito à inocência e a crescer sem medo...
A precaridade, a fragilização, a insegurança, a desvalorização do humano, o apagar de marcos de referência, o relativismo ético, o quanto menos estado melhor estado, o despudor orgíaco dos poderosos, o caos deliberado, o medo, no trabalho, nos direitos colectivos, na dignidade de cada um...
Um mundo em que cada um tem dignidade é demasiado incómodo, para as eminências pardas que de facto têm poder. E há que recuperar do regabofe geral que foram os últimos 100 anos.
Aqui B16 limita-se a fazer o seu papel, a aproveitar a deixa, a participar no banquete.
Respira-se tudo isso na política, na economia, nas formas de viver, na arte, talvez mais que tudo na arte, que já não sabe, ela própria, em que é que se transformou.
Há uma causa para isso acontecer, pois claro que há.
você se esqueceu que a ICAR "voltou ao passado medieval" algumas vezes nestes últimos 100 anos ???
a Espanha franquista,Croácia de Pavelic e o Vietnam do Sul de Diem forma evidências disto....