Associação Ateísta Portuguesa


COMUNICADO SOBRE A VINDA DO PAPA A FÁTIMA

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) respeita, e defende, a liberdade de crença de todos os religiosos, não se opondo à visita de qualquer líder religioso enquanto tal. Mas é preocupante que a visita de Bento XVI a Fátima, em Maio de 2010, seja palco de manobras políticas, com a cumplicidade do Estado, violando a laicidade a que este é obrigado e desrespeitando crentes e não crentes.

A visita de um papa católico é assunto da Igreja católica e não matéria do Estado português. Num Estado laico o Papa é apenas um líder religioso. Que o cidadão Cavaco Silva se regozije é um direito; que o chefe de Estado de um País laico exulte com a visita do seu líder espiritual é uma interferência nefasta da política na religião, e vice-versa; e que essa visita tenha sido anunciada fora de tempo, contra a vontade da própria Conferência Episcopal, é uma politização inadmissível daquilo que é apenas matéria de crença pessoal.

Fátima é um dos santuários mais importantes e rentáveis da Igreja católica. Estes aspectos de fé e gestão religiosa justificam a visita do Papa, mas é lamentável que esta deslocação seja considerada – como disse o bispo Carlos Azevedo – «uma visita de profundo significado, também por ser o centenário da implantação da República». Fátima foi um instrumento da propaganda contra a República e contra o socialismo. Os milagres tentados noutros locais do país acabaram adjudicados numa região onde a religiosidade e o analfabetismo os facilitava. E, hoje, a crença nas piruetas do Sol, passeios da Virgem pelas azinheiras e aterragem de anjos na Cova da Iria são uma opção pessoal, motivada pela fé e não por provas objectivas, e sem qualquer relação com a nossa forma actual de governo.

Associar a visita do Papa ao Centenário da República é uma afronta à nossa democracia, que histori-camente foi implantada, e muitas vezes defendida, contra a vontade da Igreja Católica. Viola também a neutralidade a que o Estado é obrigado em matéria de fé, imiscuindo-se um órgão de soberania em algo que é estritamente do foro pessoal de cada cidadão. E, finalmente, atenta contra a liberdade de crença e não crença de cada um, ao envolver os nossos dirigentes, e a própria República, na ligação a uma religião em particular.

A AAP não pode deixar de repudiar a associação do Estado português à visita de um líder religioso e o seu aproveitamento político numa tentativa de manipular a nossa democracia.

Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 25 de Setembro de 2009

Comentários

andrepereira disse…
Carlos Esperança: TOLERÂNCIA, tolerância, fraternidade... A República também é dos católicos. Deixemos os nossos concidadãos celebrarem a nossa República inclusiva e plural da maneira que melhor lhes aprouver, desde que respeitem o essencial: a laicidade, a igualdade e a liberdade.
André Pereira:

Onde está o respeito pela laicidade do Estado que é a matriz da democracia?
Filipe G. Ramos disse…
O que está aqui em causa é a perca do laicismo do Estado, visto que o próprio "pedido" foi formalizado pelos bispos e presidente portugueses.
Isto sim constitui o desrespeito pelas crenças, neste caso, dos ateus.
Não sou baptizado, não sou praticante de nenhuma religião: porque tenho de assistir a "convites de chá" pelo Presidente da República eleito num Estado laico?
Bem sei...a Maria é danada!
Julio disse…
Por outras palavras, viola-se a Constituição do país quando é necessário abrigar e aplaudir a superstição de terços e imagens de santos pintados com os vernizes mais caros do mercado!!!
andrepereira disse…
eu não sou inocente e sei que há uma intenção de certas forças ao trazer o chefe do Vaticano a Portugal em 2010, ano de comemoração do centenário da Revolução libertadora do domínio da monarquia, da nobreza e do jugo da ICAR sobre a Pátria portuguesa. Mas falar muito disso é a melhor forma de lhes dar força e importância.
Adamastor disse…
perca do laicismo?!?
Cá por mim, prefiro perca do Nilo...
Julio disse…
O papa vem buscar a Portugal os lucros de Fátima e outras fontes de riqueza mantendo próspero o seu comércio e parasitismo religioso. Traz, em contrapartida, além do Missal saturado de heresias e ferezas religiosas conjugadas ao longo de séculos de abuso emocional dos povos, crucifixos de bronze e latão benzidos e mergulhados em água tratada com cloro, cal e flúor, para garantir a dose de superstição que mantém um sector do povo português submisso às ditas imagens pintadinhas com os melhores vernizes da indústria de tintas!
É que, insistamos, o povo jamais beijaria imagens da Senhora de Fátima e outras se o acabamento artístico fosse medíocre. E o papa sabe muito bem dos benefícios dessas imagens bem rematadas. Depois temos o dito ator instruindo alguma fantasia moral gratuita, a fim de retornar a Roma convencido que a visita foi indispensável, pois até o Presidente da Republica o aplaudiu!
Filipe G. Ramos disse…
(afinal o adamastor que Camões saudou é gente. Sabe falar e faz trocadilhos)
Filipe G. Ramos disse…
Boa Julio Carrancho!
Mas não se esqueça que Fátima também tinha dinheiro no BPP. A gula era grande...
Que falsas orações destes bispos, cardeais e ademais comilões!
Julio disse…
O cidadão inteligente escolhe a melhor opção destas franquíssimas perguntas:
Quanto mais a religião me ameaça MAIS creio?
Quanto mais a religião me ameaça MENOS creio?
Quanto mais a religião me ameaça mais DINHEIRO lhe dou?

[“Religião” na sentença refere-se a qualquer das que estão em moda por agora, incluindo, naturalmente, a do papa.]
A terceira opção é a mais perigosa para o desenvolvimento intelectual do cidadão! Mas há outras opiniões, claro.

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