Eleições e oportunismo
As eleições, que se destinam a sufragar programas, transformam-se em oportunidades para ajustar contas e negociar benefícios pessoais. O voto deixa de ser a manifestação de uma convicção, o cumprimento de um dever cívico, um exercício de cidadania. É a oportunidade de obter emprego ou conseguir uma promoção através do cacique a quem se hipoteca a honra, a ocasião de castigar o político que se elegeu como bode expiatório das frustrações próprias ou o modo de manter ou alcançar um privilégio.
Da Igreja às corporações profissionais, das juntas de freguesia às direcções-gerais, há uma enorme quantidade de indivíduos à cata de benefícios no mercado do voto.
Já não é vulgar que um Presidente da República manifeste em público a sua preferência ou profira afirmações gravemente lesivas para uma das forças partidárias, o que nestas eleições legislativas ultrapassou o razoável.
Quando um dos principais assessores do PR (Fernando Lima) se esconde no anonimato para lançar suspeitas sobre alegadas escutas e Cavaco se cala, adensando dúvidas sobre o Governo, a política transforma-se num jogo de sombras e a colaboração institucional em farsa.
Estas eleições legislativas não se destinam a escolher o político melhor preparado para governar Portugal, onde o PSD se encontra em nítida desvantagem, por culpa de quem despediu Marques Mendes, com o interregno de Luís Filipe Meneses, para preparar a conquista do partido pela conselheira de Estado, Manuela Ferreira Leite, um manifesto erro de casting que o PR já não pode remediar.
No dia 27 resolve-se o primeiro braço de ferro eleitoral entre Cavaco e o PS, tendo o primeiro o prestígio do cargo a seu favor e o segundo a determinação do líder.
Ao PR, condenado a não poder dissolver a AR, por razões constitucionais, resta-lhe arrepiar caminho ou prolongar a disputa para conduzir o PSD ao poder. Na segunda hipótese, o país tem muito a perder e Cavaco pouco a ganhar.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
É, consciente da gravidade da situação criada ( só se pode queixar do seu comportamento) que, nesta altura, aparece esta deriva humorística...
O "humor" de Cavaco em relação à Comunicação Social, onde a história do seu assessor de imprensa continua por esclarecer, bem como a insidiosa referência aos tejejornais de fim-de-semana, foi um pouco à sua medida -chocarreiro!
É que nós temos dificuldade em engolir este tipo de humor, que se tenta "encaixar" no discurso político, cuidadosamente preparado para parecer "espontâneo", do tipo made in America... dicas, recados e todo o tipo de sound bites.
Isto é: "a minimum of sound to a maximum of sense." (Mark Twain)
Em vez do nos fazer sorrir, deixa-nos surpresos, quando não, estupefactos...
Pensamos logo que o "humorista" está atentar disfarçar algo!
Nem tudo o que se importa da América funciona por cá...