Aguentar o ‘fartar vilanagem’…
“Às vésperas do Natal, a Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) ofereceu novo presente aos bancos que deveria monitorar, principalmente, depois do rombos orçamentários que causaram à região para que fossem salvos. A EBA informou que os banqueiros que ganhem até 1 milhão de euros por ano podem pedir aos reguladores nacionais para serem excluídos de uma limitação mais dura aos seus salários…” link.
Chama-se a ‘isto’ brincar com o fogo. Esta tirada acerca da “limitação mais dura aos seus salários” é uma autêntica pérola. Segundo é ligitimo entender estaremos de falar de 'provocatórias' (será este o termo?) remunerações de mais 1 milhão de euros/ano. É aqui que poderá residir um terrível equívoco. Esta quantia não é propriamente um salário. Será, antes, uma prebenda retributiva pelo exercício de um exigente apostolado financeiro… Isto é, uma rebuscada 'técnica de captura’.
O que se está a passar é muito simples e linear: gestores financeiros, ocupando cargos de direcção nos bancos, são pagos principescamente e, por esse modelo retributivo, transformam-se em accionistas dessas instituições. ‘Alavanca-se’ (para usar um termo do economês) a transição de gestores a banqueiros. Que, em Portugal como no resto do Mundo, são selectiva e cuidadosamente ‘enxertados’ na estrutura accionista ou na reduzidíssima prole constituída pelas tradicionais - e incólumes – ‘famílias de banqueiros’ e assim dar continuidade e ‘estabilidade’ ao ‘projecto’ financeiro. Que hoje se resume numa frase: a submissão do poder políticos aos seus interesses. Quando somos confrontados com os pornográficos vencimentos dos banqueiros – situação que se pretende a todo o custo salvaguardar - é para este ‘peditório’ que estamos a dar (através dos depósitos e todo o tipo de outras operações bancárias).
Em contrapartida, os cidadãos podem esperar sentados porque novos resgates no sistema bancário devem vir a caminho. Com (ou ainda sem) o ‘modelo’ tentado - e parcialmente conseguido - em Chipre: o ‘esbulho’ dos seus depósitos, isto é, das suas poupanças. O estatuto de banqueiro - enquanto pessoa que assentou ‘banca’ - será uma ocupação (e não propriamente uma profissão) em vias de extinção semântica. De futuro, poderão ser considerados como uns novos sátrapas. De facto, além de recolectores e zeladores dos rendimentos dos cidadãos, são juízes em causa própria, nomeadamente sobre as suas sumptuosas retribuições. Apesar de tudo esta indignação poderá parecer supérflua. Não tardará o dia em que estes ‘marajás’ reivindiquem o self-service e avancem, sob os atónitos e indignados olhares dos cidadãos, em intensivas manobras de locupletação. De futuro – para evitar confusões e devassas dos cidadãos – deverão começar a passar pela caixa e levantar ad hoc o dinheiro que desejarem para governarem a 'vidinha' e promover os consequentes ‘investimentos’ (estratégicos, claro está!). Será um modelo - para uso exclusivo dos banqueiros - de uma retribuição 'libertina' inserida num incensado 'mercado livre'.
Quem deve saber explicar isto é o ‘apóstolo do aguenta’. Isso mesmo: o inefável Sr. Ulrich!. Que, certamente, um dia destes - do alto da sua sapiência - descodificará toda a imoralidade e infâmia deste imbróglio com aquilo que agora é usual e vezeiro: o estado de excepção. Uma excepcionalidade que poderá ‘justificar’, no entender do regulador europeu, a manutenção de majestáticas remunerações. A absurda confusão entre estas últimas e ‘limitações duras aos seus salários’ é a última acha para a fogueira no sentido de preservar uma ignominiosa situação de ‘morgadio financeiro’, que desde há muito se mostra um indisfarçável motor da crise em que vivemos na Europa (nomeadamente no Sul).
E, finalmente, porque a excepção prevista pela entidade reguladora europeia não consegue ultrapassar a mesquinha retoma de um dueto histórico medieval: a dos ‘ricos-homens’ e do ‘fartar vilanagem’…
Comentários
Talvez para depois poder dar umas "prendas" a quem "votou em mim".
Prndas limpimhas, sem osso...