A Europa e a sua desintegração
Acredito na Europa, de Lisboa aos Urais, apesar das deceções e dos interesses que não mudam. Guardo a esperança legada por De Gaulle e continuada por Helmut Kohl, dois gigantes da política cuja distância ideológica não me afastou dos objetivos comuns em relação à Europa.
Teria votado sempre a favor da integração europeia e do seu aprofundamento, na moeda comum e num projeto federalista onde a democracia tivesse conteúdo económico, social e político, ainda que a miopia de quem nos governava tivesse impedido os portugueses de se pronunciarem. Agora é tarde para sair do comboio em andamento, com a máquina desgovernada e a velocidade imprevisível.
A queda do muro de Berlim foi uma epopeia recebida em apoteose no país onde voltam a surgir velhos demónios. Foi, aliás, Kohl, que continuo a admirar, que cometeu o crime de apoiar, com o Vaticano, a independência da Croácia, levando a Europa a reboque na demonização da Sérvia e na destruição da Jugoslávia. Quem apoiasse a Sérvia era logo acusado de inveterado comunista e de antieuropeu. Os que previram a tragédia e se lhe quiseram opor foram enxovalhados e perseguidos. Os politicamente corretos destruíram um país e criaram a ficção chamada Kosovo, um entreposto da droga e do islamismo.
Agora faltava a Ucrânia. A germanofilia encontrou eco em toda a extrema direita que na Hungria, Áustria e Polónia reeditam a vocação suicida e fascista que germinou antes da Guerra de 1939/45. Os mesmos atores, as mesmas religiões e os mesmos fascistas têm o apoio dos mesmos, de há 20 anos, na Jugoslávia. Dolorosamente, os mesmos que há 75 anos, Ucrânia incluída, lançaram o mundo na mais devastadora tragédia de sempre, sem pensarem que a próxima pode ser a última. Até o antissemitismo criminoso ressuscitou.
Para desdita da Ucrânia e da Europa, o último dirigente ucraniano era um ladrão eleito. O fugitivo biltre, Viktor Yanukovich, só acelerou os apetites germânicos e deu ensejo à exibição fascista na praça da Independência em Kiev. O Parlamento da Crimeia aprovou hoje, quinta-feira, a realização de um referendo sobre autonomia, agendado para 25 de maio. A Ucrânia divide-se e a Europa rompe-se num demente confronto com a Rússia.
Já ninguém sai bem desta tragédia em que a Rússia deu proteção a um gatuno e Merkel e Barroso admitiram a agitação de nazis que exibiram suásticas na roupa e no coração.
Ontem foi a Jugoslávia, hoje é a Ucrânia e, com elas, é a Europa que se desintegra ou se torna um protetorado alemão, de costas viradas para a Rússia.
Comentários
Será?
Inevitabilidade é algo que não esperaria encontrar por aqui, Esperança