Voltaire, o Cândido e a comunicação social

Esquecido da propriedade dos órgãos da comunicação social, julguei que a propaganda ao Governo correspondia à melhoria das condições de vida dos portugueses e à queda do desemprego. Para ter a certeza de que os jornais não me enganavam, vi a SIC, entre as 23H00 e as 14H00 e tive a certeza de que a economia estava próspera, apenas urgia fazer acertos estruturais, isto é, despedir os funcionários públicos.

Decididamente, segundo ouvi, tudo corre pelo melhor no melhor dos mundos. Suspeitei da fartura e lembrei-me de um tal Dr. Pangloss para quem, também este, é o melhor dos mundos possíveis, onde tudo corre bem e da melhor maneira.

Acabei por me dar conta de que em vez de um Dr. Pangloss estavam dois, dirigidos pelo avençado José Gomes Ferreira. Só quase no fim me lembrei donde conhecia os teólogos da felicidade que nos coube.

Voltaire tinha adivinhado a sua existência e o ridículo a que os submeteu encontra-se lá no «Cândido», obra a que urge regressar. Só não disseram que as desgraças da invernia – como garantiria o Dr. Pangloss –, eram a prova do otimismo que os acompanhou.

As teorias de Pangloss são perfilhadas por Passos Coelho e Portas, ainda que o primeiro nunca ouvisse falar de Leibniz e da sua crença no mundo perfeito. A nós, portugueses, só nos falta um Voltaire que os ridicularize e exorcize esta campanha de felicidade com que se preparam para nos embalar antes das eleições europeias.

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