As próximas eleições presidenciais_6


A guerrilha da direita está no terreno. Não bastaram os anos de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa, em proveito próprio, nas televisões. Agora, que deixou a profissão de comentador em um só canal, passou a comentador de todos os canais, jornais, emissoras de rádio, folhas paroquiais, lares de infância e da 3.ª idade, sarjetas e afluentes. E, como pode não bastar, em vez de se discutir o carácter e o passado do candidato, publicam-se sondagens para desmoralizar os adversários e quem os apoia.

Só faltam as agências de rating e as opiniões de altos funcionários europeus, os mesmos que atestavam a qualidade da governação do PSD e do CDS. Marcelo deixou de ser o autor de factos políticos, o infeliz criador de Cavaco Silva, o ex-líder do PSD e passou a D. Sebastião do Alcácer Quibir da nossa irreflexão.

O homem é culto, inteligente e sem negócios escuros, um político que não envergonha, que leu Os Lusíadas e não comprou ações da SLN, que não fez permutas obscuras de vivendas nem foi catedrático por decreto, mas assegura a perpetuação do cavaquismo. Um Cavaco culto e urbano não faz um Sampaio da Nóvoa, com as mesmas virtudes e sem os seus defeitos, que não foi líder partidário nem passou férias a expensas de um banqueiro suspeito ou urdiu candidaturas em sua casa.

Esta campanha presidencial é a segunda volta das legislativas, mais lúcida e com menos esqueletos, uma digressão à boleia da comunicação social e de interesses privados, com o coro de vuvuzelas a abafar vozes dissonantes, uma gritaria dos devotos para calar os hereges, uma espécie de União Nacional para assegurar a evolução na continuidade.

Depois do salazarista inculto, provinciano e rancoroso, não se poupam esforços para as novas ‘conversas em família’ numa reedição do marcelismo.

A escolha do próximo PR tem opções melhores, tal como a do atual, que não tinha pior e não se previa tão péssimo.

Cabe aos portugueses evitar o mal que o último inquilino de Belém fez à democracia e ao cargo que ocupou. A direita não deve ganhar nas presidenciais a derrota averbada nas legislativas. Portugal merece melhor,  merece outro Sampaio, de Novo.

Comentários

Portugal merece, esse coitado, já o merece há séculos! Os portugas é que não! Fizeram-nos para merecerem o que têm, e depois irem a pé a Fátima para se redimirem.
Tudo isto é um fadário muito triste e complicado, e mete fado pelo meio.
e-pá! disse…
Na verdade, o que estamos a assistir, com manifesta impotência democrática, é a imposição de um Presidente 'feita' pelos mass media (termo anglo-latino que caiu em desuso).
Razão tinha Rangel (o falecido Emídio) quando sugeriu que as eleições presidenciais acabariam sendo como uma banca de venda de sabonetes. Disse então na antena da SIC: "Uma estação que tem 50% de share vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos bocados: um bocado de Presidente da República para aqui, outro bocado para acoli, outro bocado para acolá, vende tudo! Vende sabonetes!
Nestes tempos de confluência entre o marketing, uma desenfreada apetência consumista e uma infantil tendência para credibilidades absurdas, tudo é possível.

Mas chegamos aqui, como?
Porque se descurou e desvalorizou a importância da propriedade dos meios de comunicação. Não foi considerado um sector estratégico onde a liberdade de informação teria necessariamente de estar resguarda de manipulações dos interesses económicos e financeiros e deixamos que os sacrossantos 'conceitos jornalísticos' fossem literalmente (totalmente) pervertidos pelos proprietários desses meios ou através de serventuários. A linha editorial de muitos órgãos de comunicação presentes e actuantes no 'mercado' e os conselhos de redacção não passam de anacrónicas figuras de estilo.

O 'mercado da informação' em Portugal vive dias obscuros. A dispersão aparentemente e avulsa escondeu uma forte concentração em torno de estrategas cada vez mais visíveis. Para além de Pinto Balsemão e do seu grupo Impresa ligado a um liberalismo 'civilizado', nacional, mas simultaneamente 'bilderbergiano' (uma autêntica miscelânea de interesses), o que sobra é pertença de uma indefinida oligarquia angolana que por mais voltas que se dê 'conflui' no palácio do Futungo de Belas.
De facto, estando Angola em dificuldades orçamentais relacionadas com a crise do preço do petróleo, não nos devemos admirar que apareça no dito 'mercado' com novos produtos, i. e., a vender qualquer coisa como se fossem 'sabonetes'.
A saponificação sempre foi um veículo importante nos diversificados processos de lavagem...

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