O Sr. Schäuble, a ofensiva de direita e Portugal
Quando assisto à caricatura do ministro das Finanças alemão, vítima de um homem com problemas mentais que baleou Schäuble durante uma reunião de campanha eleitoral, em 1990, sinto solidariedade, mas quando vislumbro a arrogância teutónica e o despudor do político, seja em relação à Grécia, a Chipre ou a Portugal, sinto raiva.
Nesses momentos vem-me à memória o ex-futuro chanceler alemão, ele próprio, o que negou o financiamento fraudulento do seu partido, primeiro, para ser obrigado a admiti-lo, depois, perdendo para Merkel o cargo que lhe estava reservado e ambicionava.
O Sr. Schäuble, do alto da sua inteligência e intransigência monetarista, é responsável pela desregulação dos mercados, a sinistra entidade de que é um alter ego. A Alemanha deve-lhe a reunificação e a Europa ficará a dever-lhe a desintegração.
A tentativa de obrigar depositantes cipriotas a pagar as falências bancárias, sem respeito pela legislação que acautela os primeiros 100 mil euros, revelaram um político desleal. As declarações insultuosas quanto às decisões eleitorais dos gregos mostraram a relação difícil do homem com a democracia. As recentes afirmações sobre a política portuguesa, apesar da pusilanimidade dos cúmplices autóctones, são uma intromissão grosseira que que atenta contra os interesses de Portugal e o respeito pela sua soberania.
Nenhuma economia aguenta o efeito perverso da conjugação de esforços dos mercados, da desregulação e especulação financeiras, das agências de rating e da solidariedade dos cúmplices do ultraliberalismo, mas nenhum povo se deixará humilhar até perder a honra e o direito à sobrevivência.
Aliás, a Alemanha é hoje uma ameaça europeia, também por culpa do Sr. Schäuble. O Deutsch Bank tem uma exposição no mercado de derivados equivalente ao quíntuplo do PIB da zona euro e mantém 20% do que valia em bolsa quando da falência do Lehman Brothers. Quando Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças, adverte Portugal para o perigo é um ruído para desviar atenções da catástrofe coletiva que nos espera.
A chuva que fustiga e gela Portugal, nestes dias de inverno, agrava-se com a corrente de ar frio que sopra de Berlim a favor de quem o Sr. Schäuble gostaria de ver no Governo.
Comentários
De facto, o ministro alemão tem pontos de contacto histórico-geográficos, parecenças mitológicas e tiques comportamentais com os velhos 'cavaleiros teutónicos', seus longínquos antepassados.
Será o espelho moderno destes militantes e também mercenários que andaram pela Europa do séc. XIII ao XV a impor, pela força, o cristianismo. Foram uns aliados dos 'cruzados' e para participar nos saques e nas pilhagens escondiam-se por detrás de símbolos (como o da cruz). Schauble reflete estas 'imagens'.
Os cavaleiros teutónicos não transformaram a Europa de então numa paradisíaca 'terra santa' mas tomaram conta a Prússia e conseguiram criar um sacro-império até que Napoleão lhe pôs, aparentemente, fim. Na realidade, uma aparência.
Na verdade, a 'arrogância teutónica' persistiu no tempo e está por detrás do conceito de raça 'ariana', com as consequências que todos conhecemos.
E estes 'militantes cavaleiros' terão contemporaneamente regressado - melhor, sobrevivido - em figuras bastardas de que o senhor Schauble é um (mas não o único) lídimo exemplo, com outra e nova 'missão': Dilatar o monetarismo a cavalo do neoliberalismo...
Para uma nova época, uma nova missão, com novas roupagens, mas com velhos ideais...
A cavalgada [teutónica] que Schauble anunciou na última reunião do Eurogrupo, quando quis interpretar - e endossar - aquilo que chama o 'nervosismo' dos mercados, poderá ser a presunção (dele) de que a periferia da Europa será brevemente convocada para 'salvar' o Deutsche Bank...
O plano B - exigido por Schauble nessa reunião - que Passos Coelho, ontem, no Parlamento quis conhecer em pormenor é um (macabro) assunto que o presente inquiridor do PSD ajudou a 'construir' no seio do PPE.
Trata-se de tentar eternizar (institucionalizar) as progressivas e atabalhoadas transferências financeiras da periferia para o centro europeu que o Governo anterior, durante 4 anos, convicta e ideologicamente, promoveu e tentou apresentar aos portugueses como a 'austeridade necessária'...
Passos Coelho, não necessita de ser informado sobre o hipotético 'plano B'. A sua inquirição é manifestamente hipócrita. Os portugueses reconhecem que terá sido um dos seus autores e que anseia voltar a ser um dos seus 'fautores'. Este será, provavelmente, o seu 'Plano C': ELEIÇÕES JÁ!