‘Petite mémoire’ acerca de genuflexões…
Toda a gente tem a noção de que Bruxelas está apostada em dificultar a acção do actual Governo. Estar no poder, neste momento, sob o signo da anti-austeridade, não pode agradar às personagens que se instalaram nas instituições comunitárias. O artigo que escreve hoje Pacheco Pereira sobre a existência de um terreno armadilhado para este Governo diz quase tudo link.
E o ‘quase’ advém do facto de ter surgido uma inesperada acusação. Passos Coelho insinuou num Congresso Autárquico nas Caldas de Rainha que o Governo está ‘ajoelhado’ perante Bruxelas link.
Nem o mais esclarecido analista político poderia antecipar tamanha aleivosia. Mas esta nova inflexão do ex-primeiro-ministro na campanha de denegrir António Costa traz ‘água no bico’.
Trata-se de uma afirmação feita por um homem que durante 4 anos caminhou regularmente para Bruxelas. Ele lá sabe como o fez. Se foi de pé, de joelhos ou a rastejar.
Uma coisa os portugueses devem recordar-se. Da postura de um influente membro do seu Governo (até à sua demissão) em relação ao máximo expoente político e incondicional fã das políticas de austeridade (Wolfgang Schäuble).
É só olhar para a foto e reconhecer o, na altura, nº. 2 do seu Governo - Vítor Gaspar.
Como está?
- De joelhos, de cócoras ou reverencialmente atento e obrigado como se fosse um seu criado?
Foi balançando entre estas posições que o XIX Governo Constitucional conviveu, durante uma legislatura, com as instituições europeias e com os representantes dos sacrossantos mercados.
Resultado: o actual desvario! Andar com a moleirinha baixa tanto tempo perturba a capacidade de discernimento e, se calhar, causa ‘visões’.
Comentários
Muita tinta se gasta com o caso Banif e com o governador do Banco de Portugal, como se tivesse sido o governo que escolheu o governador, ou como se o Banco de Portugal tivesse poder para executar políticas do governo português... É tudo uma farsa!
Certos estarão por ventura muitos daqueles que já não votam...
Considero, no entanto, que os 'representantes populares' podem ainda ir além da perversão enunciada. Podem, por exemplo - e não queria usar uma linguagem salazarenta - vender-se a 'interesses estrangeiros'. Bem sei que num mundo globalizado e num contexto alargado (europeu) o termo 'estrangeiro' pode estar ultrapassado. Então, seria melhor clarificar o conceito de Pátria para esclarecer cabalmente os 'patriotismos de conveniência' que se misturam com 'traições de grupo'.
Na verdade, muitos cidadãos não participam no processo democrático porque se 'convenceram' da incapacidade do sistema, ou dos regimes, em promover mudanças.
A crença em virulenta disseminação é que tudo - mas mesmo tudo - se decide no âmbito do G8 e/ou do 'Club Bilderberg'.
Votar transformou-se, por isso, num ritual, porque grassa a convicção que qualquer tipo de alternativa de alteração qualitativa política, económica, financeira e social está, hoje, bloqueada.
A perversão crescente à volta de uma obscura 'governação mundial', fora de qualquer escrutínio popular, ganha todos os dias terreno é alimentada pelas grande potencias (financeiras) e por uma vasta comunicação social inquinada por essa correlação de forças. No passado, se olharmos ao poder que já usufruiu a ICAR, verificamos que a Europa - até à Paz de Vestefália - já andou por esses pestilentos caminhos (de fomes, de guerras e de genocídios).
Porque razão caminhamos de novo para uma reincidência?
Esta é uma a discussão que urge promover.
É que sendo o homem um animal, a sua vocação máxima, gravada bem fundo no seu código genético, é de marcar como objetivo primordial da sua vida a sua própria sobrevivência. Os homens, como todas as criaturas do reino animal, sabem geneticamente que vivem num planeta que lhes é hostil, pelo que têm que ser egoístas se quiserem sobreviver o suficiente para chegarem à idade de procriar e, se possível, viverem um pouco mais para ajudarem os filhos nessa luta sem trégua da sobrevivência.
Só assim a espécie evita a extinção.
A mais que os outros, os homens são animais que têm a arma da razãopara se defenderem e para atacaram os outros animais (aí incluídos os outros homens). Por isso passam a vida a jogar com seus semelhantes o jogo "O Dilema do Prisioneiro". Jogo perverso que paga 100 para 1 a todo aquele que for capaz de desrespeitar um seu semelhante honesto e respeitador.
Não se trata, portanto, de reincidência, mas de regresso à normalidade.