Ziguezagueando sobre o Islão e a liberdade
Se perseguirmos os que divergem de nós abdicamos do respeito
que exigimos. Temos o dever de proteger os islamitas da xenofobia que grassa na
Europa onde a direita política começa a ter como única alternativa a extrema-direita,
caucasiana, cristã e nacionalista.
A defesa dos crentes, de quaisquer crentes, não exige cumplicidade
com as crenças que os intoxicam. Não faz parte da cultura humanista, que nos
moldou, dar a face incólume à bofetada igual à que nos desfeiteou a outra.
Quando trocamos princípios por benefícios acabamos por
perder uns e outros. Por mais que me esforce para entender uma religião que não
se limita a impor normas aos crentes e quer impô-las aos outros, não o consigo.
A tradição, frequentemente invocada, remete-nos para usos
erradicados pela civilização. Continuo a respeitar os crentes mas a ser
intransigente para com todos os totalitarismos, seja qual for a sua natureza.
A libertação da mulher, o fim do esclavagismo, a abolição da
tortura, a democracia, em suma, o respeito pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos não se pode submeter à vontade de Deus interpretada pelos
funcionários de quaisquer religiões.
As teocracias que florescem no Islão não permitem a
liberdade de culto de outra religião e exigem que as mesquitas sejam erigidas
na Europa pluriétnica. Impõem o respeito que negam aos outros. Não há respeito
mútuo sem reciprocidade.
A mais boçal caricatura de uma sociedade civilizada é o
Estado Islâmico e a perversão mais ousada do proselitismo encontra eco na
organização Daesh, a nova Al-qaeda cuja derrota ameaça espalhá-la em células
terroristas à escala planetária.
Quando a religião se transforma num caso de polícia, na
ameaça global, no proselitismo boçal, o combate na defesa da civilização é uma
exigência dos que recusam submeter-se ao despotismo de um monoteísmo implacável
e criminoso.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Não me parece que a divergência seja grande. Subscrevo facilmente o seu elegante e ponderado comentário, quiçá devido à influência dos mesmos autores e idêntica postura cívica.
Agradeço o comentário e a reflexão a que me obriga.
Aqui ficam duas opiniões que perfilho.
«O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser céptico, ou melhor dizendo indiferentista» Sampaio Bruno, in «A Questão religiosa» (1907).
«O Estado nada tem com o que cada um pensa acerca da religião. O Estado não pode ofender a liberdade de cada qual, violentando-o a pensar desta ou daquela maneira em matéria religiosa». Afonso Costa, in «A Igreja e a Questão Social» (1895) R & L