Notas Soltas – setembro/2016

Notas soltas – setembro/2016

Espanha – Rajoy ficou a saber que 40% dos deputados não são a maioria, e a Espanha, alheia à onda de corrupção que atingiu proporções inimagináveis, é incapaz de mudar o sentido de voto para permitir uma alternativa democrática ou a simples alternância.

Brasil – A cumplicidade judicial e parlamentar, no golpe de Estado que destituiu Dilma, arruinou a reputação do País e das instituições democráticas, mostrando que as votações de governos progressistas deixam de ser respeitadas na América latina.

Aquecimento global – A ratificação do acordo alcançado em Paris, em dezembro, pelos dois maiores poluidores mundiais, EUA e China, foi um dia histórico para uma tentativa séria de prolongar a vida na Terra e salvá-la do fim prematuro.

Alemanha – Há, na ascensão da extrema-direita nas eleições regionais, à custa da CDU, motivo de extrema preocupação. A derrota de Merkel não foi por boas razões, deveu-se à sua estatura política, coragem democrática e humanismo, em relação aos refugiados.

Deutsche Bank – Com um buraco financeiro avaliado em 20 vezes o valor da economia alemã e quase 4 vezes o PIB da Zona Euro, Portugal, Espanha e Grécia não são o perigo para a economia europeia, é da Alemanha que vem o Apocalipse.

Durão Barroso – Questionado pela Provedora de Justiça Europeia sobre a sua ida para o Goldman Sachs, Juncker respondeu que Durão não voltará a ser recebido em Bruxelas como ex-presidente da CE. Quem não quer ser lóbi mau, não lhe veste a pele.

Hillary Clinton – A derrota desta candidata não é apenas uma preocupação americana, é mundial. Se acontecer, tudo o que ‘podia correr mal, correu efetivamente mal e da pior maneira’ [lei de Murphy], e Trump pode tornar-se o próximo presidente dos EUA.

Assunção Cristas – Pensou que o CDS crescera, mas só inchou, graças à habilidade de Paulo Portas a subtrair a Passos Coelho o 4.º grupo parlamentar da AR. Julgava fazer o PSD refém da sua candidatura a Lisboa e ficou refém de si própria, à espera do desastre.

Praça Alta – Não devia julgar o que aqui escrevem outros, mas ignorar o artigo de Luís Queirós, de setembro, “Contributos para um debate sobre o Interior”, é recusar avaliar o diagnóstico mais rigoroso e a mais séria reflexão lida ou ouvida na comunicação social.

Filipinas – O atual presidente, que apela à população para matar drogados e traficantes, dirigia pessoalmente os esquadrões da morte na sua cidade e, num dos casos, terá sido o próprio Duterte a executar um funcionário do Ministério da Justiça. País ensandecido.

Carlos Alexandre – O juiz que granjeara prestígio com o silêncio, destruiu a reputação numa entrevista televisiva. Com a insinuação de que é escutado e ameaças veladas, pelo muito que diz saber, perdeu consideração e comprometeu a isenção a que é obrigado.

Eutanásia – A discussão já chegou a Portugal e não é com silêncio que se trata o tema, que interessa a todos e é dilacerante. É um direito individual, mas seria lamentável que não merecesse uma séria reflexão a nível nacional.

Dívida pública – Há muito que se sabe que as dívidas de Portugal, tal como as de Itália, Grécia, Espanha ou França são impagáveis, sem reestruturação e perdão parcial, mas os credores fingem que esperam ser ressarcidos e os devedores fingem que irão pagar.

União Europeia – A incapacidade para aprofundar a sua integração económica, social e política conduzirá à desintegração, um desastre que terá consequências dramáticas para a democracia, o bem-estar e a geografia política de várias das suas nações.

Terrorismo – A Europa não pode permanecer refém do medo, sem impor respeito pelo seu ‘ethos’ cívico e democrático aos imigrantes, trocando a liberdade pela segurança e a cidadania pelo multiculturalismo. Se abdica da laicidade compromete a democracia.

Venezuela – Pior do que o fracasso da governação, a que não foram alheios a baixa do preço do petróleo e os interesses do poder económico, é a teimosia de conservar o poder a qualquer preço, contra a vontade popular. O presidente Maduro perdeu a legitimidade.

Reino Unido – A reeleição do líder trabalhista, Jeremy Corbyn, com 61,8% dos votos, dos militantes, depois de acusado de esquerdista pela maioria dos seus deputados, revela que os sociais-democratas recusam ser satélites do liberalismo do Partido Conservador. 

Coleção Miró – O conjunto de 85 obras do pintor catalão, reunidas pelo desvario de um banqueiro desonesto, Oliveira e Costa, fica em Portugal. A dívida resultante das fraudes dele e de outros ex-governantes, no grupo SLN/BPN, fica para todos os portugueses.

António Guterres – Venceu também a quinta votação do Conselho de Segurança para secretário-geral da ONU. As cinco vitórias destacadas, em votações secretas, não lhe garantem o cargo, mas emergiu como a personalidade melhor preparada para o ocupar.

ONU – O aparecimento de uma candidatura não escrutinada [hoje, dia 28] é o resultado de interesses protegidos por negociações ocultas. A sua eventual vitória é a humilhação do cargo. Guterres tem a coragem e isenção de Dag Hammarskjöld. Foi uma Kristalina golpada.

Espanha 1– A impossibilidade de a esquerda se unir, vítima das contradições internas e do ego dos seus dirigentes, obriga os eleitores a esquecer o espírito predador do PP, que a série de escândalos financeiros comprova, e a dar-lhe nova possibilidade de governar.


Israel – Com a morte de Shimon Peres, ex-presidente e Nobel da Paz, perdeu um dos mais ilustres fundadores e um raro modelo de moderação da região, onde o sionismo é um elemento acrescido de destabilização. Shimon Peres pregou a paz no deserto.

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