Apontamento Era festa e Procissão. Nas ruas mal andamosas Havia restos de rosas A atapetarem o chão. Das aldeias mais remotas, Vinham aos grupos, sem pressas, As gentes simples, devotas, Cumprir as suas promessas. Umas deixavam no leito Um doente em estertor. Outras traziam no peito A chaga de um triste amor. Esta vinha, de joelhos, Sabe lá Deus com que esforços, P’ra remir pecados velhos E buscar trégua aos remorsos. Aquela, de preto, vinha Trazer a vela de cera, Por alma de uma filhinha, Que há três dias lhe morrera… E muitos, muitos, em séries Que nunca mais acabavam, Batidos das intempéries Dos fados que os maltratavam. Obedecendo, curvados, Ao chamadoiro dos sinos, Com os corações esperançados Na volta dos seus destinos… E nas janelas burguesas Das casas mais bem parecidas, Havia luzes acesas, Vistosas colchas garridas, E damas de condição A desfolharem as rosas Que atapetavam o chão Das ruas mal andamosas. Armando Moradas Ferrreira