Momento de Poesia
Acto
Eu, pecador, não confesso
Os meus pecados.
Nem peço
Que sejam perdoados.
No caminho que sigo,
Pelo mal que fizer,
Aguardo o meu castigo,
Venha de onde vier.
A minha religião
Tem só esta diferença:
Aceita a punição,
Mas recusa, orgulhosa, a recompensa.
Eu, pecador, não confesso
Os meus pecados.
Nem peço
Que sejam perdoados.
No caminho que sigo,
Pelo mal que fizer,
Aguardo o meu castigo,
Venha de onde vier.
A minha religião
Tem só esta diferença:
Aceita a punição,
Mas recusa, orgulhosa, a recompensa.
a) Armando Moradas Ferreira
Comentários
"Na revista Pública de 13 de Maio de 2007, o jornalista Luís Miguel Queirós entrevista o conhecido pensador português, Eduardo Lourenço. A dada altura na extensa entrevista, pergunta-lhe: “E como vê a Igreja Católica, enquanto instituição?”
A resposta abaixo transcrita, demonstra que este homem de esquerda, de bem com a vida, sabe destrinçar o essencial do acessório, e atento como é ao Mundo que nos rodeia, percebe qual a importância de cada instituição na sociedade, seja ela de carácter religioso, cívica ou politica.
“Creio que a Igreja só está por intermitência à altura do seu próprio passado. Curiosamente, este Papa, que é tido como um papa reaccionário, no sentido de vir reiterar uma espécie de dogmática, sobretudo na ordem ética, é, a outros níveis, um papa menos reaccionário, do que as pessoas julgam. Veio despolitizar o discurso da Igreja e é um grande teólogo. Foi o primeiro papa a fazer uma pastoral, ou uma encíclica, já não sei, sobre o tema do amor, na qual o “Eros” é tratado nas suas diversas conotações, e não apenas nessa conotação negativa e pecaminosa que o conceito tinha arrastado até hoje na visão cristã do mundo. Gostei muito desse texto, que cita Nietzsche sem “problemas de pluma”. Nietzsche! o assassino de Deus, o Anti-Cristo. Nesse capítulo, é um papa muito mais aberto do que o anterior, o celebre atleta de Deus. Mas estamos num mundo em que nem a palavra dele, nem a de ninguém, tem qualquer eco. Qualquer vedeta de televisão é muito mais importante do que ele. É pena.”