O «humanismo» e os Certificados de Aforro

[Manuela Ferreira Leite] «Dá um exemplo da sua perspectiva "humanista" face à visão "tecnocrática" de Sócrates com os certificados de aforro. "Nunca [lhe] passaria pela cabeça" mexer numa das formas de poupança daqueles que têm menos rendimentos, os que não sabem especular na bolsa, o povo mais miúdo que ela conhece, o povo do partido também. É de facto outra coisa, não é um exercício teórico, nem um título para os jornais pensado pelas agências, é ela mesmo, com as suas preocupações sociais que não são de encomenda». Pacheco Pereira in Público e Abrupto.

Quem explica a Pacheco Pereira (porque Manuela Ferreira Leite sabe) que:

1 – Os verdadeiramente pobres não têm Certificados de Aforro;

2 – Os Certificados de Aforro são também detidos por pessoas de elevados rendimentos;

3 – São detidos por titulares de cargos públicos obrigados a declarar o seu património, como tem sido divulgado pela comunicação social (Álvaro Barreto, v.g., tinha investido o montante máximo permitido);

4 – E, SOBRETUDO, com que direito o Estado se permitiria pagar empréstimos caros, com impostos de todos, podendo financiar-se mais barato, para beneficiar apenas alguns aforradores?

Comentários

Anónimo disse…
a senhor mostrou mais uma vez o limite do seu raciocionio.

''os verdadeiramente pobres não têm certificados de aforro''. Os verdadeiramente pobres não têm nada...
Como tal vamos dar cabo daquilo que os que são apenas moderadamente pobres têm. independentemente de algum homem com moderadamente algum dinheiro ter esse bem.

Noutro dia, encontraram pâo na dispensa do alvaro barreto. Vamos aumentar impostos sobre o pão porque é uma coisa que os marginais e verdadeiramente pobres não podem comprar. Só o alvaro barreto tinha dez na dispensa.

shor carlos, fica-lhe mal essa cegueira dogmatica. Ainda por cima quando esse dogma provem de uma doutrina zigzagueante de um governo dirigido por um tipo que forjou um diploma de licenciatura.

o shor carlos expõe-se com muita frequência ao ridiculo. O pior é que o shor carlos não tem essa noção.
Anónimo disse…
"Como tal vamos dar cabo daquilo que os que são apenas moderadamente pobres têm."

Sem dúvida, o Sócretino tem na mira os quase pobres, as suas medidas visão, empobrecer os portugueses, pô-los de mão estendida.

Enquanto os políticos, os especuladores da bolsa, a banca se pavoneia por conta do povo, o Carlos Esperança, defende o actual governo, é preciso ter lata.

Ser de esquerda, é acima de tudo, ter preocupações sociais e laborais, nunca a postura permanente de penalizar o povo.
Anónimo disse…
Obrigados,assim se vê como é 'livre' pensamento...
Simplesmente,asqueroso!
Já se esqueceu do ajoelhar de sócrates perante os belmiros a CIP(olha,p.ex.-o aeroporto da Ota,apesar do combustivel caminhar para a estratosfera,oq mostra a profundidade de antevi~sao desta gentinha) e FOOOOORTe para com os pobres.E depois,vêm com a treta do Pina Moura,do coelhone que n~ºao é corrupção.Poi não,doutor estamos mesmo a ver que nãooooo
e-pá! disse…
O ANTAGONISMO: HUMANISMO/MERCADO

O grande problema não é saber quem é que detém os certificados de aforro.
Mas, penso que, se fosse esse o caso, as instituições de crédito estão em condições de fazê-lo.
O que me incomoda são os verdadeiramente pobres, os medianamente pobres, os pobrezinhos, os remediados, os que se desenrascam ou até o Sr. Álvaro Barreto.

A verdade é que, os certificados de aforro, sempre foram apresentados pelos responsáveis e instituições financeiras como um meio e um instrumento de incentivar a poupança popular.
Hoje, não há estímulo à poupança. Qualquer que seja.
Valoriza-se o consumo, o endividamento, a penhora do ganhos actuais e futuros
Tem a ver com a lógica de mercado e as opções marcantilistas que, partidos como o PS, devia acautelar.
Gastar, tende a ser sinónimo de empreendedor, investidor.
Aquele que poupa, aforra, investido em titulos de divida pública, para criar um "pé meia", que lhe permita enfrentar uma necessidade futura, está equivocado, é um homem pré-histórico.

Aliás, a hipocrisia é tanta, que se houver, por exemplo, um cidadão com uma divída pública, não satisfeita a tempo, os juros oficiais são elevadíssimos (11%?), (para além da vergonha de uma penhora pública e publicação na internet).
O cidadão devia especular na Bolsa através de aplicações de risco elevado, como os famigerados "subprime", e assim contribuir para criar crises financeiras mundiais, i. e., a conjugação do
alto risco associado à baixa qualidade.

Ou, então, o cidadão renitente, sempre lhe resta a hipótese de, secretamente, o colocar de baixo do colchão.
Secretamente, primeiro, para não ser roubado, depois, porque se for descoberto, será acusado de obstrução ao desenvolvimento económico e um refractários opositor aos escandalosos lucros bancários (este ano 20%?) e da especulação bolsista deles dependentes...

Nada disto tem a ver tradição e humanismo.
É o Estado que deixou de ser um organismo de boa fé. Nada garante em termos de direitos. É lesto, quando não leviano, a retirá-los.

A fractura política e social não passa onde Pacheco Pereira a quer colocar. É muito mais profunda e mais vasta. Tem a ver com a seriedade e a honestidade com que o Estado lida e trata com os seus cidadãos.

Problema que é transversal no espectro político nacional. Que nem político é!
Trata-se de uma questão ética. Da ética republicana, seja-me permitido acrescentar.
Anónimo disse…
Caro e-pá:

Repito a pergunta que faz a síntese do meu post:

O Estado tem o direito de se financiar a um juro mais elevado do que aquele que o mercado lhe permite? No meu ponto de vista faz parte da ética republicana defender os interesses do Estado.

Parece-me bizarro e arriscado que o Estado faça justiça social através do inflacionamento dos juros das poupanças.
Anónimo disse…
ó meu,

eu sei que tu não percebes mas de qq maneira vou tentar explicar.

Existem várias maneiras de o estado se financiar. O estado não se consegue financiar apenas através de uma fonte. Não ha nenhuma entidade que faça tal favor ao estado, por questões de diversificação de risco. Estas várias fontes ''cobram'' juros diferentes. é por isso que os certificados de aforro têm um limite maximo por pessoa. Por uma questão de prudencia o estado deveria manter a atractividade dos certificados de aforro. Um belo dia, acordamos com uma crise mais ou menos pronunciada nos mercados de divida, semelhante à que vivemos hoje em dia e os spreads dos juros disparão. Ai o estado terá que se financiar de uma forma mais dispendiosa. E lembrar-se á da almofada que esvaziou chamada certificados de aforro. Depois tentará reactiva-los mas o aforrador pensará, vou mas é por o dinheiro num banco porque quando isto passar, estes tipos voltam a tirar isto. E irão por o dinheiro no banco, a uma taxa igualmente atractiva mas que à partida sabem todas as condições em vigor por imposição legal. Trata-se pois também de um problema de credibilidade em jogos de interacção multipla. Pior, é uma má politica de gestão do risco. É um desincentivo à poupança e um sinal de descredibilização.
Mas como o socrates não diz isso, o shor esperança não capta os efeitos de médio prazo. O horizonte temporal é 2009. Não consegue pensar para além disso. A menos que seja benefico para a Mota-Engil.

Um abraço amigo shor esperança
Anónimo disse…
no meu post anterior por lapso escrevi disparão quando queria ter escrito disparam
Anónimo disse…
Seguindo o tortuoso raciocínio do meu amigo Carlos Esperança (desculpa lá o adjectivo), também poderia afirmar-se que a lotaria popular deveria acabar, pois os verdadeiros pobres não compram lotaria.
É evidente que a perversa medida do governo, ao baixar os juros remuneratórios dos novos certificados de aforro, e ao diminuir a rendibilidade dos da série B, tornando estes populares títulos da dívida pública menos atractivos, pretende, de uma forma encapotada, financiar a banca pela perdas sofridas com o crédito imobiliário mal parado, noa últimos anos. Nos Estados Unidos, foi a Reserva Federal a financiar directamente os bancos, com o dinheiro dos contribuintes. Em Portugal, manhosamente, o governo encaminha os seus aforradores para os tentaculares braços do capital financeiro, disfarçando a crise, pois, como se sabe, a liquidez dos bancos diminuiu.
Também o argumento dos hipotéticos benefícios para o Estado, por recurso ao financiamento na banca, em detrimento do financiamento através dos certificados de aforro, é falacioso. As taxas de juro que o Estado praticava na remuneração dos certificados de aforro são muito inferiores às que paga nos empréstimos contraídos directamente na banca. Os banqueiros não são estúpidos.
E, por fim, para demonstrar a irracionalidade da medida e quanto ela é gravosa para os pequenos aforradores, bastaria dizer que os próprios bancos apressaram-se a criar produtos semelhantes aos certificados de aforro, com taxas remuneratórias irrisórias, bem disfarçadas, e que apresentam ao aforrador desiludido, mas que se sente inseguro para aplicar a sua pequena poupança em produtos financeiros de maior risco.
No meio desta triangulação de interesses, perde o Estado, que tem de pedir mais dinheiro à banca, a preço mais elevado, perde o pequeno aforrador que, por desconhecimento e medo, não avança para a especulação bolsista, e ganha o banco, como sempre.
Pela minha parte, só tenho a agradecer ao governo a sua boa vontade em pretender ajudar-me a valorizar a minha pequena poupança, concentrada em certificados de aforro.
Em síntese, poder-se-ia afirmar que o governo socialista, numa perfeita ficção alegórica ao capitalismo triunfante, pretendeu promover os aforradores a investidores.
Anónimo disse…
Caro Alexandre Castro,

Permita que lhe faça um reparo.

A reserva federal, é um orgão privado detido pelos vários bancos do sistema. No fundo é o sistema que se financia a si próprio, delegando no presidente da republica a nomeação do presidente da reserva federal. Antes de atacar, saiba o que está a atacar. Se não os seus argumentos caem em saco roto. Como acabaram por cair. Recorra a outras formas de informação que não unicamente o francisco louçã.

anonimo das 05:25:00 PM
Anónimo disse…
Caro anónimo:
A Reserva Federal Americana é o Banco Central dos Estados Unidos da América e é formado pelos bancos membros privados, mas onde se incluem os Bancos da Reserva Federal (Federal Reserve Banks) do Estado (uma espécie de Caixa Geral de Depósitos lá do sítio, sem a função de retalho). Os títulos da dívida pública do estado americano, de um valor astronómico, actualmente,(principalmente comprados pela China)entram no mercado através dos Bancos de Reserva Federal, que em contrapartida tem de pagar um valor, também astronómico, de juros, oriundos naturalmente dos impostos.
A política monetária é implementada através da compra ou venda de títulos, incluindo os da dívida pública, e aumentando-se ou diminuindo-se a taxa de desconto da taxa de juro a que os bancos pedem empréstimos à Reserva Federal.
Ora, neste mecanismo, o dinheiro do Estado americano está envolvido, e de que maneira, nos fundos da Reserva Federal.
Por outro lado, informo-o que o Presidente dos Estados Unidos nomeia os sete membros do Conselho de Administração (Board o Directors), e não só o seu presidente, como afirmou,deixando assim no ar a ideia de que os restantes membros do conselho poderiam ser nomeados pelo bancos privados (membros), e estando sujeita, esta nomeação, à ratificação pelo Senado.
Mas não é a dicussão do carácter privado com funções públicas da Reserva Federal que aqui é importante, mas sim o carácter perverso da desvalorização dos certificados de aforro.
Um conselho final: não é pela força hercúlea e desproporcionada como chama ignorantes aos outros que vai ter razão. E também não tem razão, porque demonstrou não compreender os mecanismos da dívida pública, de que não fala. Assim como não se pronunciou sobre o valor das taxas de juro que os bancos cobram pelo dinheiro emprestado ao Estado, que são muito elevados.
A alusão a Francisco Louçã é absurda e despropositada, embora fique sem saber se, quando o nomeia, se está a referir, o político, que eu não apoio, ou o professor de economia, que respeito.
Anónimo disse…
Caro Alexandre Castro,

Em matéria de qualquer instrumento de divida sinto-me perfeitamente à vontade.
Entrando pela sua discussão do dito desatre da intervenção da reserva federal posso-lhe explicar, caso queira, as consequencias para a economia, principalmente para consumidor, caso essa intervenção não tivesse sido feita atenpadamente como foi feita nos estados unidos, contrastando com o BCE. (os mandatos diferentes a isso obrigam). Obviamente teriamos o custo do crédito a niveis bastante mais elevados cortando o financiamento à economia com o consequente agravamento (mais do que o que se verificará) economico. Estas medidas, para além de benficiarem os bancos, beneficiarão os consumidores. Um dos papeis do FED é funcionar como ''lender of last resort'', papel que desempenhou na perfeição. Podemos por outro lado ver que tal não impediu que os investidores que tomaram decisões erradas, suportassem os custos dessas decisões, veja-se a cotação bolsista dos bancos americanos, muitos deles com perdas de mais de 100%.
Concluindo, podemos ver que o FED agiu de forma exemplar, por um lado deixando a economia de mercado funcionar (as consequencias das decisões a quem as toma) e por outro protegendo o consumidor/contribuinte.

Quanto ao francisco louçã, como politico é tenebroso e como economista deixa a desejar com a sua ultrapassada doutrina marxista.
Anónimo disse…
Caro anónimo:
Já vi que pretende deslocar a discussão para o outro lado do Atlântico, anulando o debate do aspecto central deste post- a desvalorização dos certificados de aforro portugueses.
Começou por dizer, no seu último comentário, que se sentia perfeitamente à vontade "em matéria de qualquer instrumento de divida", assunto que eu trouxe para a discussão para melhor se entender os processos diferentes que têm sido tomados para resolver a falta de liquidez da banca. Aponta a intervenção do FED como exemplar, quando eu apenas me limitei a fazer o paralelo com a situação portuguesa, onde a crise tem menores proporções, e em que o governo tomou a iniciativa de acudir à falta de liquidez da banca, procurando transferir a poupança dos certificados de aforro para o sistema financeiro.
Em relação à intervenção da FED apenas disse, e nisso não fui desmentido, que o dinheiro dos contribuintes, através dos pagamentos dos juros dos títulos da colossal dívida pública, também está envolvido nas injecções financeiras do FED.
O resto das considerações, que resolveu acrescentar, não desmentiram esta minha afirmação, nem eu tenho de as contestar,porque, precisamente,repito, não colocam em causa aquela minha opinião.
E se eu respondi ao seu primeiro comentário, foi porque afirmou que toda a minha argumentação caía em saco roto pelo facto de referir que os dinheiros dos contribuintes (através do pagamento dos juros, acrescentei na intervenção seguinte) também estão a pagar a crise financeira.
Refere também, para sustentar o seu ponto de vista, a desvalorização em cerca de 100 por cento das acções de muitos bancos americanos, que assim estão a pagar a crise que parcialmente provocaram (existem outras causas para explicar a crise -o desequilíbrio entre a oferta global e a procura global, por exemplo). Mas, isso também está a acontecer aos bancos portugueses, com desvalorizações de cerca de 50 por cento. As causas são as mesmas, o que também não é novidade e, por isso, precisam de dinheiro, nem que seja o dos certificados de aforro do Tesouro.
Anónimo disse…
Caro alexandre de Castro,

No que diz respeito ao post sobre certificados de aforro, estou parcialmente de acordo consigo. Só n~~ao concordo quando diz que o estado esteja a canalizar o dinheiro dos certificados de aforro para os depositos dos bancos. Além de que os aforradores não perderiam dinheiro dadas as taxas atractivas que se estam a praticar na banca. Num horizonte temporal mais alargado, ainda que essas mesmas taxas de remunerações dos depositos desça, continuarão a exististir instrumentos que remuneram os activos a taxas tendencialmente semelhantes. Para mim a questão centra-se no objctivo de criar mais um choque no consumo, ainda que temporario e reduzido, via efeito de sustituição da poupança pelo consumo. Até 2009 vale tudo, incluindo sinalizar aos consumidores que devem consumir mais e poupar menos numa altura de incerteza em que estes estão depauperados.
Pior ainda é quebrar uma regra pela qual os aforradores tomaram decisões. Mais uma vez, no longo prazo mina a credibilidade do estado, levando a que este perca mais uma fonte de captação de recursos.
Eu só aplaudiria a medida se o objectivo fosse o de reduzir o papel do estado na economia, e coisa que não estou a ver. É mais um ziguezague destes tipos.
Anónimo disse…
Caro anónimo:
Se, na realidade, a intenção é essa, a de estimular o consumo interno através da mobilização das poupanças, e assim aumentar o PIB e obter, consequentemente, uma maior receita de impostos, a perversidade é ainda mais escandalosa.
Como, no essencial, as divergências entre ambos ficaram esbatidas, dou por terminado, se estiver de acordo, este debate em que nos envolvemos, não sem lhe dizer que apreciei os seus profundos conhecimentos sobre economia e finanças.
Cumprimentos
Alexandre de Castro

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