Parlamento Europeu: o naufrágio do acordo SWIFT...

Este consórcio de permuta de informações denominado SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), para a maioria dos parlamentares europeus, não oferecia garantias suficientes em matéria de privacidade e proteção da informação, pelo que foi rejeitado por uma expressiva votação (378 deputados contra versus 196 a favor) [*].
O acordo foi negociado e assinado pela Comissão Europeia a 30 de Novembro, i.e., um dia antes da entrada em vigor do Tratado de Lisboa que coloca sob a alçada do PE estes assuntos. Esta é uma das primeiras manifestações do “novo” Parlamento, ou melhor, a assumpção de novas competências de um orgão eleito contra a, até aqui, dominante euroburocracia de Bruxelas.
Portanto, um ténue - mas significativo - sinal de um Parlamento mais próximo dos cidadãos.
A Administração americana mostrou-se "decepcionada" com o resultado da votação. Considerava este acordo com os burocratas de Bruxelas de grande importância estratégica para a luta antiterrorista.
Por outro lado, os parlamentares europeus sempre mantiveram profundas suspeitas de que este acordo tinha outra face. Isto é, podia ser manipulado de modo a constituir um canal de espionagem dos EUA sobre os cidadãos da EU e sobre as empresas europeias.
Na verdade, independentemente da necessidade de cooperação internacional na luta antiterrorista, interessa ponderar os meios usados.
A luta antiterrorista não pode passar pelo paulatino espezinhar dos direitos individuais dos cidadãos, como se tem verificado em muitas áreas, desde a vigilância das ruas por câmaras ocultas, aos “novos” scanners a instalar nos aeroportos, entre outras “medidas” na forja... Se aceitarmos acriticamente um sem número de condicionantes às liberdades individuais – como o direito à privacidade - criamos uma sociedade do tipo orwelliano e, nestas circunstâncias, devemos admitir que, movidos pelo temor, deixamos cair os nossos valores civilizacionais frente ao terrorismo.
Para ser mais claro e directo, deixamos os nossos direitos e deveres fundamentais caírem, capitulando, deste modo, frente à barbárie terrorista.
O PE deu, aos cidadãos europeus e ao Mundo, uma inequívoca prova de soberania e de defesa dos direitos dos cidadãos europeus. Finalmente, percebemos que o Tratado de Lisboa tem, na prática política, aplicabilidade.
[*] – Nota de rodapé:
Os eurodeputados do CDS-PP, Nuno Melo e Diogo Feio foram os únicos representantes portugueses a votar favoravelmente o acordo SWIFT.
Por cá, são contra o levantamento do sigilo bancário…
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