Freiras carmelitas e liberdades individuais
A notícia de que as Carmelitas vão poder ligar o televisor para ver o Papa, quando da sua deslocação a Portugal, em Maio próximo, não surpreende quem acompanhe a vida religiosa, mas perturba os que se preocupam com a defesa dos direitos e liberdades individuais.
Não discuto se estas mulheres, que fizeram voto de silêncio, se encontram em clausura de livre vontade, se rezam por convicção e se anulam por vocação. A Irmã Lúcia, a mais antiga reclusa conhecida, morreu com odor a santidade e canonização garantida, depois de ter visto o Sol às cambalhotas, de ter falado com uma senhora muito bela, que lhe revelou segredos para o mundo inteiro, preocupada com a conversão da Rússia, e que, do cimo de uma azinheira da Cova da Iria, lhe pediu para divulgar o terço como o mais eficaz demonífugo.
Não me inquieta que a vidente tenha visitado o Inferno onde viu logo o administrador do concelho de Ourém que, por acaso, não frequentava a missa, nem que tenha previsto que um homem de branco seria baleado e que João Paulo II se tenha considerado o alvo dessa profecia.
O que me preocupa é a clausura, com a exclusiva excepção para votarem, certamente no partido que melhor defenda a família, que lhes é interdita, a obrigatoriedade da reclusão e o voto de silêncio, anormalidades a que podem pretender renunciar mas que a coacção conventual, o corte de laços com a família e com o mundo impedem definitivamente.
Será legítimo, num Estado democrático, a existência de cárceres privados, ainda que sob os auspícios da única religião verdadeira? Não deverá o Estado, à semelhança do que faz com creches e lares da terceira idade, exercer um papel fiscalizador que averigúe as relações de poder dentro desses cemitérios de gente viva, no interior de conventos onde as mais cruéis formas de relacionamento podem existir à margem de qualquer controlo?
Sabemos o que sucedeu na Irlanda com jovens metidas em conventos – por terem sido mães solteiras ou para serem afastadas das heranças –, eram vítimas de maus tratos e de tarefas repetitivas que as alienavam. Depois do julgamento dos tribunais que mandaram encerrar esses antros de violência e piedade cristã, não seria avisado que assistentes sociais, médicos e psicólogos ouvissem as reclusas fora do olhar assustador da madre superiora e do director espiritual?
Num país democrático não pode haver feudos onde a mais leve suspeita de violência se possa levantar e onde o Estado se desinteresse pela vida de quem alienou direitos que a consciência humana e as leis consideram irrenunciáveis.
Não discuto se estas mulheres, que fizeram voto de silêncio, se encontram em clausura de livre vontade, se rezam por convicção e se anulam por vocação. A Irmã Lúcia, a mais antiga reclusa conhecida, morreu com odor a santidade e canonização garantida, depois de ter visto o Sol às cambalhotas, de ter falado com uma senhora muito bela, que lhe revelou segredos para o mundo inteiro, preocupada com a conversão da Rússia, e que, do cimo de uma azinheira da Cova da Iria, lhe pediu para divulgar o terço como o mais eficaz demonífugo.
Não me inquieta que a vidente tenha visitado o Inferno onde viu logo o administrador do concelho de Ourém que, por acaso, não frequentava a missa, nem que tenha previsto que um homem de branco seria baleado e que João Paulo II se tenha considerado o alvo dessa profecia.
O que me preocupa é a clausura, com a exclusiva excepção para votarem, certamente no partido que melhor defenda a família, que lhes é interdita, a obrigatoriedade da reclusão e o voto de silêncio, anormalidades a que podem pretender renunciar mas que a coacção conventual, o corte de laços com a família e com o mundo impedem definitivamente.
Será legítimo, num Estado democrático, a existência de cárceres privados, ainda que sob os auspícios da única religião verdadeira? Não deverá o Estado, à semelhança do que faz com creches e lares da terceira idade, exercer um papel fiscalizador que averigúe as relações de poder dentro desses cemitérios de gente viva, no interior de conventos onde as mais cruéis formas de relacionamento podem existir à margem de qualquer controlo?
Sabemos o que sucedeu na Irlanda com jovens metidas em conventos – por terem sido mães solteiras ou para serem afastadas das heranças –, eram vítimas de maus tratos e de tarefas repetitivas que as alienavam. Depois do julgamento dos tribunais que mandaram encerrar esses antros de violência e piedade cristã, não seria avisado que assistentes sociais, médicos e psicólogos ouvissem as reclusas fora do olhar assustador da madre superiora e do director espiritual?
Num país democrático não pode haver feudos onde a mais leve suspeita de violência se possa levantar e onde o Estado se desinteresse pela vida de quem alienou direitos que a consciência humana e as leis consideram irrenunciáveis.
Ponte Europa / Sorumbático
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