DAVOS 2010- ainda de luto pela crise…
A estância de ski suíça continua a ser palco de reuniões onde se junta a denominada “elite” da finança mundial.
Exactamente na mesma cidade onde decorre a imbricada teia humana do livro “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann.
É o “World Economic Forum”.
A crise mundial relegou este evento para segundo plano na agenda mediática. Sendo uma reunião que junta os principais líderes empresariais e políticos, assim como intelectuais e jornalistas seleccionados, é significativo que, este ano, a notícia em destaque seja Bill Gates e a sua nova aposta por aquilo que qualifica como uma “década das vacinas”.
De resto, como sublinharam os observadores, reinou a confusão e escasseou a confiança.
Importante, no que nos diz respeito, é a progressiva perda de influência da Europa. Excepto a intervenção de Joseph Ackermann, o “patrão” do Deutsche Bank e do britânico Stephen Green, representando Banco de Hong Kong e Xangai e cuja sede é em Londres, poderíamos dizer que a Europa tinha sido excluída deste fórum.
O apagamento da Europa financeira não foi compensado pela projecção, ou por qualquer realce, derivado de intervenções, ou de propostas, oriundas dos seus responsáveis políticos.
A UE deixou-se submergir num silêncio sepulcral, só quebrado pela intervenção do 1º. Ministro grego, para “proclamar” a capacidade da Grécia para sair da crise orçamental e cumprir o serviço da dívida pública…
Os dirigentes europeus, nomeadamente, Catherine Ashton, responsável pelos Negócios Estrangeiros da UE e, Joaquín Almunia, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos e Monetários, estavam entretidos com assuntos domésticos.
Por detrás das intervenções proferidas o traço mais marcante foi a constatação de uma profunda quebra de confiança entre o Mundo político e financeiro.
Pesou sob este Fórum uma racionalidade ligeira e tecnicamente pouco aprofundada. Assim, apontou-se que o sector público teve a preocupação de salvar a Banca e, esta, deve – devido às novas políticas de crédito – ser responsabilizada pela destruição de milhões de empregos. O que, sendo verdadeiro, poderá ser a ponta do iceberg.
O Fórum de Davos, ao longo da sua larga existência, sempre foi avesso a tratar de temas como a pobreza e a ajuda aos países pobres. A ênfase sempre esteve voltada para os interesses dos países ricos. A crise esgotou os debates sobre a globalização que sempre mobilizou defensores e adversários deste fenómeno mundial, nascido do desmantelamento do poderio soviético. Neste momento, quer os políticos, quer o “mundo” financeiro, defendem o “status quo”. Nada de novas ideias…na maior parte das vezes perturbadoras.
Esses problemas de inovação e contestação ao “status quo” ficam para o Fórum de Cartagena (Colômbia), na América Latina, onde o Brasil e Lula da Silva emergem na liderança. Ao menos, para consolarmos o nosso descontentamento, uma presença visível e influente, que fala português...
Comentários