MADEIRA: Oudinot, “os tolos”, PDM’s e Alberto João Jardim…
Na verdade, quando analiso a recente e trágica catástrofe natural que atingiu a Madeira, existe um pormenor que tenho mantido "oculto". É que esse desastre natural toca-me particularmente, já que sou ilhéu - natural de uma povoação do Norte da Ilha que - para além do isolamento - pouco sofreu com o temporal.
Quando vejo as imagens transmitidas pela TV "sinto-as", "doem-me", profundamente. Durante a minha adolescência "palmilhei" aquelas ruas, aqueles largos, etc.
Vivia, enquanto estudante no, então, Liceu Jaime Moniz, em casa da minha avó, próximo do Campo da Barca. As imagens recentes que visualizei desse recanto, na altura pejada de oficinas de automóveis e um actual centro nevrálgico rodoviário, impressionaram-me profundamente.
Feito este parêntesis, queria manifestar a minha plena concordância com o explicitado no post de Rui Cascão, sobre “as canalhices”:
“No entanto, procurar as causas radicais das catástrofes não é em si uma canalhice: é o primeiro passo para definir estratégias correctas para a prevenção de catástrofes no futuro.”
Alberto João Jardim está no epicentro da resolução dos problemas imediatos da população sacrificada. Por isso acentua-se, no vulgar cidadão, a natural inibição de o criticar.
Mas Jardim, com ou sem catástrofe, continua igual a si próprio. A J Jardim não é, no Funchal, o Marquês de Pombal do séc. XXI
Em 1803 a Madeira foi vitima de um outro temporal ainda mais trágico do que o actual. Nessa altura foi destacado para a Madeira o brigadeiro Oudinot que elaborou um plano para o encanamento das ribeiras que atravessam o Funchal. Esse plano existe em arquivo na Madeira. E a competência do brigadeiro Oudinot foi plenamente reconhecida pelos madeirenses figurando, há muitos anos, o seu nome na toponímia da cidade do Funchal.
Seria interessante analisá-lo e confrontá-lo com as actuais construções em zonas ribeirinhas, com o elevado nível de impermeabilização dos solos e o recente “encanamento” das ribeiras do Funchal, obra polémica, que AJ Jardim, sem qualquer hesitação, atribuiu o “salvamento” da baixa funchalense.
Mais, a técnicos qualificados, que ousaram levantar os problemas urbanísticos do Funchal, como o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil, rotulou-os de “tontos”… E, acenou-lhes, com o Estado de Direito, como, agora, está na moda. Afirmou: tudo o que está construído no Funchal obedece ao PDM – como se este plano fosse uma verdade inquestionável. Tão inquestionável que precisa de ser revista periodicamente, claro está, um pouco ao sabor dos interesses do sector da construção civil…
Mas, para sabermos que existiram erros nas situações limítrofes das zonas ribeirinhas do Funchal, não precisamos do brigadeiro Oudinot, nem de PDM’s. Basta olhar para as imagens que nos foram chegando e que mostram uma dolorosa realidade.
Aliás, o povo madeirense, humilde e previdente, definiu com uma imensa sabedoria a situação urbanística do Funchal, no seguinte aforismo: “O que é da ribeira, a ribeira virá buscar!”
Este comentário não questiona, nem podia, a minha total e incondicional solidariedade para com o povo madeirense - no qual me incluo - nesta hora trágica. Mas uma coisa é o pragmatismo pós catástrofe do tipo cuidar dos vivos e enterrar os mortos, outra será a reconstrução com o intuito de “repôr tudo como estava…”
O temporal que se abateu sobre a Madeira deve ser entendido como uma lição em relação ao futuro. E essa lição passa pelo reordenamento urbanístico da cidade Funchal e pela criação de ampla zona de segurança em redor e ao longo das áreas ribeirinhas.
A petulância de reconstruir à pressa, sob a pressão da indústria turística e a folclórica ambição de comemorar a “Festa da Flor” em Abril dentro de um quadro de aparente normalidade, é mais uma das habituais jactâncias do Presidente do Governo Regional, que estando impregnada de uma intolerável imprudência, dá votos.
Quando vejo as imagens transmitidas pela TV "sinto-as", "doem-me", profundamente. Durante a minha adolescência "palmilhei" aquelas ruas, aqueles largos, etc.
Vivia, enquanto estudante no, então, Liceu Jaime Moniz, em casa da minha avó, próximo do Campo da Barca. As imagens recentes que visualizei desse recanto, na altura pejada de oficinas de automóveis e um actual centro nevrálgico rodoviário, impressionaram-me profundamente.
Feito este parêntesis, queria manifestar a minha plena concordância com o explicitado no post de Rui Cascão, sobre “as canalhices”:
“No entanto, procurar as causas radicais das catástrofes não é em si uma canalhice: é o primeiro passo para definir estratégias correctas para a prevenção de catástrofes no futuro.”
Alberto João Jardim está no epicentro da resolução dos problemas imediatos da população sacrificada. Por isso acentua-se, no vulgar cidadão, a natural inibição de o criticar.
Mas Jardim, com ou sem catástrofe, continua igual a si próprio. A J Jardim não é, no Funchal, o Marquês de Pombal do séc. XXI
Em 1803 a Madeira foi vitima de um outro temporal ainda mais trágico do que o actual. Nessa altura foi destacado para a Madeira o brigadeiro Oudinot que elaborou um plano para o encanamento das ribeiras que atravessam o Funchal. Esse plano existe em arquivo na Madeira. E a competência do brigadeiro Oudinot foi plenamente reconhecida pelos madeirenses figurando, há muitos anos, o seu nome na toponímia da cidade do Funchal.
Seria interessante analisá-lo e confrontá-lo com as actuais construções em zonas ribeirinhas, com o elevado nível de impermeabilização dos solos e o recente “encanamento” das ribeiras do Funchal, obra polémica, que AJ Jardim, sem qualquer hesitação, atribuiu o “salvamento” da baixa funchalense.
Mais, a técnicos qualificados, que ousaram levantar os problemas urbanísticos do Funchal, como o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil, rotulou-os de “tontos”… E, acenou-lhes, com o Estado de Direito, como, agora, está na moda. Afirmou: tudo o que está construído no Funchal obedece ao PDM – como se este plano fosse uma verdade inquestionável. Tão inquestionável que precisa de ser revista periodicamente, claro está, um pouco ao sabor dos interesses do sector da construção civil…
Mas, para sabermos que existiram erros nas situações limítrofes das zonas ribeirinhas do Funchal, não precisamos do brigadeiro Oudinot, nem de PDM’s. Basta olhar para as imagens que nos foram chegando e que mostram uma dolorosa realidade.
Aliás, o povo madeirense, humilde e previdente, definiu com uma imensa sabedoria a situação urbanística do Funchal, no seguinte aforismo: “O que é da ribeira, a ribeira virá buscar!”
Este comentário não questiona, nem podia, a minha total e incondicional solidariedade para com o povo madeirense - no qual me incluo - nesta hora trágica. Mas uma coisa é o pragmatismo pós catástrofe do tipo cuidar dos vivos e enterrar os mortos, outra será a reconstrução com o intuito de “repôr tudo como estava…”
O temporal que se abateu sobre a Madeira deve ser entendido como uma lição em relação ao futuro. E essa lição passa pelo reordenamento urbanístico da cidade Funchal e pela criação de ampla zona de segurança em redor e ao longo das áreas ribeirinhas.
A petulância de reconstruir à pressa, sob a pressão da indústria turística e a folclórica ambição de comemorar a “Festa da Flor” em Abril dentro de um quadro de aparente normalidade, é mais uma das habituais jactâncias do Presidente do Governo Regional, que estando impregnada de uma intolerável imprudência, dá votos.
Comentários
Não basta ser boçal e agressivo para afugentar responsabilidades...
"O Ministério Público (MP) abriu um inquérito judicial conjunto para avaliar as responsabilidades do ordenamento do território madeirense e para desburocratizar os procedimentos das autópsias.
Em declarações à Agência Lusa, o coordenador do MP na Madeira, Gonçalves Pereira admitiu que alguns casos de "ordenamento mal feito" possam ser responsabilizados pelo agravamento das consequências da intempérie..."
link
Claro que não sabemos o tempo que teremos de esperar por este inquérito.
Uma coisa é certa: não estará pronto antes da "Festa da Flor", em Abril próximo. Aí, haverá festejos e louvores à eficiência e prontidão do Governo Regional.