Impaciências…

Recentemente a agenda política nacional sofreu súbitas inflexões. Paira no ar uma desfocada impaciência, de todo desaconselhável perante a actual crise. Atropelam-se todos os timings…

Neste momento, o Governo deverá ser julgado pela capacidade [ou incapacidade] de cumprir o objectivo fundamental proposto para este ano – reduzir o défice orçamental público para 7, 3%.
Para isso hipotecou a sua credibilidade perante os portugueses, nomeadamente, pondo em execução um conjunto de PEC’s, que procuraram um difícil equilíbrio entre a despesa e as receitas públicas.
Mais, teve necessidade de rever as políticas sociais. Não vale a pena iludir as grandes questões com palavras. O Governo necessitou de mutilar partes importantes do Estado Social, comprometendo-se a salvaguardar o essencial [Educação, Saúde, Segurança Social, etc.]. As crises ao gangrenarem [por falta de dotação orçamental] mecanismos de prestação social acompanham-se, muitas vezes, de recuos nessa área. Esse ónus será sempre imputado ao actual Governo, mau grado a envergonhada aquiescência de Passos Coelho...

O Governo, à primeira vista, não conseguiu controlar de modo eficaz a despesa pública. Surgiram alguns precalços [submarinos, custos das parcerias publico-privadas, etc.]. Para compensar estes deslizamentos socorreu-se da transferência do fundo de pensões da PT [não é inédito este expediente] e, assim, colmatar brechas na execução orçamental.
Todavia, é necessário não perder de vista o fundamental: conseguir em 2010 um défice orçamental público de 7.3%.

Grande parte do regabofe político actual é desencadeada por múltiplos factores e dispares interesses.
Começando na marginalização [mútua e bilateral] dos partidos à Esquerda do PS, neste momento, o epicentro da contestação desenvolve-se dentro do próprio partido que sustenta o Governo.
As tomadas de posição de Francisco Carrilho, de Luís Amado e as movimentações da ala esquerda sob o alto patrocínio “soarista” [que julgávamos em hibernação profunda] agitaram as águas e arriscam-se a entregar o controlo da situação a Cavaco Silva.
O PSD, melhor dizendo a Direita, contribui para este peditório muito discretamente. Para além de algumas franjas bem pensantes, como Pacheco Pereira, Paulo Rangel, Paulo Portas, etc., que subscrevem um “governo patriótico” sem José Sócrates [fórmula que ninguém entenderá bem num quadro democrático], mantêm-se calmo e sereno, na expectativa, de que as mais recentes convulsões conduzam ao seu grande objectivo partidário – chegar rapidamente ao poder, através de eleições em condições favoráveis. De facto, só disporá delas se o Governo não cumprir o défice negociado em Bruxelas: 7.3%!

Até lá anda muita impaciência no ar...
Mas a crise política que insidiosamente começou a instalar-se, e vai desenvolver-se em “banho-maria”, não tem "arranjos de bastidor" possíveis.
Não concebo qualquer Governo que não deva ser “patriótico”. Não outorgo à Direita o monopólio de patriotismo [no bom sentido do termo]. Mas a minha profunda convicção é que, se a conjuntura política continuar a degradar-se, só há uma saída digna e democrática: eleições intercalares. Delas esperemos que nasça um novo Governo. Essa, sim, é uma solução com graves custos mas, indubitavelmente, patriótica.

De resto, estamos a ser assaltados por impaciências políticas [ou de alguns sectores políticos]. Que só podem agravar os nossos males

Comentários

e-pá! disse…
Adenda:

No mesmo contexto devem ser consideradas as declarações de Teixeira dos Santos ao Financial Times...
Como não posso aceitar a hipótese de ingenuidade política julgo estar em preparação qualquer reviravolta que, entretanto, vai sendo veementemente desmentida… até os “senhores” desembarcarem na Portela!

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