No "rescaldo" da CIMEIRA da NATO…


Está encerrada a Cimeira da NATO realizada em Lisboa.

Terá sido uma das mais produtivas em termos de declarações, de proclamações, de manifestos e de intenções. A maior parte desta “produção” refere-se a problemas pendentes há largos anos.

No campo militar, o problema maior, terá sido a Guerra do Afeganistão e a decisão de uma retirada estratégia até 2014 que, eufemísticamente, foi denominada “uma transferência progressiva” do poder militar da NATO para as forças afegãs. Passou-se ao lado das tremendas dificuldades no terreno.

Outros problemas abordados foram [ainda] rescaldos dos tempos da "Guerra Fria", como um novo sistema de defesa anti-mísseis e a renegociação do tratado START II, cujo âmbito já tinha sido acordado em Praga ente os dirigentes americanos e russos mas que, neste momento, pode ter a sua ratificação bloqueada, pela maioria Republicana na Câmara dos Representantes.

A grande inflexão em relação ao passado foi a participação da Rússia e a sua aparente disponibilidade para desenvolver parcerias no domínio da Defesa, nomeadamente, em relação às armas nucleares. Embora Dmitri Medvedev tenha demonstrado uma atitude muito cooperante, falta saber até que ponto Vladimir Putin está decidido a trilhar esse caminho. Moscovo continua a olhar os antigos Países do Leste, como uma sua “área de influência”...

Em relação às novas opções estratégicas pouco se explicitou. Desde declarações como a de Sarkosy que centra a “fonte das ameaças” à NATO no Irão, ao mais olímpico distanciamento do Oriente, onde existem potências nucleares como a China, a India, Pasquistão que, cada vez mais, influenciam os equilíbrios estratégicos mundiais, deixaram-se em aberto, inúmeras "questões quentes".

Em relação a África verificou-se a mais profundo e pungente alheamento. Na verdade menosprezou-se este Continente como um fornecedor de matérias-primas estratégicas, como um domínio que poderá, num futuro próximo, ser um perturbante foco de tensões.

O alargamento das competências da NATO, para além das funções militares, entrando em novas áreas, já do domínio político e social, como a reconstrução dos eventuais países beligerantes, no tempo pós-guerra, serão meras intenções, a verificar a sua operacionalidade e coordenação no futuro. Aliás, o primeiro grande teste será o Afeganistão.
No campo das novas atribuições no terreno da “reconstrução” pairam no ar imensas indefinições já que essas novas “atribuições” chocam, à primeira vista, com as competências de organismos internacionais, como p. exº., a ONU.
Aqui, o espaço interventivo da NATO terá de subordinar-se a funções de complementaridade que, mesmo assim, podem duplicar esforços e investimentos, nomeadamente financeiros, numa época de restrições a todos os níveis – militares, inclusive.

De resto, o "espectáculo" dos bastidores.
As manifestações “anti-NATO” decorreram com contenção, com uma expressão muito limitada e foram facilmente controladas pela blindagem policial desta Cimeira, desde as fronteiras até à dissuasora presença de forças de intervenção nas ruas. Mostraram um certo enfraquecimento do movimento cívico europeu pelo desarmamento.

O bastidor mais movimentado deverá ter sido o político. A presença de múltiplos dirigentes oriundos de diversos Países “ocidentais” permitiu diversos contactos à margem da Cimeira – como é habitual nestes eventos – que versaram o angustiante espectro da crise económico-financeira que varre o “Ocidente”., procurando – na generalidade - compromissos resolutivos que sobressaem pela sua superficialidade e por declarações circunstanciais [politicamente correctas e conciliatórias].

Em resumo: tentou-se virar uma página da História mas persistem bastantes indefinições [relativas], bem como, várias perplexidades.
Em relação à logística & organização diga-se, em abono da verdade, que Portugal mostrou ao Mundo uma elevada capacidade para promover reuniões internacionais deste calibre.

Mas a questão mais importante para o “Ocidente” continua em aberto.
E é simples:
Nesta Cimeira a segurança da Europa consolidou-se?

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