Post sobre Manuel Alegre

O meu anterior post intitulado "Ilusões e Utopias" foi reproduzido no blog incursões.blogs.sapo.pt, com os comentários que copio:

voz alheia 5

Por mcr, às 13:40


ILUSÕES E UTOPIAS

Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa



Manuel Alegre
("Trova do vento que passa")



Cavaco Silva, na sua campanha eleitoral disfarçada de exercício do cargo de Presidente, arranjou um estribilho: verbera aqueles que, segundo ele, "semeiam ilusões e utopias", referindo-se manifestamente ao seu mais directo opositor, Manuel Alegre, que assim acusa do "defeito" de ser poeta, o que, para ele Cavaco, seria incompatível com o cargo de Presidente da República.
Esquece-se - ou melhor, finge não se lembrar - de que foi graças aos semeadores de "ilusões e utopias" como Manuel Alegre, Mário Soares, Jorge Sampaio e tantos outros como eles que foi possível derrubar o aparentemente inderrubável regime fascista em Portugal.
Enquanto esses "poetas", em Portugal ou no exílio, na clandestinidade ou na prisão, "semeavam a utopia" da liberdade e da democracia, os prosaicos "realistas" como Cavaco davam-se bem com a ditadura, na qual iam tratando da sua vidinha, sem fazer ondas, mas à cautela evitando também comprometer-se demasiado com o regime, não viesse ele a ser derrubado pelos "utópicos", como veio a acontecer.
Portugal precisa evidentemente de bons técnicos para governar, administrar e gerir o País, mas para a Presidência da República precisa de tudo menos de um tecnocrata ou um burocrático guarda-livros. Para a Presidência da República precisa de alguém com alma, que seja capaz de representar Portugal e o orgulho de ser português, de devolver aos portugueses a sua auto-estima, de "semear" a esperança e a confiança no futuro.
Mário Soares e Jorge Sampaio também "semearam utopias" quando tal foi necessário, e foram grandes Presidentes da República.
Manuel Alegre também o será!

posted by ahp



entendi, desta feita, dar voz a um velho grande amigo que sabe do que fala porque sentiu na carne o que era viver no antigo regime. Talvez por isso ele tem mais esperança do que eu na hipótese da candidatura Alegre ser vencedora. Todavia, para além disso, este texto aponta certeiramente para algo que cada vez mais falta á cultura política portuguesa, ou seja á capacidade de mobilizar pela ideia e pelo ideal a cidadania. Só por isso mereceria a divulgação deste texto entretanto aparecido no blog ponteeuropa.blogspot.com. agradeço-lhe, com um forte abraço a permissão para o republicar aqui. E respondo-lhe que sou eu que me sinto honrado com a sua generosa aquiescência em ser publicado neste espaço de liberdade e discussão.



« post anterior início1 comentário:
Votei nas últimas eleições em Manuel Alegre. Gostei de sentir que era possível continuar a lutar contra o conformismo dos partidos, ser independente doa partidos e dos seus interesses imediatos. Lendo os comentários aos resultados que Manuel Alegre teve então, quase todos reflectiam que foi a sua independência que levou o Povo a votar livremente. Estivemos - Portugal independente e os portugueses independentes - a milímetros de de obter uma enorme vitória.
É pena que Alegre, agora, em vez de pedir ao Povo - venham de novo comigo - tenha preferido a comodidade de pedir ao Louçã e ao Sócrates o apoio das máquinas corruptas dos partidos. São más essas companhias, afastam milhares de boas companhias.
Por mim não irei votar, não quero na noite das eleições ouvir Louçã e Sócrates dizerem: VENCEMOS.
Monchique a 14 de Novembro de 2010 às 20:08

Comentários

e-pá! disse…
Caro AHP:

A candidatura de Manuel Alegre não mobiliza [estusiasma] as bases do PS e no BE é, de certo modo, fracturante.
Hoje as condições políticas decorrentes da degradação da situação económico-financeira e social, são substancialmente diferentes da data do lançamento da sua candidatura.
A situação política complicou-se, nomeadamente, no interior do PS.
Há fissuras por todo o lado. Começam no interior do Governo [a incompreensível entrevista de Luís Amado ao "Expresso"] e atingem sectores históricos do partido [o tal "governo patriótico" que parece movimentar o clã Soares e alguma esquerda socialista].
Nada pior para a democracia portuguesa do que, neste momento, o PS esborroar-se e abandonar, sob uma oculta [?] pressão da Direita, a centralidade política nacional.

Haverá ainda outras razões - históricas - para colher lições do actual momento político.

Não é a altura de questionar ou de tentar refundar a Esquerda.
A Esquerda para ter voz e influenciar os destinos do País, neste momento crucial, não tem muitas saídas.
A mais credível e eficiente será mobilizar-se em torno da candidatura de Manuel Alegre.
Na verdade, a Direita precisa da derrota de Manuel Alegre para dominar, por inteiro, o País.
Nem sempre as alternativas são tão vastas e ecléticas como gostaríamos...

Razão pela qual o post de AHP adquire uma imensa actualidade.
Graza disse…
Admito que este post não foi editado com o intuito de prestar um serviço a Alegre, mas também não foi grande ajuda porque, publicado o seu corpo, com a extensão a um comentário, e sendo admissível que possam vir a existir mais e de sinal contrário o resultado não é o mesmo. Depois, como não foi deixado link do post do Incursões, tive que fazer pesquisas para lá chegar e deixar resposta. Se a alguém interessar aqui fica: http://incursoes.blogs.sapo.pt/1438051.html
Caro AHP

Não posso estar mais de acordo com o seu post. Cavaco detesta a cultura e surgiu como um intruso na democracia portuguesa, com a qual, de resto, nada tem a ver. Apareceu de pára - quedas, com a áurea de economista, sendo que não passa de um vulgar contabilista. Um vazio de ideias sem um desígnio para Portugal.

Caro e-pá

É preciso distinguir entre a direcção socrática e a ala soarista do PS e as bases do PS e do BE.
À primeira vista, a a situação económica do país parece não favorecer Alegre; mas essa é mais uma razão para nos unirmos em torno da sua candidatura.
O que tem Cavaco para nos oferecer? A "providencial criatura" que acabou com a agricultura e com a nossa frota de pesca e agora olha embevecido para o mar! Que quer ajudar os desempregados, esquecendo-se de que durante o seu mandato as cifras do desemprego atingiram os máximos históricos de que tenhamos memória!
Cavaco é muito poucochinho...

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