GREVE GERAL - 24 Novembro 2010

Assinatura do acordo UGT/CGTP para a convocatória conjunta da greve geral.

No meio desta profunda e arrastada crise o que era suposto acontecer, aconteceu!
A greve geral de hoje é, por assim dizer, o corolário natural da crise económico-financeira e, em relação à crise social, uma inevitabilidade.

De pouco interessa a análise contabilística dos números. Uma greve geral que tem substrato suficiente para unir as duas grandes centrais sindicais portuguesas, tem um significado que ultrapassa as habituais e caricatas “guerras” contabilísticas. A greve foi, antes de mais, um inequívoco sinal de que a intranquilidade, a descrença e o desespero dominam o País.
As duras medidas de austeridade que os PEC’s e, por fim, o OE para 2011, encerram, têm um incomensurável rebate económico e social a que as organizações sindicais não podem ficar indiferentes.

Primeiro, é fácil constatar que o Governo não tem cuidado – como seria necessário durante uma profunda crise – da concertação social, sede própria para tomar o pulso à difícil situação que vivemos e dirimir crescentes tensões.
O Governo tem estado submerso pelos graves problemas financeiros e orçamentais [dívida soberana e défice orçamental]. Mas os portugueses têm a percepção de que existem complexos problemas para além desses.

Desde logo, esta greve geral é uma clara manifestação de que a sociedade portuguesa tomou conhecimento da gravidade dos problemas que nos afectam. O que empurra o movimento sindical para a greve é a imagem de incapacidade dada pelas forças políticas para enfrentar os problemas que surgem emaranhados e em catadupa. O espectáculo oferecido ao País tendo como pano de fundo as negociações à volta do OE 2011 terá sido, talvez, uma das mais degradantes prestações políticas.

Ao movimento sindical - neste momento de crise - interessam, essencialmente, as questões relativas ao crescimento [económico] que tenham repercursões directas no campo social. É nessa vertente que se criam empregos e se estabiliza o mercado do laboral. O crescimento é também uma condição sine qua non para a justa retribuição da riqueza e para a dignificação e valorização do trabalho.

Esta foi uma greve geral contra [todas] as forças políticas partidárias.
Contra o Bloco Central [PS e PSD] que concebeu e acordou o OE 2011, de uma austeridade gravosa para todos os cidadãos [para alguns insuportável], mas de uma inédita agressividade para o Mundo do Trabalho.
Terá sido também a manifestação do descontentamento contra os partidos à Esquerda [do PS] que, perante a dimensão da crise, não apresentaram aos portugueses [ao Governo e à AR] qualquer plano estruturado e abrangente para a resolução da crise, ficando-se por propostas de medidas avulsas, algumas meritórias, mas nitidamente insuficientes [e desconexas] para enfrentar a gigantesca tormenta que se abate sobre Portugal.

Não terá sido uma greve especificamente [cirurgicamente] dirigida contra o Governo. A governação é tão somente uma das partes do desassossego político que grassa pelo País. Teve um objectivo mais vasto. Foi uma drástica forma de luta contra as forças políticas nacionais que, de maneiras diferentes e com graus de responsabilidade díspares, têm-se mostrado incapazes de solucionar os problemas inerentes a uma crise que devasta a Europa e que, os portugueses, por serem um dos elos mais fracos [da Europa “periférica”], vão pagar muito caro.
Enfim, uma manifestação de vontades que pretende ser a bissectriz de uma indignação geral.

Embora a greve não tivesse como objectivo primordial a demissão do Governo, cabe ao Executivo, pelas funções que lhe são inerentes, entender o seu amplo significado e tirar as devidas ilações.
Hoje, no decorrer da greve, continuou [o Governo] a desperdiçar tempo e energias. Esgotou-se em esgrimir e rebater números. Deveria ter mantido a sobriedade e planificado o desenvolvimento, ou se quisermos, a aceleração dos mecanismos de concertação social que perante a diversidade das doutrinas em confronto é uma tarefa difícil, mas que esta jornada de luta mostrou serem indispensáveis.

Porque existe um facto iniludível. Reina a sensação de que a dinâmica do movimento sindical entrou na fase de enchimento, já transbordou para a rua e daí até contagiar largos sectores da sociedade, mobilizando-os e perturbando a aparente "paz social", será um pequeno passo para o processo já em marcha, mas um salto de gigante no caminho da instabilidade política, da recessão económica, do desastre social.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides