New hard times...
BCE e Eurogrupo pressionam Portugal para pedir ajuda internacional… link
BCE quer que Portugal recorra já ao fundo para salvar Espanha… link
Estes são exemplos de 2 cabeçalhos da Imprensa portuguesa de hoje que levantam a ponta do véu sobre o nosso provável [inevitável?] destino no seio da actual crise económica, financeira e social.
Tudo começa, mais uma vez, a partir de Berlim. A edição germânica do Financial Times link sugere que o recurso de Portugal ao Fundo Europeu e ao FMI tornou-se, pelos chamados mecanismos de contágio dos mercados, indispensável para salvar a Espanha – a 4ª. maior economia da UE – de fazer o mesmo, o que seria um resgate pesado [ou difícil] para a Europa.
Segundo este jornal as economias luso-espanholas estão estreitamente ligadas [como um sistema de vasos comunicantes] pelo que o recurso de Portugal aos fundos internacionais, tornou-se imperativo.
Contactado Wolfgang Schauble, Ministro das Finanças alemão, este não quis comentar a notícia, que segundo alguma imprensa europeia terá tido origem no seu gabinete.
Bem. Está montado o cerco. De pouco valeu confrontar os portugueses com pesadas medidas de austeridade, sobrecargas fiscais e cortar nas prestações fiscais. Não conseguimos evitar o pior.
As gravosas medidas que integraram os PEC's e o actual OE foram apontadas pelo Governo como inevitáveis e, mais, como o único caminho para sair da crise e evitar a repetição da situação grega. Vivemos à volta deste diktat um dos mais caricatos folhetins políticos da história política recente que, no essencial, envolveu o Governo, o PS, o PSD, o Presidente da República, o Conselho de Estado, “brigadas” de banqueiros, etc.
Recentemente, caiu a Irlanda, o “exemplar” tigre celta. Continuou a proclamar-se que a nossa situação era diferente...
Esquecemo-nos dos vizinhos. Pior esquecemo-nos da Europa como espaço comunitário. Nunca sonhamos que a Espanha pudesse sucumbir à pressão dos mercados e que a UE – que continua sem uma governação económica eficiente – necessitasse de “sacrificar” mais um País – Portugal, à voragem dos "mercados"... para tentar salvar [?] o Euro.
Na verdade, durante o último ano fizemos pesados e drásticos esforços visando corrigir erros do passado [não vamos chorar sobre o leite derramado]. Sempre com a perspectiva de “salvar” o País da presente crise com os nossos próprios meios, i.e., impondo pesados sacrifícios aos portugueses em nome de “amanhãs risonhos...”.
Toda esta estratégia política – acordada entre o Governo e Bruxelas – está na eminência de implodir. É certo que a responsabilidade não é exclusivamente portuguesa. Fomos “obrigados” a submergir na defesa do défice orçamental e na salvagurda da dívida pública, esquecendo o resto. Vivemos obcecados em produzir sedativos [fiscais, orçamentais, diria, espartanos] para “acalmar” os esfíngicos “mercados financeiros”… . Perdemos a batalha. É doloroso mas é necessário reconhecê-lo. Provavelmente, descuramos a importância estratégica em concertar políticas financeiras e fiscais com ferramentas económicas que conseguissem assegurar um crescimento [sustentável, como os economistas gostam de referir] que gerasse emprego.
Limitamo-nos a acudir ao fogo que nos lambia as botas. Neste momento, estamos a ser informados - pelo BCE e o “Eurogrupo” – que as chamas galgaram a ombreira da porta e instalaram-se na sala de estar.
Os “instrumentos de resgate” [Fundo Europeu de Estabilização Financeira e FMI], quando chegarem a Lisboa, têm o trabalho adiantado. Grande parte do saneamento fiscal, económico e social está planeado, votado e, desde hoje, aprovado. Chama-se OE/2011.
Vão vigiar a sua execução com implacável rigor. Não estarão cá para arcar com as consequências sociais. Sim, porque algum trabalho suplementar vai ser imposto.
BCE quer que Portugal recorra já ao fundo para salvar Espanha… link
Estes são exemplos de 2 cabeçalhos da Imprensa portuguesa de hoje que levantam a ponta do véu sobre o nosso provável [inevitável?] destino no seio da actual crise económica, financeira e social.
Tudo começa, mais uma vez, a partir de Berlim. A edição germânica do Financial Times link sugere que o recurso de Portugal ao Fundo Europeu e ao FMI tornou-se, pelos chamados mecanismos de contágio dos mercados, indispensável para salvar a Espanha – a 4ª. maior economia da UE – de fazer o mesmo, o que seria um resgate pesado [ou difícil] para a Europa.
Segundo este jornal as economias luso-espanholas estão estreitamente ligadas [como um sistema de vasos comunicantes] pelo que o recurso de Portugal aos fundos internacionais, tornou-se imperativo.
Contactado Wolfgang Schauble, Ministro das Finanças alemão, este não quis comentar a notícia, que segundo alguma imprensa europeia terá tido origem no seu gabinete.
Bem. Está montado o cerco. De pouco valeu confrontar os portugueses com pesadas medidas de austeridade, sobrecargas fiscais e cortar nas prestações fiscais. Não conseguimos evitar o pior.
As gravosas medidas que integraram os PEC's e o actual OE foram apontadas pelo Governo como inevitáveis e, mais, como o único caminho para sair da crise e evitar a repetição da situação grega. Vivemos à volta deste diktat um dos mais caricatos folhetins políticos da história política recente que, no essencial, envolveu o Governo, o PS, o PSD, o Presidente da República, o Conselho de Estado, “brigadas” de banqueiros, etc.
Recentemente, caiu a Irlanda, o “exemplar” tigre celta. Continuou a proclamar-se que a nossa situação era diferente...
Esquecemo-nos dos vizinhos. Pior esquecemo-nos da Europa como espaço comunitário. Nunca sonhamos que a Espanha pudesse sucumbir à pressão dos mercados e que a UE – que continua sem uma governação económica eficiente – necessitasse de “sacrificar” mais um País – Portugal, à voragem dos "mercados"... para tentar salvar [?] o Euro.
Na verdade, durante o último ano fizemos pesados e drásticos esforços visando corrigir erros do passado [não vamos chorar sobre o leite derramado]. Sempre com a perspectiva de “salvar” o País da presente crise com os nossos próprios meios, i.e., impondo pesados sacrifícios aos portugueses em nome de “amanhãs risonhos...”.
Toda esta estratégia política – acordada entre o Governo e Bruxelas – está na eminência de implodir. É certo que a responsabilidade não é exclusivamente portuguesa. Fomos “obrigados” a submergir na defesa do défice orçamental e na salvagurda da dívida pública, esquecendo o resto. Vivemos obcecados em produzir sedativos [fiscais, orçamentais, diria, espartanos] para “acalmar” os esfíngicos “mercados financeiros”… . Perdemos a batalha. É doloroso mas é necessário reconhecê-lo. Provavelmente, descuramos a importância estratégica em concertar políticas financeiras e fiscais com ferramentas económicas que conseguissem assegurar um crescimento [sustentável, como os economistas gostam de referir] que gerasse emprego.
Limitamo-nos a acudir ao fogo que nos lambia as botas. Neste momento, estamos a ser informados - pelo BCE e o “Eurogrupo” – que as chamas galgaram a ombreira da porta e instalaram-se na sala de estar.
Os “instrumentos de resgate” [Fundo Europeu de Estabilização Financeira e FMI], quando chegarem a Lisboa, têm o trabalho adiantado. Grande parte do saneamento fiscal, económico e social está planeado, votado e, desde hoje, aprovado. Chama-se OE/2011.
Vão vigiar a sua execução com implacável rigor. Não estarão cá para arcar com as consequências sociais. Sim, porque algum trabalho suplementar vai ser imposto.
O paulatino desmantelamento do Estado Social terá de prosseguir em nome de uma vaga liberalização, da produtividade, da competitvidade, etc.. O código de trabalho terá de ser "reformado" para garantir a mobilidade e a flexibilidade do mercado laboral e incentivar o investimento externo [na prática o agravamento do desemprego] e, culminará com a privatização – através de contratualizações, parcerias, etc. - de sectores fundamentais da Educação, da Saúde, da Segurança Social visando “reformar” sistemas universais de um modelo social que, nem sendo um “pecadilho” português, é [foi?] património político e social da Europa. Começou, noutros tempos [em 1889], também em Berlim, pela mão de Otto von Bismarck, criando o “Seguro Social”…
Na verdade, neste dia 26 de Novembro de 2010, o neoliberalismo, escondido atrás dos “mercados”, ameaça a nossa identidade política, económica, financeira, social e cultural.
Mas, nem tudo é um ruir de esperanças. Os bancos – após o “resgate” - esperam ter possibilidades de financiar-se no exterior para “ajudar” a Economia portuguesa, entretanto, destroçada.
Para qualquer português de bom senso é fácil prever o que se segue: uma profunda convulsão social cuja dimensão e contornos são imprevisíveis.
Até lá, veremos o sistema político nacional ser duramente testado. E a dúvida permanecerá: conseguiremos, afundados na miséria, na pobreza e na fome, "salvar" a Democracia, a UE, o Euro?
Ou vamos passar, como fizemos várias vezes na nossa História, por mais um "sacrifício" inglório?
Na verdade, neste dia 26 de Novembro de 2010, o neoliberalismo, escondido atrás dos “mercados”, ameaça a nossa identidade política, económica, financeira, social e cultural.
Mas, nem tudo é um ruir de esperanças. Os bancos – após o “resgate” - esperam ter possibilidades de financiar-se no exterior para “ajudar” a Economia portuguesa, entretanto, destroçada.
Para qualquer português de bom senso é fácil prever o que se segue: uma profunda convulsão social cuja dimensão e contornos são imprevisíveis.
Até lá, veremos o sistema político nacional ser duramente testado. E a dúvida permanecerá: conseguiremos, afundados na miséria, na pobreza e na fome, "salvar" a Democracia, a UE, o Euro?
Ou vamos passar, como fizemos várias vezes na nossa História, por mais um "sacrifício" inglório?
Adenda: Gostaria de nunca ter escrito um texto tão pessimista e derrotista. Mas não resisti!
Comentários
[Declarações feitas sobre o conteúdo do artigo publicado na edição de hoje do Financial Times Deustchland]
Manda o rigor e a objectividade que coloque na caixa de comentários este desmentido formal...
Todavia, gostaria de o ter ouvido da boca de Wolfgang Schauble [Ministro das Finanças alemão] ao fim e ao cabo quem despoletou este desassossego nacional.
Recordo que o “processo irlandês” de ajuda internacional começou de modo semelhante. Na prática, os últimos a saberem devem ter sido os irlandeses…