LISBOA, 19 e 20 de Novembro de 2010...
Barack Obama escreve um artigo de opinião na edição de hoje do The New York Times sob o título:
“Europe and America, Aligned for the Future". nytimes
Trata-se de uma reflexão sobre a próxima Cimeira da NATO em Lisboa.
Significativo é o remate desse artigo. Assim:
“…O mundo mudou e a nossa aliança também, e o resultado é estarmos mais fortes, mais seguros e prósperos.
Essa é a nossa tarefa, em Lisboa - revitalizar mais uma vez a nossa aliança e garantir a nossa segurança e prosperidade para as próximas décadas…”
[tradução livre]
Aparentemente, Obama aparece como um homem distraído em relação à profunda crise que o dito Ocidente atravessa. Mas quando fala em revitalizar terá a noção de que algo está a morrer.
A cimeira de Lisboa pode ser o indício do esboroar da civilização ocidental sob as ruínas de uma Economia em franca decadência. E para nós, o fim de uma Europa, enquanto entidade política comunitária [federada?], dotada de uma força [poder] militar autónoma. Uma Europa com muito passado e pouco futuro.
Desde a era Bush que não estamos mais seguros e nos últimos anos vivemos uma profunda crise economico-financeira - e também militar - que destroçou todas as veleidades acerca de uma futura prosperidade.
Há 60 anos o "Ocidente" elaborou este Tratado, porque o Mundo mudou no pós-II Guerra Mundial. Nunca foi um plano de futuro para o "Ocidente", mas uma coligação [circunstancial]contra o "Leste" [da Europa].
Entretanto, o Mundo voltou a mudar [o Oriente emerge sob o manto da globalização!], mas não tivemos a ousadia nem a audácia de acompanhar a mudança. A estagnação vai trazer-nos, como sucedeu a todas as civilizações, um inevitável período de decadência.
Assim, a Cimeira da NATO em Lisboa, será um dos muitos marcos desse - já indisfarçável - declínio.
Comentários
Concordo com o essencial do seu post, mas não sou tão pessimista quanto ao futuro. É certo que a civilização "ocidental" - a mim interessa-me sobretudo a europeia -atravessa grave crise.
Mas penso que conseguiremos "dar a volta por cima". Precisamos de mais Europa e de melhor Europa.
Precisamos de mais "patriotismo europeu"! Precisamos sobretudo de não cair nesse vício europeu de nos auto-flagelar. Uma das grandes virtudes - e da força - da civilização europeia consiste na nossa capacidade de auto-crítica, de nos pormos constantemente em causa. Mas não podemos levá-la ao ponto de nos autodestruirmos!
Para mim há duas entidades em construção sobre as quais deposito grande esperança. A 1ª é a ONU -organização ainda muito incipiente (só tem 65 anos, o que relativamente ao tempo histórico, é muito pouco) - mas que terá de desenvolver-se de modo a introduzir alguma ordem e paz no mundo. Se o mundo precisa de uma "polícia", essa deve ser a ONU, e não os americanos nem a Nato.
A 2ª é a União Europeia, também ainda historicamente muito jovem, mas que temos de desenvolver, inclusivamente no aspecto de um sistema de defesa independente.
Agora, enquanto essas duas entidades não "crescerem", temos de nos contar com esse mal necessário que é a NATO...
A minha dúvida - e daí a minha visão pessimista! - é se as "novas estratégias" que a NATO pretende chamar a si, não adiam [definitivamente] a Europa. Aquela Europa sonhada nos anos 70 e que - no campo das ideias, dos conceitos, da poética, da história, da filosofia, da literatura, etc. - foi burilada, em Portugal, por Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Adolfo Casais Monteiro, Agostinho da Silva, entre outros.
Que viam a história do espírito europeu como uma constante do ideário nacional que remontava para os alvores do Renascimento.
Oliveira Martins referindo-se ao "Ocidente", escrevia: "o mundo europeu a que pertencemos"...
É algo deste ideário que uma Cimeira como a de Lisboa torna agonizante sob os "pragmatismos estratégicos" dos tecnocratas da Defesa, da Segurança, da Indústria do Armamento...
Enfim, um Mundo - uma civilização? - que ameaça desabar, se...