Até ver, mais uma pública "calinada"...

O imbróglio laboral e social em que a Administração Pública [através das administrações de empresas públicas] está envolvida com o despedimento de trabalhadores da Groundforce, em Faro, mostra a displicência como se gere a coisa pública em Portugal.
Na verdade, todos estes procedimentos parecem envoltos numa densa neblina sendo parcial [e necessariamente incompleta] a sua cabal compreensão.

De facto, no sector público a duplicação [multiplicação] de empresas, para além do aumento de custos [as empresas públicas de handling são ambas deficitárias] gera mecanismos de concorrência que servem acima de tudo um objectivo mercantilista: a sua futura privatização.
Será, em parte, isso que se passa no presente conflito laboral. A empresa Groundforce [ligada à TAP embora para iludir a AdC seja administrada Europartners] e a empresa Portway – ligada à ANA – disputam o mesmo sector de mercado, nos mesmos restritos nichos [aeroportos comerciais internacionais em Portugal].
Ambas as empresas públicas [ANA e TAP] estão destinadas à privatização. Ambas são directa ou indirectamente controladas pelo Estado.

O momento mágico em que este imbróglio poderia encontrar uma solução – supõe-se que fora do âmbito da Administração Pública - seria a construção do novo Aeroporto de Lisboa. Como sabemos adiado para as calendas gregas em consequência da crise e da decorrente contracção do investimento público.
Até lá, simulações várias, contemporizações e engenharias gestionárias [como é o caso da intromissão da Europartners] foram ensaiadas com vista a uma artificial valorização das duas empresas de handling visando maximizar os futuros valores de transacções [privatização] a efectuar no mercado [que, como é óbvio, conhece o “sistema”]…

Há quantos anos as duas empresas [Grounforce e Portway] – ambas deficitárias - entretêm-se a concorrer entre elas, sobrecarregando o erário público, acumulando défices neste sector?

O Ministério dos Transportes e Comunicações supervisiona o quê?

Todo este processo [concorrência viciada, permanência no terreno de 2 empresas deficitárias, etc] decorreu na mais olímpica complacência do Instituto Nacional da Aviação Civil [INAC], orgão regulador deste sector.
Este é mais um lamentável caso em que a regulação dos mercados fracassa e esse facto ocasiona mais desemprego e, finalmente, repercute-se no bolso dos contribuintes.
Os cidadãos começam a perder a pachorra de andar a pagar os erros ou as omissões dos orgãos de regulação do mercados.
E, claro está, os cerca de 300 trabalhadores da Groundforce ameaçados pelo despedimento, muito menos, paciência terão!

Já conhecemos de ante-mão o desfecho. O Governo dirá que quer a TAP, quer a ANA, têm inteira autonomia de gestão. Dirá mais, que não tem nada a ver com a administração e destão da Groundforce...

Este ”lavar de mãos” já foi chão que deu uvas. Hoje, dificilmente o Estado consegue iludir a má [e sumptuária] gestão da coisa pública. O escrutínio é muito apertado.
Nas múltiplas tertúlias nacionais [cafés, associações, clubes, etc.] será raivosamente relembrado [e repetido à saciedade] que o presidente da TAP aufere um vencimento base de 30 000 euros/mês [fora as alcavalas] e, mesmo assim, deixa as coisas chegarem a este ponto.

Mais tarde, aparecerá algum burocrata de serviço do Ministério das Obras Públicas e Comunicações a dar explicações técnicas que ninguém entende, nem sequer tem disposição para ouvir.

Na verdade, vivemos num País que todos os dias perde um quinhão da sua já reduzida confiança... Nada consegue inverter esta tendência.

Comentários

MEDRA PROL disse…
http://dedosnasferidas.blogspot.com/2010/11/groundforce-na-escala-de-faro.html

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