Abraham Serfaty [1926-2010]

De regreso do exílio, com a sua esposa, no jardim de um hotel em Rabat


Abraham Serfaty, morreu. Foi uma figura relevante na luta pela independência de Marrocos.

Mais tarde, conquistada a independência, tornou-se num dos mais respeitados símbolos da oposição à dinastia alaouita que reina em Marrocos desde 1957.

Militou no movimento comunista marroquino e mais tarde viria a fundar o seu próprio movimento Ilal Amam ["Para a Frente", em português] que sofre fortes influências maoístas.

Preso em 1974 – no reinado de Hassan II - foi barbaramente torturado e condenado à prisão perpétua. Permaneceu 15 anos em reclusão...
Libertado em 1991, sob intensa pressão internacional, é expulso de Marrocos e perde a sua nacionalidade [sob o pretexto de que seu pai seria brasileiro], exilando-se em Paris.

É um fascinante lutador por causas. Tornou-se num dos mais conhecidos prisioneiros marroquinos. De origem judaica [como o seu nome sugere] torna-se anti-sionista e um militante da causa palestina.
Foi, também, um indefectível apoiante da luta do povo saharaui contra a anexação marroquina.
Todavia, a sua grande luta - que manteve acesa até ao final da vida - foi pela democratização de Marrocos.

Escrevendo em 1992 sobre a alienação e as características do regime político marroquino sublinhou que este é um encontro de ambições expansionistas de oligarquias tribais [de que o ramo alaouita é parte] e os grandes interesses comerciais empenhados no controlo das rotas trans-saharianas que drenam [drenaram] matérias primas [entre elas o ouro] da África sub sahariana para o Mediterrâneo.
Uma brilhante explicação para o conflito do Sahara Ocidental [território rico em fosfatos].

Em França lecciona no departamento de ciências políticas [é de formação académica engenheiro de minas] da Universidade de Paris-VIII, subordinando a sua actividade lectiva a um actual e pertinente tema: "identidade e da democracia no mundo árabe".

Regressado do exílio e tendo readquirindo a nacionalidade marroquina [Set. 1999], bastante debilitado fisicamente, [ver foto] fixa residência na periferia de Casabranca. Em 2000 solicita, publicamente, a demissão do 1º. Ministro de Marrocos Youssoufi, socialista, seu amigo e confidente, como sinal de protesto contra os ataques à liberdade de expressão que levaram à destruição e ao silenciamento - por todo o reino - de jornais e revistas independentes.

Morreu em Marraquexe [a “cidade vermelha”]… numa altura em que se [re]acende o conflito no Sahara Ocidental. E a monarquia alaouita, embora nominalmente constitucional, reprime autoritariamente o povo berbere e sahraoui.

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