Momento de poesia


Dissertação sobre o Flamenco...

Queimo os olhos no fogo purificador da dança que te envolve,
os poros iluminados da tua pele filtram o veludo da música
que desliza pelo teu corpo ágil, com movimentos geométricos
de linhas firmes,
a repercutirem-se nas ondulações suaves da curva do teu ventre.
Acerto-me pelos teus passos e pelas transcendências metálicas
das cordas da guitarra, no sapateado frenético sobre as tábuas,
e é aí que exalas todos os odores que eu guardo na memória dos
olfactos, para que nas noites quentes das tuas ausências eu não
os esqueça.
Todas as danças trazem a ancestralidade dos desejos, preâmbulos
lúdicos que rebentam os diques de todas rebeldias heterodoxas
dos corpos tensos e o fogo volta a acender-se nos teus olhos,
no êxtase de todos os movimentos inventados, no momento
da  apoteose da tua dança.

Alexandre de Castro

Lisboa, Novembro de 2010


Nota: Poema escrito a propósito da elevação do “Flamenco” a património imaterial da Humanidade, por decisão da UNESCO.

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