As mais recentes tropelias da Moody`s ...

A agência de rating Moody's baixou hoje a nota de risco de incumprimento da dívida da Grécia em três níveis, de Ba1 para B1, e alertou para que a pode baixar ainda mais dada a situação económica do país e o risco de incumprimento após 2013... link
O Ministério das Finanças grego reagiu a esta notação acusando a agência de notação financeira de “centrar a sua análise nos riscos negativos”. Como órgão governamental o Ministério das Finanças grego não pode ir mais longe mas, verdade seja dita, a actual atitude da Moody’s é altamente reveladora de que esta agência está ligada a obscuros interesses financeiros que são incompatíveis com um exercício isento de notações que incidem sobre empresas e Países, facto que não é só evidente na Europa. link

Hipocritamente, a Moody’s, não se exime de, ao colocar a Grécia numa situação delicada [quanto ao financiamento da sua Economia], salientar os “significativos progressos” feitos na aplicação da consolidação orçamental e do programa de reformas estruturais, parecendo que a nova classificação fica a dever-se a insondáveis desígnios do mercado, ou mais explicitamente, a ocultos interesses especulativos.
Esta "jogada de antecipação” da Moody's questiona a utilidade da intervenção dos Fundos Europeus e do FMI, para os Países que já contam com esse auxílio e, naturalmente, inibe os Países que venham a necessitar de próximas intervenções [caso sejam necessárias]. Vem mostrar a fragilidade de soluções pontuais que, obviamente, desguarnecem o todo [o próximo alvo - a Zona Euro].
Questiona, ainda, o modelo de resposta primária à crise: estabilização orçamental e controlo da dívida. Estes dois parâmetros por sua vez condicionam o crescimento económico e induzem períodos recessivos na Economia. Satisfeitos esses dois primeiros requisitos, aparecem novamente as agências de notação a valorizar o terceiro parâmetro: a taxa de crescimento económico. Como se fosse possível acudir - ao mesmo tempo - a todos os "fogos". Ao fim e ao cabo caímos naquilo que pode ser definido como uma “pescadinha de rabo na boca”
Ou, então, num novo “suplício de Tântalo”, onde, a situação criada pode ser traduzida pela expressão popular de: "tão perto e, ainda assim, tão longe"...
Será por essa razão que o novo governo irlandês [de Centro-Direita] saído de recentes eleições provocadas pela crise orçamental e da dívida externa pretende, desde já, renegociar o auxílio que foi solicitado à UE e ao FMI. Pode ser que a mudança de espectro político traga alguma novidade. Na realidade, os Países europeus neste momento debaixo de fogo têm por coincidência – governos socialistas ou de Centro-Esquerda [Espanha, Portugal, Grécia e a Irlanda].
A recente notação da Moody’s é, para além disso, um alerta [uma intromissão] em relação à agenda do próximo Conselho Europeu. Na verdade, no seio dos países que integram a Zona Euro, vivem-se momentos de grande tensão em relação aos próximos Conselhos Europeus. A contínua degradação das notações dos Países que se encontram em dificuldades revela que algo estará errado nas medidas imediatistas de combate à crise e, mais longe, na estratégia de defesa do euro. Esta notória e cada vez mais visível tendência das agências de rating para interferirem - de modo pouco transparente e carregado de conflitos de interesses - na regulação dos mercados [que preferem agir “livremente”] e a mera constatação de que [essas agências] têm clientes [cujos interesses não podem deixar de defender] levou que um grupo de advogados lhes tenha movido um processo nas instâncias judiciais espanholas. link

A sensação que todo este escabroso emaranhado financeiro transmite ao cidadão europeu [especialmente os residentes nos países em profunda crise] é que ou, no próximo Conselho Europeu, a UE resolve frontalmente enfrentar o dito mercado ou, daqui para a frente, esses países serão devorados pelo mesmo.
Não parece haver espaço para mais contemporizações, hesitações, adiamentos ou postergações. Na realidade, estamos encostados à parede. Todos: desde os paises periféricos [os "achincalhados" PIGS's] às "locomotivas" da Europa Central. A notação da Moody’s à Grécia deverá funcionar como uma importante motivação para a UE agir já e decididamente.

É que, em 2011, na Grécia, não se jogam questões relativas à dracma. Joga-se o futuro de milhões de europeus [não só dos gregos…] num horizonte político, económico e financeiro sobre o qual a Moody’s parece querer - à revelia das instituições democráticas - interferir [em nome da defesa do livre funcionamento dos mercados].
O que não sendo inédito atingiu, neste momento de dramática austeridade e elevada tensão social, o estatuto de uma atitude intolerável. E o intolerável deve ser repelido!

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