Um PR saudosista da guerra colonial


Na evocação do 50.º aniversário do começo da guerra colonial foi penoso ouvir o PR a solidarizar-se com a política salazarista e a usar a terminologia fascista da época: guerra do Ultramar.

Nem a condenação da ditadura, que lançou o país numa guerra injusta e criminosa, nem uma palavra para a violência com que se reprimiram os movimentos de libertação dos povos amigos dos PALOP, nem um tremor, na voz, com a lembrança do massacre de   Wiriamu, nem a recordação das torturas a que foram sujeitos os combatentes do MPLA, FRELIMO e PAIGC, pela PIDE, Administração colonial e no Campo de S. Nicolau em Angola. Nada. As palavras de Cavaco Silva podiam ter sido ditas por Salazar.

Quem esteve colocado num quartel-general, por cunha ou protecção divina, não pode saber o que se passou na zona de guerra e o carácter sangrento que deliberadamente ignora para exaltar os feitos dos «jovens que assumiram a sua participação na guerra do Ultramar» em vez de se referir aos jovens (os mesmos) que foram vítimas da ditadura e da guerra colonial.  

Depois do discurso de posse deste segundo mandato, na linha da homilia rancorosa que usou no discurso de vitória, o Presidente, que se afirma de todos os portugueses, optou por tomar partido pelas forças mais reaccionárias e saudosistas do espectro político.

Para além de não se julgar com a obrigação de esclarecer o caso das escutas do primeiro mandato, de se recusar a esclarecer os nebulosos negócios das acções da SLN e as permutas de terrenos com uma vivenda na praia da Coelha, o cidadão Aníbal Cavaco Silva escolheu ostracizar metade dos portugueses.

Salvo o respeito que é devido ao Presidente da República, Cavaco encontrará metade dos portugueses que contarão os dias que ainda faltam para acabar o mandato que todos gostaríamos que exercesse com dignidade.

Comentários

ana disse…
"Cavaco encontrará metade dos portugueses que contarão os dias que ainda faltam para acabar o mandato"

Presente!

ana
septuagenário disse…
Até que enfim, um presidente honra a memoria de uma geração sacrificada que lutou contra uns ventos da história que não eram benéficos para ninguem.

Até aqui só era lembrada a geração que foi alem-pirineus e regressou em força e alguns deles deixaram este país atarantado até hoje.

Ainda hoje o país anda em clinicas de tratamento, principalmente em Berlim.
e-pá! disse…
O PR não elogiou os "antigos combatentes"...

Transmitiu uma interpretação enviada do sacrifício que a "tal geração de 60" foi compelida a participar, mobilizando-a, contra os ventos da História, para uma guerra colonial...sem futuro, nem glória.

Todas as guerras são desastrosas. E a guerra colonial portuguesa é um período negro da nossa História que, no futuro, será julgado impiedosamente. Estivemos, nessa guerra, completamente isolados do Mundo, por alguma razão...
Ninguém (desses jovens) partiu para as ex-colónias africanas motivado ou com entusiasmo. Todos, ou quase todos, contrariados...alguns, politicamente mais informados, revoltados.
Mais uma vez, o que se verificou foi que um governo (no caso vertente do Estado Novo) usou e abusou dos jovens...

A guerra colonial foi um violento traumatismo (político e social)cujas sequelas ainda perduram. Evocações oportunistas - como a feita pelo PR - não ajudam a sarar essas feridas...nem contribuem para uma visão pedagógica e política da "aventura" passadista e retrógada que foi a essa nefasta guerra colonial.
Foi - passadas quase 4 décadas - a típica "visão do ar condicionado" como diziam aqueles (jovens) que, na altura - estavam destacados no teatro de operações militares.
e-pá! disse…
Errata:

Onde se lê:
"Transmitiu uma interpretação enviada do sacrifício que a "tal geração de 60" foi compelida a participar, mobilizando-a, contra os ventos da História, para uma guerra colonial...sem futuro, nem glória."

Deverá ler-se:
Transmitiu uma interpretação enviesada do sacrifício que a "tal geração de 60" foi compelida a participar, mobilizando-a, contra os ventos da História, para uma guerra colonial...sem futuro, nem glória.

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