LÍBIA: CS/ONU vota medidas de exclusão aérea...
Esta resolução vai determinar que, dentro de poucas horas, uma coligação de forças mandatada pela ONU começará a atacar preventivamente as defesas aéreas líbias, tentando evitar a queda de Benghazi para as forças de Kadafi.
O prolongamento da "guerra civil" [ou o início de uma "guerra tribal"] parece inevitável. Como provável pode vir a ser a hipótese de uma eventual escalada bélica das forças de intervenção internacionais neste País...
O velho aforismo sobre os conflitos armados aplica-se aqui: sabe-se quando começa uma guerra, ninguém sabe como (nem quando) termina…
Pelo que, a par de um conflito militar eminente, é imperioso que a ONU desenvolva, desde já, intensos esforços diplomáticos que possam travar as constantes e exponenciais perdas de vidas na população civil ... e controlar o impressionante e gigantesco drama humanitário que, ao longo de 1 mês, se foi instalando e avolumando, na Líbia e nos países limítrofes.
Nas próximas horas o Mediterrâneo vai viver momentos de grande tensão [e confusão] política e militar...
Comentários
meses
O nosso Sócrates e o Amado como teem negócios com Kadafy estão em posição priveligiada para negociações.
Com a experiência militar que já temos com o Afeganistão e Bósnia podemos encabeçar as forças internacionais.
O ministro da Defesa já adiantou a disponibilidade para participar.
E andámos nos naquelas terras africanas,selvagens e estranhas, há 37 anos, naquela guerra retrógada que não nos dizia nada.
Existe internacionalmente a sensação de que uma intervenção militar no terreno teria efeitos contraproducentes.
Nesse sentido, as acções bélicas contra o poderio militar do regime de Kadafi pretendem ser cirúrgicas utilizando meios áereos sofisticados.
Portugal não dispões de meios adequados para participar. O melhor é ficarmos quietos...
O imperialismo dos pequeninos, mete nojo!
Tanta ignorância assim só pode fazer mal ao Mundo.
Se querem Paz, façam por ela e não se deixem levar pela propaganda do inimigo abusador, seja a ONU, seja lá quem for que nos quer meter a todos no funil para a desgraça.
Estudem os mapas, as vistas satélite da Líbia, comparem as escalas, onde está Tripolí e onde fica Bengazi.
E o livro - Livro Verde.
Ambas tẽm largo apoio popular e ambas se querem aniquilar.
Pelo menos do lado de Kadafi o regime é ditatorial mas, do lado da rebelião, a vontade de se impor pelas armas não é bom sinal.
Parece-me que, neste caso, a luta pela democracia significa que tem que se chegar a um impasse militar que obrigue à negociação e à tolerância mútua.
Nesse sentido, a resolução da ONU ajuda bastante: sem ela haveria um massacre da rebelião.
Não se pode ser contra a guerra em absoluto!
Nota: Quem fala de guerra tribal está a ver muito mal o filme; aconselho mais leituras sobre o país!
Sobre a eventualidade de futuros conflitos tribais sugeria a leitura de um artigo intitulado "As Venenosas Divisões Tribais da Líbia são maiores do que Kadafi", escrito por Mustafa Fetouri (académico e analista em Tripoli) link
A existência dum poder tradicional tribal não significa qualquer alinhamento tribal com as forças em confronto.
Não parece haver nenhum indício nesse sentido no caso Líbio.
Pode apontar algum facto?
Vou tentar sumarizar alguns factos que considero relevantes no actual conflito.
As tribos que hoje existem na Líbia são uma herança histórica que persiste no tempo [pelo menos desde o século VII, d.C.].
No Norte do País [bordadura mediterrânica], a região da Tripolitânia foi sucessivamente ocupada pelos fenícios, cartagineses, romanos, vândalos, otomanos, árabes e novamente pelos otomanos. No início do séc. XX – depois da derrota dos otomanos – foi colonizada pela Itália.
A Cerenaica, a Leste, teve outro percurso. Embora inicialmente também ocupada por fenícios nunca teve influência dos cartagineses e vândalos. Foi desde muito cedo colonizada pelos gregos e só depois pelos romanos, árabes e otomanos e, finalmente, a Itália.
A Tripolitânia nunca teve ligada à Cirenaica, excepto sob o domínio otomano. Foram duas realidades diferentes. A Itália que reuniu as 3 regiões – Tripolitânia, Cerenaica e Fezzan [a sudoeste em pleno deserto do Sahara] denominou esta colónia de Líbia. Com a derrota na II Guerra Mundial a Itália perdeu este domínio colonial que, transitoriamente, passou para a coligação anglofrancesa, tendo em 1951 obtido a independência sob a forma de monarquia com as fronteiras coloniais.
Esta é a história dos territórios. A história dos povos está extremamente ligada às invasões árabes [séculos VII ao X] que constituem a espinha dorsal sócio cultural e religiosa do actual povo líbio.
Existem cerca de 140 tribos, quase todas de origem árabe, excepto o povo de Fezzan – provavelmente o originário da Líbia – que é berbere.
A Cirenaica foi o suporte político da monarquia líbia derrubada em 1969 por Kadafi, originário de uma tribo da Tripolitânia – a Gaddafi.
A grande tribo líbia é a Werfalla [> 1 milhão de líbios] que habitam a Cirenaica tendo por grande centro urbano Misrata. Nunca aceitou o derruba da monarquia. Em 1993 tentam sem êxito um golpe de Estado contra Kadafi. A partir daí passam a proscritos. A segunda maior tribo líbia é a Misrata que se estabeleceram em Benghazi – centro da revolta contra o coronel. Finalmente, também, da Cirenaica é a tribo Zuwwaya que habitam na área petrolífera e, no desenrolar do conflito, opõem-se a Kadafi.
As outras principais tribos Taruna, Zentan, etc. habitam na Tripolitânia e apoiam Kadafi.
Um outra tribo – os Margaha – agrupada na Tripolitânia, apoiava Kadafi, mas “romperam” esta aliança no fim dos anos 1980. Em 1993 ao apoiarem a tentativa de golpe dos Werfalla também são excluídos da actividade política e económica e, no presente, é uma das poucas tribos da Tripolitânia que aderiram aos revoltosos.
Os berberes [e tuaregues] do Fezzan mantêm um discreto apoio a Kadafi, não se envolvendo na revolta, mas serão os fornecedores de mercenários africanos para combaterem ao lado do regime de Tripoli, recrutados nos países limítrofes [África sub-sahariana].
Quando se sobrepõe este “mapa tribal” ao “mapa da revolta” é mais fácil compreender o conflito líbio. E num Estado sem estruturas políticas e administrativas centrais é aceitável interrogar-nos sobre um eventual [e complexo] conflito tribal e, até, a uma possível desagregação da Líbia…